O ano de 2025 ficou marcado na história do futebol mato-grossense por um dos processos eleitorais mais longos e judicializados já registrados. A eleição para a presidência da Federação Mato-Grossense de Futebol (FMF), prevista para maio, só foi concluída em dezembro, após sete meses de impasses, intervenções judiciais e decisões que mantiveram a entidade em incerteza.
A trajetória, que mobilizou clubes, torcidas, o Ministério Público, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Poder Judiciário, começou muito antes da data original do pleito.
GRITO DAS ARQUIBANCADAS
Já em 27 de janeiro de 2025, um tema que iria além da política esportiva ganhava as manchetes. A torcida organizada Boca Suja, do Mixto, denunciava publicamente os horários "desumanos" dos jogos do Campeonato Estadual, realizados às 15h30 sob temperaturas que ultrapassavam os 40°C. O protesto, dirigido à FMF e à TV Centro América, colocava em xeque a priorização de interesses televisivos sobre o bem-estar de torcedores, atletas e comissões técnicas.
ELEIÇÃO EM FOCO
A polarização que dominaria o ano tomou forma oficial em 25 de abril. A FMF anunciou que duas chapas disputariam a presidência: a situação, "Progresso no Futebol", liderada pelo então presidente Aron Dresch (patriarca da família dona do Cuiabá), e a oposição, "Federação Para Todos", encabeçada pelo empresário Dorileo Leal (dono do Mixto e do Grupo Gazeta de Comunicação). A eleição foi marcada para 3 de maio.
Na véspera da votação, a disputa saiu da sede da federação e foi parar nos tribunais. A Associação Camponovense Celeiro de Futebol, que declarava apoio a Dorileo Leal, entrou com um pedido de suspensão, alegando ter sido excluída irregularmente do colégio eleitoral. No dia 3 de maio, a juíza Glenda Moreira Borges atendeu ao pedido, suspendendo a eleição minutos antes de seu início.
Foi o início de uma sequência de obstáculos jurídicos. Em 7 de maio, uma nova decisão, agora da juíza Ana Cristina Silva Mendes, manteve a suspensão e apontou uma série de irregularidades: falta de prazo para impugnações, delegação irregular de poderes ao Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA), suspeita de fraude documental e, principalmente, a ilegalidade da candidatura de Aron Dresch a um terceiro mandato consecutivo, prática vedada pelo próprio estatuto da FMF.
A Justiça barrou novamente a eleição em 8 de maio, destacando que a "urgência da sucessão não pode atropelar a legalidade".
TRANSPARÊNCIA E AMEAÇAS
Com o processo paralisado, o Ministério Público de Mato Grosso foi habilitado como custos legis (fiscal da lei) em 17 de maio, devido ao interesse público envolvido, já que a FMF recebe recursos estaduais. Paralelamente, a assessoria jurídica da federação ameaçou expulsar o Camponovense por ter recorrido à Justiça comum, em suposta violação às regras da Justiça Desportiva.
INTERVENÇÃO E DUAS NOMEAÇÕES
Com o término oficial do mandato de Aron Dresch em 26 de maio, a crise institucional se aprofundou. No mesmo dia, a Justiça nomeou o advogado Thiago Dayan da Luz Barros como interventor para comandar a FMF provisoriamente. Dois dias depois, em 28 de maio, a CBF, alegando riscos de sanções internacionais da FIFA, contrariou a decisão judicial e nomeou seu próprio interventor: Luciano Dahmer Hocsman, presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). A Justiça posteriormente aceitou a indicação da CBF.
PRESSÃO DOS CLUBES
Insatisfeitos com a paralisia, treze clubes lançaram a campanha "Eleições Já!" em 29 de maio, cobrando transparência e urgência. Sob o comando de Hocsman, a prioridade imediata foi retomar as competições paralisadas, como a Segunda Divisão do Estadual.
Em 3 de julho, após decisão de uma comissão eleitoral ligada ao CBMA, a FMF anunciou a retomada do processo eleitoral, com a publicação de um novo edital. No entanto, a "novela" teve mais um capítulo: em 8 de julho, a chapa de Aron Dresch entrou com uma liminar no CBMA, suspendendo novamente o processo.
DESFECHO
Finalmente, após meses de idas e vindas, uma nova data foi firmada: 2 de dezembro de 2025. O processo foi totalmente conduzido pelo CBMA, sob fiscalização do MP. No pleito, uma terceira via surgiu. O advogado Diogo Amorim Pécora, da chapa "Unidos pelo Avanço do Futebol Mato-grossense", venceu com 43 votos contra 29 de Dorileo Leal, pondo fim a sete meses de incerteza.
ALÉM DA POLÍTICA
Enquanto a crise política se desenrolava, o futebol mato-grossense tentava seguir seu curso. A Segunda Divisão foi iniciada em 14 de junho, o Sub-20 movimentou os gramados em julho, e novas competições, como o Campeonato Feminino, foram anunciadas para agosto. Parcerias importantes, como o patrocínio da BYD ao estadual de 2026, foram fechadas. O ano também foi marcado por perdas, como o falecimento do ex-goleiro e dirigente Neneca, em 22 de setembro, lamentado por todo o estado.
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