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Cidades Domingo, 29 de Abril de 2018, 08:00 - A | A

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Domingo, 29 de Abril de 2018, 08h:00 - A | A

VENEZUELANOS EM CUIABÁ

Histórias de fome e violência unidas pela esperança

JESSICA BACHEGA

Fugindo da miséria e da violência, movidos pelo forte desejo de oferecer melhores condições de vida à família, milhares de venezuelanos deixaram para trás a terra natal e se refugiaram em solo brasileiro, onde se espalham por diferentes cidades, inclusive Cuiabá. Há quase um mês dezenas de imigrantes do país vizinho chegaram a Capital Mato-Grossense com as mãos vazias de bens e o coração cheio de fé e esperança de que haverá um final feliz para os tempos nebulosos que atravessam.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos/casa dos imigrantes

 Denis deixou quatro filhos aos cuidados da irmã e veio com o esposo para o Brasil

Em 6 de abril deste ano, 66 venezuelanos foram trazidos para Cuiabá pelo Exército e abrigados na Pastoral do Migrante. De lá para cá, mais quatro estrangeiros chegaram. Dois de cada vez. Eles estavam abrigados em Roraima e com a lotação da cidade e escassez de oportunidades, rumaram para a Capital de bicicleta. Eles pedalaram por 20 dias até chegar ao destino e buscar abrigo na Pastoral, conforme contou a coordenadora da instituição Eliana Vitaliano.

 

Desde o início de abril, três famílias, somando 11 pessoas, deixaram o local. Eles conseguiram emprego e alugaram uma casa prontos para iniciar uma nova vida. Das 55 pessoas que ainda estão na Pastoral, 17 são crianças e três gestantes. Cerca de 90% deles têm o ensino médio e alguns poucos concluíram o curso superior. 

 

Entre os graduados está a professora Denis Gonzales, 39 anos, que veio para Cuiabá com o esposo e o coração partido por deixar os quatro filhos para trás. A educadora ministrava aulas para o ensino médio em seu País e o marido é mestre de obras. Aqui, há uma semana ela conseguiu emprego no setor de limpeza em uma escola no centro da cidade. O companheiro não teve a mesma sorte e continua procurando serviços como pedreiro.

 

“Aqui é o paraíso. As pessoas são muito boas. Aqui não falta comida, não passamos fome”, conta com alegria e entusiasmo a refugiada que ainda traz no rosto o costume dos tempos prósperos, maquiada, com olhos delineados. A retomada das rédeas da própria vida devolveu também a auto estima, que se reflete na aparência bem cuidada.

 

A alegria dá espaço para a tristeza e as lágrimas quando Denis fala dos filhos que deixou aos cuidados da irmã, que também tem quatro crianças e está desempregada. Na Venezuela, a família sobrevive com os trabalhos temporários da irmã e das duas filhas adolescentes de Denis. Uma casa da venezuelana também ficou para trás, alugada e o valor do arrendamento também é destinado para a família.

 

“Vim chorando o caminho inteiro por deixar os meninos para trás. Mas é a pior coisa ver seu filho com fome, pedir comida e você não ter para dar”, conta a mulher que revela que seu maior sonho é se estabelecer aqui e trazer o resto da família para cá. “Consegui falar com minha irmã porque um haitiano me emprestou o celular. Ela disse que meu pequeno pergunta todo dia quando a mãe vai voltar. Isso corta o coração”, contou, com o rosto lavado por lágrimas. 

 

Os filhos de Denis têm entre 17 e 5 anos e o plano é trazer um de cada vez. A mulher conta que chegou a Roraima, onde estava antes de vir para Cuiabá, de carona e ficou em um campo com centenas de outras pessoas. As doenças de pele e intoxicação alimentar eram constantes no acampamento em que estavam, devido à aglomeração em que viviam e a alimentação inadequada. 

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos/casa dos imigrantes

 Sugair é só felicidade com a família em Cuiabá

Em situação diferente, mas com o mesmo objetivo se mudou para Cuiabá Sugar Benicoto. Acompanhada pelo marido, ela trouxe consigo os dois filhos pequenos: uma menina e um menino que rodeiam a mãe enquanto ela nos concede entrevista. Todos vieram de carona até Roraima e foram trazidos pelo Exército até a Pastoral.

 

Sugair conta que trabalhava em uma ambulância em sua cidade, com paramédicos, mas estava em casa cuidando dos filhos nos últimos anos . O esposo trabalhava na confecção de tubos para refinaria de gás, mas ultimamente não estava recebendo. Com a crise que assolou o País de cinco anos para cá, a situação da família se tornou ainda mais crítica e não havia comida. 

 

“As crianças não aguentavam mais comer mandioca. Não tinha comida, nem remédio. Esse foi o ponto em que decidimos nos mudar. Era muita fome e desespero”, lembra Sugair, que conta que vivia com a família em uma casa própria muito confortável, que foi deixada para trás porque não conseguiram vender.

 

Ela conta que o governo venezuelano oferecia bolsas de comida para as famílias, porém o mantimento durava apenas três dias e o resto do mês não havia de que se alimentar, a não ser manga e a mandioca que se tornou intragável.

 

Em um cenário extremo, os venezuelanos assaltavam uns aos outros para roubar a comida. Vendiam mandiocas amargas que mataram crianças, pois eram tóxicas e os populares não sabiam. 

