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Artigos Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2025, 08:51 - A | A

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Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2025, 08h:51 - A | A

VANESSA MARQUES

Tudo por atenção e visibilidade: mais cliques, menos autoridade

VANESSA MARQUES

A comunicação política vive hoje um conflito evidente. De um lado, a pressão constante por visibilidade nas mídias digitais. De outro, a dificuldade de manter coerência, identidade e autoridade. No meio desse caminho, muitos atores passaram do ponto e misturaram as coisas. Governar, comunicar e entreter passaram a ser tratados quase como a mesma atividade. O resultado não é inovação, é desgaste e, em vários casos, constrangimento.

Um exemplo recente desse processo foi o vídeo em que o governador de Minas Gerais aparece cantando, com estética típica de entretenimento digital, feito por inteligência artificial. Essa postagem não é um episódio isolado; ela se soma a uma sequência de publicações que seguem a mesma lógica de ruptura com o registro tradicional da política institucional, mas que passa do ponto em todos os sentidos ao tentar misturar política e entretenimento.

É essencial o uso de linguagem popular e a busca por chamar atenção e aproximação com o público. Contudo, isso não pode ser feito sem critério, sem estratégia. Quando toda ação é pensada para funcionar no feed, perde-se a noção de adequação ao cargo, à função e ao contexto. Um governador não é um criador de conteúdo, e as expectativas simbólicas associadas a esse papel são outras.

Esse episódio tampouco é isolado. Já houve o vídeo comendo banana com casaca, cenas do cotidiano excessivamente encenadas, humor fora de contexto e escolhas narrativas claramente orientadas à viralização e ao aumento de audiência.

A política sempre lidou com imagem e simbolismo; o que mudou foi a escala e a velocidade. Vivemos na chamada economia da atenção, em que ser visto parece mais importante do que ser compreendido. Nesse ambiente, muitos passaram a confundir engajamento com apoio e reação com legitimidade. A métrica substitui o sentido, o alcance vira objetivo e a estratégia se perde.

Essa dinâmica foi analisada por Guy Debord ao tratar da sociedade do espetáculo. Para ele, o espetáculo não aprofunda o debate; ele o empobrece. Não esclarece, distrai. Não constrói vínculo político; apenas captura atenção. Quando essa lógica é incorporada sem filtros à comunicação institucional, o efeito é corrosivo: a forma passa a valer mais do que o conteúdo, e a performance ocupa o lugar da responsabilidade pública.

No caso de Zema, a repetição desse tipo de registro gera um ruído difícil de ignorar. A comunicação provoca estranhamento, ironia e crítica, deslocando o debate das políticas públicas para a cena encenada. O público deixa de discutir decisões, resultados e prioridades e passa a comentar o vídeo, o exagero e a escolha estética. Com isso, a autoridade simbólica se enfraquece.

Há um erro estrutural nessa aposta. A política pode dialogar com o entretenimento, mas não pode se submeter a ele. Governar exige previsibilidade, seriedade e coerência. Quando a busca por visibilidade se transforma em um fim em si mesma, o custo aparece rapidamente, sob a forma de desgaste de imagem, perda de credibilidade e empobrecimento do debate público. Entre viralizar e sustentar autoridade, a diferença é estratégica, e ignorá-la tem preço.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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