Há momentos na vida de uma empresa em que olhar para trás é tanto nostalgia quanto necessidade. No ano em que a Casa Prado completa sete décadas, percebo que nossa história evoluiu para além da marca. Ela é o reflexo de como uma cidade, um estado e a própria moda masculina brasileira mudaram ao longo de 70 anos. Afinal, mais do que passar, o tempo refina.
Em 11 de fevereiro de 1955, meu avô José Rodrigues do Prado abriu as portas da primeira Casa Prado em Cuiabá. Empreendedor nato, ele teve a visão de criar algo inédito na cidade: uma loja dedicada exclusivamente ao homem. À época, vendíamos de tudo – calçados, camisas, chapéus, meias, pijamas, lenços. Os icônicos “artigos finos para cavalheiros”.
A casa da família era a loja, local em que depois se tornou a própria avenida Getúlio Vargas. As vendas eram anotadas no papel, como uma espécie de crediário. Um fichário. Todos se conheciam pelo nome. Confiança, a moeda mais forte. Era uma Cuiabá diferente, menor, mais isolada do restante do país, em que os relacionamentos se construíam cara a cara, no aperto de mão, e se sustentavam na palavra dada.
Os anos 60 trouxeram cores mais vibrantes. A cidade crescia e com ela, a ousadia na moda. Polos coloridas começaram a tomar conta das vitrines. Ternos com corte conduit – simples, mais ajustado na cintura – refletiam uma masculinidade que se permitia mais expressiva. Cuiabá começava a olhar para fora de suas fronteiras, e nós acompanhamos esse movimento.
Na década de 70, tudo se expandiu. Lapelas largas. Blazers e blusões com bolsos de abas. Chegavam às ruas cuiabanas os famosos sapatos com solado alto, que todos chamavam de "cavalo de aço". Nossa vitrine recebeu até duas pranchas de surf ao lado de calças jeans boca-de-sino. Mato Grosso se consolidava como potência do agronegócio, e isso se refletia no guarda-roupa masculino: mais diversificado, mais sofisticado.
Por outro lado, os anos 80 trouxeram o excesso e a variedade. Ternos com cortes mais estruturados, ombros marcados e muito acolchoamento. Camisas de colarinho alto. Gravatas largas e imponentes. Era como se a moda masculina exalasse confiança e expressão pessoal. Cuiabá também amadurecia. Encontrava seu próprio ritmo de crescimento.
Os 90 foram sobre atitude. Blazers oversized e peças mais soltas. A combinação de alfaiataria com camisetas se tornou aposta do momento. Tanto peças formais quanto casuais ganharam listras, xadrez e estampas geométricas. Nessa década, substituímos as promissórias pelo parcelamento em cheque – 30, 60, 90 dias. Era uma evolução natural que acompanhava o desenvolvimento econômico da região.
Já os anos 2000 revolucionaram tudo. O slim fit ganhou força. Ternos super justos voltaram às ruas. A alfaiataria ressurgiu com tudo, e os blazers de dois botões se tornaram unanimidade. O universo de cores e texturas expandiu. Inclusive, com looks all jeans e sobreposições. Cuiabá se consolidava como metrópole, e o homem cuiabano exigia sofisticação condizente com essa transformação urbana.
A década seguinte foi de especialização. Em 2007, acessórios ganharam destaque próprio em nossas lojas. Em alfaiataria, ternos sob medida se tornaram tendência. E em 2010, um marco: lançamos a CP Premium, nossa primeira marca própria. Era o reconhecimento de que tínhamos desenvolvido expertise suficiente para criar, não apenas vender.
Os últimos anos trouxeram propósito. Em 2018, abrimos para franquias, o que levou a Casa Prado para novos cantos do Brasil. Em 2020, incorporamos tecnologia waterproof, camisetas antivirais e produtos ecofriendly. Hoje, somos uma empresa certificada B, o que significa que medimos nosso sucesso muito além do lucro. Medimos pelo impacto positivo que geramos.
A verdade é que o que permanece é o que se refina. Ao longo dessas sete décadas, algumas coisas mudaram completamente – os cortes, as cores, as tecnologias. Outras permaneceram intactas – o compromisso com a qualidade, o atendimento hospitaleiro, a elegância que não precisa gritar para ser notada. Três gerações da família Prado. Uma mesma essência: servir.
Hoje, quando olho para Cuiabá – essa gigante que se tornou porta de entrada para o mundo – e para a Casa Prado – presente em Mato Grosso, Rondônia e Amazonas –, percebo que crescemos juntos. A cidade nos moldou, e nós, de alguma forma, ajudamos a moldar o jeito de se vestir do homem do Centro-Norte. É gratificante ver que o tempo aprimora as coisas certas, jamais as envelhece.
Setenta anos depois, continuamos na mesma missão do meu avô: vestir o homem que compreende que a elegância genuína é um reconhecimento mútuo. Não se anuncia. E se há algo que esses anos todos nos ensinaram é isto: o tempo refinado não se trata daquele que passa depressa. Mas sim, daquele que se permite ser habitado plenamente. É o tempo bem vivido.
(*) GERALDO JOSÉ Z. DO PRADO é CEO da Casa Prado, empresa familiar de moda masculina fundada em 1955 em Cuiabá. Formado em administração, representa a 3ª geração no comando da empresa, que hoje conta com 11 lojas na região Centro-Norte do país.
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