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Artigos Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2025, 10:35 - A | A

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Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2025, 10h:35 - A | A

JOÃO EDISOM

Quando a ideologia não sabe ceder

“Não nos tornamos iluminados ao imaginar figuras de luz, mas ao tornar consciente a escuridão.” — Carl Gustav Jung

JOÃO EDISOM

Em uma cultura marcada pela obsessão pela vitória, pelo desempenho e pela acumulação, aprender a perder tornou-se quase um tabu. No entanto, tanto a filosofia quanto a psicologia nos ensinam que perder não é sinônimo de fracasso, mas condição essencial para o amadurecimento humano e para uma vida verdadeiramente plena.

A própria natureza oferece a mais didática das lições. A semente, para gerar vida, precisa perder sua forma original: rompe a casca, dissolve-se na terra e abdica daquilo que era para se transformar em algo maior. A planta que nasce cresce, mas também perde, folhas caem para que a flor surja. A flor, por sua vez, murcha e perde suas pétalas para que o fruto se forme. O fruto amadurece, se desfaz, e o que permanece são novas sementes, capazes de perpetuar o ciclo da vida. A vitória da criação não está na permanência, mas na transformação.

Na filosofia clássica, essa lógica aparece com clareza. Heráclito já afirmava que ninguém entra duas vezes no mesmo rio: viver é aceitar o fluxo, a mudança e a impermanência. No estoicismo, perder o controle sobre aquilo que não depende de nós é condição para alcançar a tranquilidade da alma. Não se trata de resignação passiva, mas de sabedoria prática: compreender que toda conquista exige renúncia, e todo crescimento implica alguma forma de perda.

A psicologia contemporânea confirma essa intuição ancestral. O amadurecimento emocional exige tolerância à frustração, capacidade de negociação e aceitação do contraditório. Pessoas que não sabem perder tendem a viver em estado permanente de ansiedade, ressentimento e agressividade. Ao contrário, quem aprende a lidar com limites e derrotas desenvolve resiliência, empatia e inteligência emocional, competências fundamentais para a vida em sociedade.

Quando esses conceitos são aplicados ao campo político, a dificuldade de “saber perder” torna-se ainda mais evidente. Parte do espectro que se autodenomina esquerda frequentemente demoniza o sucesso individual, como se toda realização pessoal fosse, por definição, fruto de exploração ou egoísmo. Já setores da chamada direita revelam profunda intolerância diante da felicidade de quem ganha menos, vive de maneira simples ou escolhe valores que não se traduzem em lucro e acumulação. Ambos os extremos parecem incapazes de aceitar o diferente, de negociar interesses e de reconhecer legitimidade no contraditório.

Essa incapacidade de perder, de ceder, de dialogar, de compartilhar, empobrece o debate público e compromete a própria democracia. A política, assim como a vida, não pode ser um jogo de soma zero, em que o ganho de um implica necessariamente a destruição do outro. Sem renúncia, não há pacto; sem perda, não há convivência.

O Natal, com seu simbolismo profundo, nos convida justamente a essa reflexão. Não se trata apenas de compartilhar recursos financeiros, mas de dividir algo ainda mais raro: gentileza, solidariedade e amor ao diferente. É um tempo que nos lembra que o sentido da existência não está em vencer sempre, mas em aprender, transformar-se e permitir que o outro também floresça.

Saber perder, afinal, é uma das formas mais elevadas de sabedoria. É aceitar que viver plenamente não é acumular vitórias, mas participar conscientemente do ciclo da vida onde perder, muitas vezes, é o primeiro passo para uma vitória maior e mais duradoura.

(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista político e professor universitário.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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