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É a denúncia, no caso a comercialização de crianças para os Estados Unidos, por freiras de um orfanato tradicional, em troca de dinheiro graúdo, que assusta pelo seu conteúdo desumano, desafiador da imaginação mesmo das mentes mais cruéis.
Não, não vou contar o filme. Vou falar de uma outra forma de vê-lo. O trabalho iluminador do jornalista. Com elegância, sem ceder a qualquer tentação sensacionalista, traz à tela três características essenciais da profissão: a busca da contradição dos fatos, a publicação daquilo que os envolvidos não gostariam de ver publicado e a ética da profissão de respeito às fontes.
Mostra mais ainda: a ação meticulosa e orientadora de quem edita e o quanto um jornalista pode ser incomodo quando busca noticias junto a pessoas que não desejam atende-lo. E há a repercussão do que é noticiado. Depois dos filmes, houve mobilizações na Irlanda para reencontrar as crianças comercializadas.
Esses paradigmas afloram naturalmente, com ritmo, profundidade e elegância, além de claro, humor sutil e cortante. A narrativa demonstra que o jornalista é como o beduíno no deserto, sempre vai encontrar a verdade, independente da tentativa de tira-lo dos seu caminho. Mentiras e jogos de cena – no filme bolos e versões bem arrumadas, tão arrumadas que suscitam suspeitas - nada adiantam.
O jornalista transcende o papel de mero copista do real. Sua motivação pela verdade é a própria verdade. E não há como esconde-la, como torna-la invisível porque os fatos sempre aparecem. São como água e óleo, teimosamente não se misturam. São suas características óbvias, geralmente esquecidas.
Vendo o filme, é impossível deixar de pensar no Brasil dos dias de hoje. A liberdade de imprensa pode incomodar, mas avança, se afirma, se inocula na vida do pais como cultura efetiva. Incomoda? Sim. É sensacionalista, deferentemente do filme? Muitas vezes. Provoca polémicas? Claro, por que não? Mas é indispensável.
Havendo ou não credibilidade, oscilando ou não a confiança do público leitor, a verdade é uma só, e Filomena é expressão cristalina de uma mensagem inescapável: liberdade de expressão e de imprensa são vitais para a democracia. Não pertencem à imprensa, mas à sociedade.
* FRANCISCO VIANA é comunicador e mestre em filosofia política (PUC-SP)
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