 

Ela conta que não quer voltar a viver em seu País. Sugair diz que era militante pelos direitos dos trabalhadores e das minorias na Venezuela e há muito tempo queria deixar o país por não concordar com a política adotada, mas o objetivo nunca se concretizou por causa da família do esposo que insista para o casal ficar próximo a eles. Porém, com toda a violência e falta de condições mínimas para a sobrevivência, não houve alternativa senão migrar.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos/casa dos imigrantes

 

Enquanto atende as crianças que a chamam a todo momento, Sugair diz que se sente na própria “Ilha da Fantasia” (seriado televisivo de uma ilha onde todos os desejos se realizam), que adorou os brasileiros e o que mais chamou sua atenção, além da receptividade, foi a religiosidade do povo. “As pessoas são muito tementes a Deus e isso é muito importante. Acredito que só se pode combater o mal com o bem. É isso que devemos fazer. Claro que tem pessoas más em todo o lugar, mas conheci muitas pessoas boas em Cuiabá”, assevera. 

 

Ainda na Pastoral, Sugair conta os dias para se mudar para uma casa só dela. Com alegria ela conta que o marido conseguiu emprego como vigilante no centro da cidade.

 

Embora usufruísse de condição financeira mais confortável que as duas famílias citadas, o empresário Jesus Alfonzo, 44 anos, teve que deixar o país após se ver obrigado a fechar quatro dos cinco restaurantes que tinha na Venezuela. “Foi muito traumático deixar minha família e meu País”.

 

Pai de sete filhos, Jesus veio para o Brasil há um ano e meio em busca de trabalho para também trazer a família. Trouxe consigo o filho mais velho, de 15 anos, para ajudar a angariar renda. Nos primeiros meses eles conseguiram trabalhar em Roraima, mas com o grande volume de migrantes que chegou à cidade, o serviço acabou e os dois vieram para Cuiabá. No entanto, ainda não conseguiram trabalho.

 

“O dinheiro que ganho aqui, mando para minha família na Venezuela, mas desde que cheguei não consegui mandar nada e nem me comunicar com eles”, afirma.

 

A situação financeira de Jesus impediu que a família passasse fome, mas a obrigou a mudar os hábitos alimentares e o estilo de vida.

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos/casa dos imigrantes

 Jesus veio com o filho mais velho e está há 20 dias sem contado com a família

“Eu tinha duas casas na cidade. Na casa em que eu morava tinham duas empregadas, uma só para cuidar das crianças. Tinha carro. Comia carne, frango ou pescado todo dia. Tive que vender tudo. A carne passou a ser apenas uma vez na semana, passamos a comer mais vegetais, mas fome mesmo não passamos”, conta. 

 

Na opinião do empresário, a Venezuela é muito rica, porém mal administrada. Após grande declínio da economia local, faltaram insumos para manter as empresas e ele foi fechando uma a uma, até não ter mais nenhuma fonte de renda. “Falta comida no supermercado. Há pessoas que compram no Brasil e vendem na Venezuela, mas o câmbio é muito diferente o que torna tudo muito caro”, explica.

 

Questionado sobre o sentimento que carrega hoje, longe de casa e da família, Jesus é categórico ao dizer: “muita impotência e muita raiva”. Ele explica que “sabe o que é trabalhar toda uma vida para ter estabilidade, ter tudo e de repente não ter nada? Mas Deus sabe de todas as coisas, se ele me colocou aqui é porque aqui eu devo estar”, conta com a voz embargada.

 

O plano de Jesus é trazer a família para Cuiabá e, no futuro, poder voltar para seu País.

 

Os números do desespero

 

Alan Cosme/HiperNoticias

venezuelanos/casa dos imigrantes

 

Para exemplificar a extrema inflação no País,  o site de notícias venezuelano El Nacional escreveu em um artigo o aumento de salário anunciado pelo presidente Nicolas Maduro, que subiu de 288.510 bolívares para 392.646 bolívares, mais um auxílio-alimentação de 915.000 bolívares. Convertido para o real, o salário corresponde a R$ 20,37 e com o auxílio o valor sobe para R$ 67,43.

 

O valor suficiente para comprar cerca de três quilos de carne, somente, que custa em torno de 1.200 bolívares. Um levantamento feito pelo jornal, na capital Caracas, mostrou que o valor do alimento tem subido em torno de 100 mil bolívares diariamente, o que representa R$ 5,18.

 

Em janeiro, deste ano, uma cesta básica no País custava  24.402.767,10 bolívares, o que representa R$ 1.264,06. Desta maneira, endo necessários 62 salários para que uma família de cinco pessoas pudesse se alimentar de forma digna.

 

 

Pastoral

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venezuelanos/casa dos imigrantes

 

Atualmente a Pastoral está com sua lotação máxima. São 90 pessoas entre haitianos, venezuelanos e cubanos abrigados no espaço a espera de uma oportunidade de trabalho para recomeçar a vida.

 

Há muitas pessoas que pedem para serem recebidas na Pastoral, porém não há vagas para abrigar essas pessoas, por enquanto.

 

Além de oferecer refúgio, a Pastoral tem convênio com o Ministério do Trabalho que intermedeia a contratação dos estrangeiros para assegurar que a contratação seja formalizada e não haja exploração dos refugiados.

 

A Pastoral aceita doações de todos os tipos e quem puder doar deve levar os produtos até o local. 

 

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