Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2025
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png
dolar R$ 6,00
euro R$ 6,27
libra R$ 6,27

00:00:00

image
facebook001.png instagram001.png twitter001.png youtube001.png whatsapp001.png

00:00:00

image
dolar R$ 6,00
euro R$ 6,27
libra R$ 6,27

Artigos Domingo, 16 de Março de 2014, 07:33 - A | A

facebook instagram twitter youtube whatsapp

Domingo, 16 de Março de 2014, 07h:33 - A | A

A lógica perversa do vestibular

RENATA CABRERA





O debate a respeito do ingresso dos jovens nas Instituições de Ensino Superior (IES) permeia a sociedade. Esta acompanha, ora com mais intensidade, ora com menos, as mudanças que são feitas nos vestibulares, a discussão sobre as cotas e a luta quase desumana que se dá entre os donos de escolas privadas na tentativa de mostrar quem tem melhor produto à venda.

O universo da academia se detém, dentre outros temas, sobre os impactos das políticas educacionais que regulamentam a forma de ingresso, sobre a natureza das provas e conteúdos abordados, sobre o perfil dos ingressantes e o seu desempenho durante o curso.

Embora haja tímida discussão a respeito da lógica excludente que está por trás dos exames para ingressos nas IES, pouco se tem refletido sobre a relação entre o contingente de jovens que anseiam por uma vaga e a quantidade de vagas existentes. Dados do MEC apontam que no Sistema de Seleção Unificada (SISU) de 2014, 1.443.012 estudantes disputaram as 171.401 vagas disponíveis em universidades públicas. Ou seja, esse número atende apenas a 11,87% da demanda de inscritos.

Dentre os 88% de candidatos que não conseguiram êxito no ingresso, uma parcela preencherá as vagas nas instituições privadas de ensino superior; outra parte incrementará os bancos de cursinhos e é possível que muitos, após um ou mais anos de insistência, desistirão do curso superior.

A discussão sobre o vestibular como instrumento de seleção social não é novidade, mas a mesma não está inserida no centro do debate – não há vagas para todos! E quem tem maiores chances de êxito no ingresso são aqueles poucos que possuem maior renda familiar e estudaram em escolas privadas - é o que evidencia o relatório sobre o ENEM. (INEP, 2009).

Os dados desse relatório desnudam a situação caótica na qual está imersa a Educação Básica brasileira. No documento é possível verificar que esta não tem cumprido o seu papel de propiciar aos jovens o aprendizado dos conhecimentos científicos e culturais. A média das notas da parte objetiva da prova não atingiu em nenhum dos segmentos apresentados a escala de notas de 70 a 100 pontos, que é o resultado “Bom a excelente” na escala de referência do INEP.

Os quadros na sequência trazem um resumo das médias de notas da parte objetiva da prova do ENEM, considerando as variáveis socioeconômicas:

Escola
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Escola Pública

30,39

44,79

40,31

36,6

34,9

49,2

39,6

Escola Privada

47,22

64,21

61,82

56,0

50,6

68,0

56,9


Renda familiar

2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Até 1 salário mínimo

26,01

37,85

34,08

31,5

31,1

43,0

34,3

De 2 a 5 salários

32,34

49,07

44,36

40,8

38,7

54,4

44,7

De 5 a 10 salários

38,15

56,37

52,03

48,5

45,0

62,1

52,6

De 10 a 30 salários

62,3

64,4

62,3

64,9

60,1

62,7

66,1

De 30 a 50 salários

64,5

66,4

65,2

66,5

61,1

63,8

67,1

Mais de 50 salários

52,67

68,47

65,23

61,4

54,3

69,4

59,8

       Fonte: MEC/INEP, 2009 – Escala de referência – 0 a 100 pontos

Como pode ser observado, a situação é mais drástica entre os estudantes de escolas públicas e os que possuem menor renda familiar. A diferença em relação aos demais segmentos se aproxima dos 20 pontos.

Essa lógica perversa de exclusão social, reproduzida no nosso sistema educacional, acaba ainda por imputar ao excluído a culpa pelo não sucesso no ingresso. A falta de êxito não é do sistema educacional que não disponibiliza vagas para todos os que desejam, não é das escolas, sejam elas públicas ou privadas, que não proporcionam apreensão crítica dos saberes escolares, mas sim do aluno que em muitos casos é visto como fracassado.

Por outro lado, as escolas privadas estampam a lista dos seus vitoriosos, por meio de marketing cada vez mais “selvagem”, como os melhores, campeões, reforçando a lógica da competição e da centralidade no indivíduo. Essa propaganda da eficiência das escolas privadas é facilmente desmontada se fizermos o simples cálculo da relação entre o número de alunos matriculados e o número de aprovados, os resultados são pífios. Que sucesso é esse, por exemplo, que teria uma escola que, hipoteticamente, com 300 alunos matriculados almejando o curso de medicina aprova somente 10?

Infelizmente esses dados que estampam o caos da educação brasileira têm alimentado pouca reflexão. A Educação Básica precisa ser mais que simplesmente o período de preparo para o ingresso em uma universidade. Isso deve ser a decorrência do trabalho desenvolvido. Enquanto continuarmos a considerar natural esse imenso contingente de jovens que são excluídos do sistema educacional, a cada ano nos concursos vestibulares, esse ciclo perverso tende a se perpetuar.

*RENATA CABRERA é professora da Universidade Federal de Mato Grosso

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.

Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.

Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM  e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.

Comente esta notícia

Carlos Nunes 17/03/2014

Espero que o novo presidente da república a ser eleito, comece mudando a forma do vestibular para os profissionais da Saúde, principalmente os Médicos, Enfermeiros, Dentistas, etc., da seguinte forma: 1) todos os cursos nessas áreas devem ser 100% gratuítos, incluindo todo material (livros, etc) - e o estudante quando formar pagaria o custo do curso com meio expediente no SUS, por tempo suficiente que cubra o custo total do curso; 2) a partir do final do 2º Grau já seria feito um teste vocacional, em todas as Escolas, para ver Quem Realmente tem Vocação para trabalhar na Área? Medicina é igual sacerdócio, tem que ter vocação. Acho que a médio prazo, cerca de 6 anos, já mudaria a capacidade dos recursos humanos na área. E a medida se estenderia também para cursos de especializações para os formandos em todas as áreas. Isso se a prioridade nacional for a Educação + a Saúde. Bem, a prioridade nacional da turma atual é...a Copa 2014 - o circo passageiro mais caro do mundo. Só com novo presidente mesmo.

positivo
0
negativo
0

1 comentários

Algo errado nesta matéria ?

Use este espaço apenas para a comunicação de erros