Venho por meio deste fazer uma reclamação: em que momento o profissional da comunicação virou um canivete suíço? Isso mesmo, multitarefa. Nós, enquanto profissionais da área, entendemos que é necessário se atualizar. Mas isso não significa que devamos suprir sozinhos a ausência de uma equipe de comunicação minimamente estruturada.
Virou rotina encontrar vagas para “assessor de comunicação” ou “assessor de imprensa” que exigem um combo interminável de habilidades: escreva texto jornalístico, tire foto, faça arte, edite vídeo, gerencie redes sociais, produza copy, acompanhe métricas, saiba tráfego, entenda de posicionamento digital… e a lista segue como se tudo isso fosse natural a um único profissional.
O problema é que nada parece ser suficiente. Muitos empregadores querem baratear o custo de manter uma equipe de comunicação que realmente funcione e, por isso, oferecem salários “relativamente altos” para que uma única pessoa assuma o trabalho de, no mínimo, cinco profissionais diferentes. Mesmo sabendo que é impossível dar conta de tudo, a cobrança é feita como se o profissional tivesse estrutura, tempo e equipe para entregar cada tarefa com excelência.
Agora eu pergunto: em que momento esse profissional consegue parar para traçar o perfil do seu assessorado e pensar estratégias reais de comunicação, se precisa estar o tempo inteiro executando funções operacionais que deveriam ser divididas entre várias pessoas?
Esse modelo de “comunicador-faz-tudo” está longe de ser inovação. Ele se aproxima, na verdade, de um fordismo da comunicação, em que se busca produtividade extrema por meio da fragmentação e sobreposição de tarefas. Só que, nesse caso, a linha de montagem é uma só: o próprio profissional.
E isso não é só percepção individual. Segundo o relatório da FENAJ sobre as condições de trabalho dos jornalistas no Brasil, publicado em 2023, quase 80% dos profissionais acumulam funções além daquelas previstas originalmente em seus cargos. Isso impacta diretamente a saúde mental, a qualidade das entregas e, principalmente, a valorização da profissão. O estudo também aponta que 45% dos jornalistas não recebem remuneração compatível com as múltiplas funções que exercem, evidenciando uma precarização generalizada que vem sendo normalizada.
A precarização da função do assessor é um tema urgente. Precisa ser debatido com seriedade. Comunicação não é improviso. Comunicação não é favor. Comunicação não é mágica. Cada profissional tem sua função, e tentar condensar tudo em uma única pessoa não é eficiência. É exploração.
Se você trabalha com comunicação e também se sente engolido por essa lógica perversa de fazer tudo ao mesmo tempo, essa conversa é com você. Precisamos falar mais sobre isso, trocar experiências, apoiar uns aos outros e, principalmente, exigir condições dignas para exercer um trabalho que, quando feito com estrutura, transforma realidades.
(*) NOELISA ANDREOLA é assessora de Comunicação da Secretaria de Fazenda de Mato Grosso, jornalista formada pela Universidade de Cuiabá (UNIC), com experiência em imprensa política e institucional.
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