Desde o início de outubro, a bacharel em Direito Fernanda Costa Marques Portela trava uma batalha com a Unimed Cuiabá para garantir um direito básico ao filho: o acesso à saúde. Diagnosticado com síndrome de Down e Transtorno do Espectro Autista (TEA), Matheus Portela Oliveira, de 17 anos, está sem as terapias das quais precisa desde o fim de setembro. Mesmo com uma sentença que obrigada a Unimed a fornecer o tratamento adequado ao adolescente, Fernanda tem enfrentado o descaso da cooperativa. "Estão faltando com respeito com meu filho", lamentou.
Ainda na gravidez, ela descobriu que Matheus seria portador de síndrome de Down. A mãe imediatamente começou a estudar e garantiu ao filho todas as terapias necessárias na infância. Contudo, quando Matheus completou 10 anos, a família precisou aprender a lidar com um novo diagnóstico, o autismo. Foi então que os problemas com a Unimed começaram. Foram necessários três anos, de 2016 a 2019 e uma decisão liminar para que o menino começasse as novas terapias.
Em setembro deste ano, Matheus parou de apresentar progresso na clínica onde era atendido. A mãe tentou intermediar a situação, mas foi reiteradamente ignorada. Somente quando questionou se deveria retirar o filho do local, ela recebeu uma resposta: “sinta-se à vontade mãezinha”. Para Fernanda, nem mesmo as exclusões do passado lhe prepararam para a dor de ver seu filho rejeitado em um ambiente que deveria acolhe-lo. A partir daí, ela procurou a Unimed para realocar o adolescente. A primeira “solução” foi que Matheus fosse atendido num estabelecimento cujas terapias são voltadas para crianças de dois a 12 anos de idade. Ocorre que os métodos de tratamento para crianças e adolescentes diagnosticados com TEA são distintos.
Depois de procurar canais como o atendimento ao cliente e a ouvidoria, Fernanda chegou a ir pessoalmente à sede da Unimed, na Avenida Barão de Melgaço, em Cuiabá no dia 7 de dezembro para buscar respostas do setor jurídico. Mesmo com uma sentença que ratifica a liminar e obriga a Unimed a fornecer o tratamento, a bacharel em direito segue sem conseguir atendimento para o filho.
Em agosto, a juíza Sinii Savana Saboia Ribeiro determinou que a Unimed ofereça as terapias prescritas para Matheus. Preferencialmente, os atendimentos devem ser realizados na rede credenciada, mas nos casos em que não houverem profissionais capacitados disponíveis, a sentença respalda a família de que as terapias deverão ser custeadas pela cooperativa.
“Os outros acham que o filho da gente não vai crescer, que é só autista e síndrome de Down pequenininho. Falta capacitação dos profissionais? Falta. Mas eu não fico de braços cruzados porque é meu filho. Faz comigo, mas não faz com ele. Estou sem dormir e com pressão alta. Alguém tem que me ajudar, pelo amor de Deus! A dor de uma mãe não é brincadeira. Cadê o profissional? É meu filho, é minha vida. Estão faltando com respeito com ele”, desabafou a mãe durante atendimento com uma profissional que se apresentou como advogada da cooperativa.
Após duas horas de espera na sede da Unimed, a segunda “solução” foi que Fernanda encaminhasse a demanda novamente à ouvidoria. O retorno veio no mesmo dia: “Em resposta à vossa manifestação, informamos que a ouvidora não realiza esse tipo de tratativas”, diz trecho do e-mail recebido pela bacharel em direito. Na sexta-feira (15), Matheus deveria passar por uma avaliação numa nova clínica, mas a Unimed não liberou o atendimento.
Sem respostas e às vésperas do recesso de fim de ano, Fernanda vive a dor de saber que pode assistir seu filho retrocedendo nas "pequenas grandes" conquistas do dia a dia.
"Eu tenho que correr pelos direitos do meu filho. Vai entrar recesso e ninguém resolve nada. Para o Matheus, significa retroceder. Quem tem alguma deficiência, o cérebro precisa ser estimulado. O cognitivo dele não é bom. Sem a fono, o refluxo dele piora, tem exercícios que melhoram na mastigação, na deglutição e a gente só quer isso, que alguém nos ajude".
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