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Artigos Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013, 17:04 - A | A

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Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013, 17h:04 - A | A

O Poeta

Até hoje não compreendi direito se Vinícius de Moraes era um mero poeta, ou a própria poesia

PAULO LEITE






RAY REIS

Ainda muito jovem, entusiasmado com a carreira que se abria diante de mim, pedi para cobrir um show da dupla Vinícius e Toquinho, no Ipanema Clube, em Sorocaba. Era apenas um ‘foca’, como se diz no jargão da imprensa.


Estava em êxtase com a possibilidade de entrevistar meu ídolo. Depois da apresentação, no vestiário do sodalício, sentei-me ao lado do poeta e fui logo fazendo as perguntas de praxe. (*)

Aí resolvi – pobre noviço, entrar em questões mais filosóficas e perguntei: o que era ser poeta?

Vinícius apenas sorriu e disse:

- Ser poeta é também você ser tudo… É ser amigo das coisas.

Até hoje não compreendi direito se Vinícius de Moraes era um mero poeta, ou a própria poesia.



* Meu primeiro encontro com Vinícius se deu em 1978.

...


Marcus Vinícius Cruz Mello de Moraes, poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil, como gostava de se definir. Ateu e materialista, ele encontrou nos cultos afros o sincretismo necessário para converter seus poemas e letras numa espécie de painel múltiplo da cultura nacional. Neste dia 19 de outubro, Vinícius completaria 100 anos de vida.

E, que vida!

Casou-se nove vezes, mas dizia-se homem de uma só mulher, pelo menos, uma de cada vez. Rompeu com a pernóstica intelectualidade tupiniquim e preferiu escrever seus versos para o povo. Criou obras definitivas no cancioneiro popular, mas nunca renunciou à literatura.

Houve um tempo em que a boemia e as artes brasileiras giravam em torno da mesa de Vinícius de Moraes. Músicos, atores, pintores, compositores e vagabundos eram parceiros de noitadas regadas a violão, belas mulheres, bebida e poesia. Ele era a síntese de nossos maiores predicados e a sintaxe de nossos sonhos e angústias.

Vinícius era cidadão do mundo. Flanava por Roma, Buenos Aires ou Paris com a mesma desenvoltura e elegância com que reinava no Antonio’s Bar, na Lapa carioca. Heitor dos Prazeres costumava dizer que o “poetinha” não era homem de uma só moral, mas de muitas “moraes”.

Amou muito. Amou a todos! Era um ciumento incorrigível e transformou sua palavra em celebração constante do amor. Tinha como ofício a diplomacia, mas como paixão a poesia!

Foi demitido do Itamaraty durante a ditadura militar, sob alegação de não encarnar os valores da nação. De fato, Vinícius era alegre, gentil, boêmio, pacifista e namorador. Ou seja, tudo que a direita conspiradora mais abominava.

Viveu intensamente. Foi amado! Fez do sorriso a sua arma secreta. Sedutor como convém a um poeta, desprezou a arrogância dos literatos empertigados e voltou sua palavra para os sentimentos puros, ingênuos e prosaicos. A elite cultural não entendia seus versos, mas os jovens e enamorados deleitavam-se com eles.

Vinícius foi nosso poeta. Mas, viveu como o personagem de uma ode e desencarnou, em 9 de julho de 1980, como convém a um verdadeiro anjo: na madrugada, deitado numa banheira de água morna...

Hoje, depois de tanto tempo, ainda não tenho certeza se Vinícius era um poeta ou a própria poesia.


* PAULO LEITE é jornalista e escritor.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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