Arquivo Pessoal |
![]() |
Quem é democrata por convicção sempre assume, em qualquer que seja a ocasião, a defesa da imprensa livre. Vê-se agora, um desejo maquiavélico de restringir a liberdade total da imprensa.
Felizmente em Cuiabá, desde que aqui cheguei, até hoje, que eu saiba, nunca foi tomada qualquer atitude das autoridades que viesse restringir o livre manejo dos que manipulam opiniões através da mídia falada ou escrita.
Gosto de escrever e divulgar o que escrevo. Se ainda fosse jovem, procuraria ser jornalista. Só que quando cheguei a Cuiabá, vinda de S. Paulo, ainda durante a segunda guerra mundial, a sensação foi de que me abriram um portal para a vida.
Alegria, encantamento, liberdade, tudo paradisíaco para uma jovem de 16 anos, reclusa pelo medo, pelos poucos recursos para alimentação de cada dia. Haja banana. Era de abaixo custo.
Banana faz crescer? Eta propaganda enganosa, nunca passei de 1,50m.
Na manhã que cheguei, o Porto, uma festa. Beleza, música, a Lancha e suas Chatas singrando 3 dias rio acima. Era Abril. Os passageiros, descendo, já mostrando a cordialidade peculiar, se abraçavam.
Lembro o carinhoso "seja feliz menina”, com aquela voz doce e sotaque bem italiano de D. Rosa Cândia. O aperto de mão e o abraço do amigo de viagem Moisés Nadaf, bem Jovem e de outros amigos mais. Um guri a gritar: "doce de cajú pra comê co janta. piché... piché...”
Senti que exalava um perfume que nunca tinha sentido na vida, doce, mais forte. “Era o ar da terra ou das casas cujas janelas e portas estavam abertas?”, indaguei.
É mate queimado com brasa viva e açúcar refinado em casa no tacho de cobre postado numa das bocas do fogão de lenha.
Primeira festa dias depois: residência da família HUGNEY. Dancei, bailei, quase me acabei!
Praça, coreto, rapazes, moças. Namorei! Amei! Casei! Continuei amando até que.. como disse o nosso Ribeirinho: “Deus quiz que assim sesse Por mais que nós se queresse, por mais que nós se gostasse!”
Eu e Garcia Neto formamos uma família bem cuiabana na mesa e na forma de viver. Filhos, cinco cuiabanos. Não posso deixar de falar em Dr. Antônio Epaminondas nosso amigo, homem culto, boníssimo se especializara em obstetrícia na França, mas voltara para Cuiabá. Com sua dedicação e competência muitos cuiabaninhos, na época, deviam suas vidas.
As famílias que nos acolheram eram tantas e a convivência foi tão grande que logo o entrosamento foi perfeito. O nosso reconhecimento ao acolhimento revelou-se no que Garcia Neto pode realizar e eu me esforcei para ajudá-lo com as pessoas que também se dedicaram a compartilhar das realizações.
Procurei colocar meu coração numa melodia desenvolvida pelos músicos e maestros da Universidade Eduardo e Fabrício e Chamada CIDADE VERDE. Essa música é interpretada por Vera Capilé que a enriquece com sua doce e maravilhosa voz.
Todas as pessoas têm suas histórias para contar. Li há pouco um texto de Eduardo Póvoas que me emocionou. Quem sempre escreve textos que me põem diante dos acontecimentos atuais é o Professor Joacy da Silva que, mesmo quando passa temporada nos EUA, não deixa que a distância o separe do Mato Grosso.
Aqueles que se formaram noutras cidades voltaram e é assim até hoje. Curtem a vivência da terra que amam e aqui exercem suas atividades profissionais. Nossa Universidade já é a grande possibilidade de evitar o sacrifício dos pais no encaminhamento dos filhos.
Meus, são 13netos, 15 bisnetos, alguns jovens, outros adolescentes outros na plena infância. Outros já estão quase no momento de abrir os olhos para o nosso céu, sempre, de um brilhante azul. Netos casados com filhos, quase todos.
Vendo meus netos passarem para as famílias que estão formando, o jeito cuiabano de ser e os valores morais cultivados, ainda sinto a satisfação de viver. O cuiabano tem um amor intrínseco, egoísta, por Mato Grosso, de tanto que sofreu ao ver seu Estado dividido.
Como nossa família sofreu!
Hoje, até os cuiabanos antigos sentem quase que uma libertação. Acham que Mato Grosso se desenvolveu depois da divisão. Meu marido refutava essa opinião. Sempre achou que Mato Grosso começou a crescer desde 1974, quando os nossos irmãos sulistas venderam os minifúndios e compraram extensões de terras no Norte do Estado.
Com o ‘know-how’ dos agricultores, se voltaram para venda de terras conhecidas como muito férteis. Ajudou muito a criação do plano do Presidente Geisel chamado Pro-Terra. As geadas no Sul brasileiro fizeram a grande migração sulista povoar as terras, que assim, tornaram-se cidades.
Continuando a relatar a forma de trazer para dentro de nossa casa conhecimento da cultura cuiabana, conto aqui o que fizemos uma noite. Pedimos ao nosso grande amigo Gentil Boussik que viesse acompanhado de seu violão cantar suas músicas que revelam a beleza do nosso Mato Grosso.
Nessa noite servimos o mate queimado na brasa, o bolo de arroz, francisquito, bolo de queijo e doces regionais. Os netos, ainda eram pequenos, se lembram bem da noite especial. Foi uma aula de cuiabanidade e de apologia ao nosso Mato Grosso.
Uma coisa puxa outra, e por falar em aula, como os professores se orgulhavam da profissão que exerciam. Era um sacerdócio exercido com satisfação e competência. Lembro-me das aulas de Cesário Neto, grande filósofo e filólogo. Uma vez, a respeito de algum fato que não me lembro, disse: "quando uma campainha toca, alguém a acionou". Célia, sua mulher, também grande professora, havia desenvolvido um método próprio de ensinar regência verbal. Hoje, guardando em pastas papéis escritos e manuscritos, deparei-me com uma frase escrita por ela num caderno meu e que aqui repasso:
"QUEM PUXA AOS SEUS NÃO DEGENERA A RAÇA"
Não fora a nossa imprensa, jamais poderia trazer um pouco do acontecido e do que acontece hoje. Pequenos textos que chamo: Conta- gotas! Faz-me bem à alma.
* MARIA LYGIA B. GARCIA é poetiza, escritora, ex-primeira-dama de Mato Grosso e de Cuiabá e escreve para HiperNotícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.