O desrespeito às mulheres está longe de ser um fenômeno isolado. É fruto de uma realidade estrutural, que possui bases históricas, culturais e políticas que moldaram e moldam as relações de gênero no Brasil e no mundo. O desrespeito às mulheres está longe de ser um fenômeno isolado. É fruto de uma realidade estrutural, que possui bases históricas, culturais e políticas que moldaram e moldam as relações de gênero no Brasil e no mundo.
A Folha de São Paulo e a Agência Patrícia Galvão divulgaram levantamento realizado pelo DataSenado e a Nexus, que aponta o crescimento do desrespeito às mulheres dentro de casa. A pesquisa ouviu mais de 20 mil mulheres em todas as regiões do país, entre os dias 16 de maio a 8 de julho do corrente ano. Os dados mostraram que 94% das entrevistadas consideram o Brasil um país machista. Levantou-se que 46% das brasileiras informaram que não se sentem tratadas com respeito.
Quando a pesquisa foi transportada para as ruas, externou-se número maior: 49%. Uma das percepções mais graves é a de que foi registrado o percentual em 21% dentro de casa. Assim, aproximadamente 3,3 milhões a mais de mulheres passaram a ver o ambiente doméstico e familiar como um local inseguro, se comparado ao ano de 2.023.
O “desrespeito”, termo aparentemente simples, engloba um amplo espectro de práticas: objetificação sexual, deslegitimação intelectual, violência física, violência psicológicas e institucional. O movimento feminista demonstra que tais práticas são corriqueiras, sendo expressões de um sistema patriarcal que insiste em delimitar o lugar das mulheres no mundo.
A antropóloga Beatriz Accioly reputa que a declaração das mulheres no estudo pode ter ocorrido pela maior conscientização delas, em relação à violência doméstica. O desrespeito às mulheres também se manifesta nas instituições. A sub-representação feminina nos espaços de decisão explana a persistência de um projeto de sociedade que mantém o poder político e econômico majoritariamente masculino.
O tão sonhado respeito não é conquistado apenas com boas intenções ou discursos moralizantes, sendo imprescindível redistribuir poder. A sub-representação explana o silêncio forçado de muitas. E esse silêncio compulsório é uma das mais potentes formas de desrespeito, pois impede que as experiências e necessidades tenham impacto concreto nas políticas públicas na vida delas.
A cultura, a mídia, a publicidade, os discursos religiosos e familiares, possuem o condão de reforçar papeis de desigualdade de gênero, causando o aprisionamento delas. Não é natural o papel de cuidadora, compreensiva, recatada, sacrificial e emocionalmente frágil. Mas, invariavelmente, aquelas que divergem desses padrões enfrentam julgamento social, culpabilização e violência. O feminismo denuncia essa lógica como opressiva e aponta a urgência de uma educação emancipatória que permita às meninas ocuparem o mundo sem medo, sem culpa e sem pedir licença.
Falar de desrespeito às mulheres é tratar de desigualdade racial, de classe, de orientação sexual e identidade de gênero. Ignorar essa interseccionalidade é perpetuar uma realidade que, na prática, deixa de proteger quem mais precisa de políticas afirmativas e transformadoras.
O Instituto Sou da Paz, com base em dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, apontou que dos 207 casos de feminicídios registrados no Estado de São Paulo, 61% aconteceram dentro do ambiente doméstico e familiar. E, 79% das mulheres afirmaram que perceberam o aumento da violência contra as mulheres.
A visão feminista, longe de ser um discurso de antagonismo, revela que é estruturante a produção de desigualdades que se atualizam diariamente. E isso acontece em episódios explícitos de violência, e, ainda, em gestos cotidianos que, naturalizados, reafirmam a inferiorização feminina.
E agora, o que se quer: permanecer refém das estruturas arcaicas e obsoletas que naturalizam a violência e o desrespeito às mulheres, ou caminhar para um modelo que as reconheça como detentoras de direitos?
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, doutoranda em Educação pela UFMT, membra do IHGMT, e da Academia Mato-grossense de Direito na Cadeira 29.
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