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Artigos Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2025, 08:48 - A | A

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Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2025, 08h:48 - A | A

ROSANA DE BARROS

O Phubbing

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

A expressão americanizada remete à junção do vocábulo phone (telefone) e snubbing (esnobar), se constituindo no ato de ignorar alguém em local público com a finalidade de propiciar atenção ao próprio celular.

Em uma sociedade deveras conectada, o aparelho de celular tornou-se quase uma extensão do corpo. Através desse pequeno e potente equipamento, pode-se adentrar diversos lugares, dentre eles, os relacionamentos amorosos. O celular pode ser visto e utilizado de muitas maneiras, podendo ser encarado como um hábito inofensivo ou fruto da modernidade. A verdade é que o phubbing carrega implicações profundas, especialmente quando analisado sob uma perspectiva feminista.

Nos relacionamentos heterossexuais, a prática reflete desigualdades de gênero já existentes. Mulheres, historicamente socializadas para cuidar, ouvir e manter vínculos emocionais, tendem a ser mais afetadas quando são ignoradas. Estar diante de um parceiro que prioriza o celular é mais do que uma questão de distração: é uma mensagem silenciosa de que suas palavras, sentimentos e presença não são prioridade. Essa dinâmica reforça a lógica patriarcal na qual o tempo, a atenção e o espaço emocional das mulheres são vistos como disponíveis, mas desvalorizados.

O phubbing pode funcionar como uma forma sutil de prática de violência psicológica. Quando uma mulher tenta expressar incômodos, frustrações ou necessidades e recebe como resposta olhos fixos na tela, o efeito é de silenciamento. Esse comportamento dialoga com uma longa história de mulheres sendo interrompidas, ignoradas, desacreditadas em suas experiências ou com as ideias usadas por outrem como se delas não o fossem. O celular, nesse contexto, torna-se mais um instrumento de poder simbólico.

A crítica feminista ao phubbing não se limita a acusar quem quer que seja, mas de questionar estruturas. Vivemos em um sistema que normaliza o trabalho excessivo, com o consumo ininterrupto de informações, que fatalmente afeta todas as pessoas, recaindo de forma desigual sobre as mulheres. Muitas mulheres infelizmente carregam a responsabilidade emocional dos relacionamentos e, quando enfrentam o desdém, sentem-se compelidas a compreender silenciando o desconforto, para não serem acusadas de causarem conflito.

O diálogo, a escuta ativa e, sobretudo, a revisão das expectativas de gênero produz relacionamentos saudáveis. Pela ótica feminista, reivindicar atenção não é exagero, é um ato político: é afirmar que a experiência feminina importa, inclusive, nos pequenos gestos do cotidiano.

Portanto, questionar o phubbing é também questionar quais vozes escolhemos ouvir e quais seguimos ignorando. Em um mundo cada vez mais digital, talvez o gesto mais revolucionário seja simples: abaixar o celular e olhar nos olhos de quem está ao nosso lado.

O avanço das tecnologias digitais transformou profundamente as formas de comunicação. Contudo, nos relacionamentos afetivos, esse progresso também trouxe práticas prejudiciais, com comportamento caracterizado por ignorar pessoas próximas para dar atenção ao celular. Pelas lentes feminista, essa atitude revela a desigualdade de gênero ainda presente nas relações contemporâneas.

O silêncio imposto pela tela reforça a ideia de que suas falas e sentimentos são secundários, reproduzindo padrões patriarcais de invisibilizar o feminino.

Essa forma sutil de silenciamento ignora momentos de bate-papo, com a demanda das mulheres minimizadas, enfraquecendo a autoestima. A prática dialoga com uma estrutura social que historicamente desacredita a voz feminina, tanto no espaço público quanto no privado.

É de María Lugones: “O feminismo não fornece apenas uma narrativa da opressão de mulheres. Vai além da opressão ao fornecer materiais que permitem às mulheres compreender sua situação sem sucumbir a ela.”

(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, doutoranda em Educação pela UFMT, membra do IHGMT e da Academia Mato-grossense de Direito na Cadeira 29.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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