O Ano Novo Começa nas Urnas: Por Que um Feliz Ano Novo Depende das Nossas Escolhas
Todo início de ano carrega consigo uma promessa silenciosa: a de que, desta vez, as coisas podem ser diferentes. Renovamos votos pessoais, refazemos planos, projetamos esperanças. Mas, à luz das ciências políticas, da filosofia e da psicologia social, é preciso reconhecer uma verdade incômoda: um feliz ano novo não nasce apenas do calendário, ele depende, sobretudo, das escolhas que fazemos como sociedade.
O ano que se inicia não se encerra em si mesmo. Ele projeta seus efeitos por, no mínimo, quatro anos. É nesse horizonte que se insere o processo eleitoral que se aproxima, no qual escolheremos o presidente da República, governadores, dois senadores por estado, deputados federais e estaduais. Trata-se de uma decisão coletiva que moldará o cotidiano, a economia, os direitos, as oportunidades e até o humor social do país por um longo período.
Do ponto de vista da ciência política, eleições não são apenas rituais democráticos; são momentos de inflexão histórica. Elas podem consolidar ciclos esgotados ou abrir espaço para novas agendas, novos pactos e novas lideranças. O problema é que, muitas vezes, o eleitorado age movido mais pelo medo do desconhecido do que pela análise racional do que já se conhece, mesmo quando o conhecido demonstra sinais claros de esgotamento.
O cenário atual inspira reflexão crítica. O Executivo federal dá sinais de envelhecimento político, não apenas pela longevidade no poder, mas pela dificuldade de oferecer respostas inovadoras a problemas estruturais. A oposição, por sua vez, parece frequentemente refém do ressentimento: reage mais ao adversário do que apresenta projetos consistentes de futuro. No Congresso, o Senado oscila entre o imobilismo e a acomodação, enquanto a Câmara dos Deputados enfrenta uma profunda crise de legitimidade, marcada por fisiologismo, baixa qualidade do debate público e distanciamento crescente da realidade social.
A filosofia política já alertava para esse risco. Montesquieu defendia que instituições só permanecem saudáveis quando equilibradas por virtudes cívicas. Hannah Arendt lembrava que a política perde seu sentido quando se transforma apenas em gestão de interesses privados. Quando o espaço público é capturado por mediocridade, oportunismo ou cinismo, o resultado é o empobrecimento da democracia e o desencanto generalizado da população.
A psicologia social ajuda a explicar por que, mesmo insatisfeitos, muitos eleitores insistem em repetir escolhas. O viés da familiaridade, o medo da mudança e a sensação de impotência aprendida levam à naturalização do que não funciona. Passa-se a confundir estabilidade com estagnação, e prudência com conformismo. O resultado é um ciclo vicioso: escolhe-se mal, frustra-se, reclama-se, e escolhe-se mal novamente.
No entanto, o país dispõe de alternativas. Há governadores que chegam ao fim de mandatos de quatro ou oito anos com avaliações positivas, experiência administrativa comprovada e capacidade de diálogo federativo. Há quadros técnicos, lideranças regionais e projetos que demonstram que é possível governar com responsabilidade, inovação e compromisso público. O desafio não é a ausência de opções, mas a disposição coletiva de dar oportunidade ao novo.
Cabe, portanto, ao povo brasileiro decidir: dar continuidade, por mais quatro anos, a um cenário marcado pelo desgaste institucional e pela pobreza do debate público, ou assumir o risco responsável de construir novos caminhos. Em uma democracia com mais de 200 milhões de habitantes, essa escolha não é trivial, mas é inevitável.
O Ano Novo, sob essa perspectiva, deixa de ser apenas uma celebração simbólica e se transforma em um chamado à maturidade cívica. Um feliz ano novo não depende apenas de desejos, discursos ou promessas. Depende da coragem de avaliar o passado com honestidade, o presente com lucidez e o futuro com responsabilidade.
A esperança, afinal, não está em repetir o que já falhou, mas em escolher melhor.
(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista político e professor universitário.
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