Segundo as Nações Unidas são mais de quinze mil crianças palestinas mortas nos bombardeios à Faixa de Gaza ao longo do último ano. Pelo menos outras tantas feridas ou mutiladas. E mais um enorme contingente de órfãos, de crianças que perderam seus familiares, suas casas, suas escolas e seus brinquedos.
Ah! Mas o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, é uma organização terrorista que atacou Israel em outubro passado, matando mais de mil pessoas e fazendo centenas de reféns. É fato.
Ah! Mas Israel tem o direito de se defender de seus agressores. É fato. Qualquer nação tem esse direito.
O que nenhuma nação tem é o direito de matar ou ferir uma criança apenas, que dizer tantos milhares.
Foge à minha compreensão que uma nação tão desenvolvida sob o aspecto tecnológico, com forças armadas tão bem equipadas e treinadas e com mecanismos de inteligência militar tão sofisticados como é o caso de Israel, seja incapaz de se defender sem promover um banho de sangue nas creches e jardins de infância palestinos.
Mesmo para um leigo em assuntos bélicos, não é possível crer que a única ou a melhor estratégia de autodefesa e de combate ao terrorismo exija o morticínio em alta escala de crianças e adolescentes. A humanidade evoluiu tanto em tantas áreas, mas nesse aspecto ainda estamos repetindo Herodes?
O que está acontecendo em Gaza, diante dos nossos olhos e do nosso silêncio, é um massacre. Cruel e desumano.
E, do ponto de vista da segurança de Israel, profundamente estúpido e ineficaz.
Quem se deixa guiar pela vingança nunca encontra paz. Quem amplifica o medo multiplica o ódio.
Em 1994, há trinta anos portanto, tive a oportunidade de participar no Rio de Janeiro, na sede da antiga TV Manchete, de uma homenagem oferecida pelo então governador Leonel Brizola ao estadista israelense Shimon Peres que, apenas alguns meses depois, seria agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em virtude de sua importante contribuição para a celebração no ano anterior dos Acordos de Oslo entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina – OLP. Na minha vez de cumprimentá-lo, rompi a saudação protocolar e destaquei a esperança de uma convivência pacífica entre os povos. Mais tarde, em seu pronunciamento, Peres me transmitiu sinceridade e compromisso com a paz, a democracia e a justiça social para todos. Ali estava alguém que tinha lutado muitas batalhas, mas que tinha aprendido a ouvir, a dialogar, a negociar e a tentar celebrar a paz com o antigo inimigo. Um líder que aprendeu que o futuro pode ser construído de forma diferente, quando não se é prisioneiro de violências ancestrais.
Infelizmente, ainda não vingou a esperança gestada em Oslo e lideranças como Shimon Peres fazem muita falta hoje em Israel, bem como na Palestina e em outros lugares. E, enquanto alguém leu esse artigo, mais uma inocente criança palestina foi morta ou ferida ou perdeu a sua casa e a sua família. Até quando?
(*) LUIZ HENRIQUE LIMA é Conselheiro independente certificado e professor.
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