Steffano Scarabottolo |
Como é difícil a libertação do “olho alheio”, e, mais ainda a do nosso próprio olho. Numa visão hipocrática singular, o amor nada mais seria que uma avassaladora e irrefutável reação química, visando unicamente a reprodução da espécie.
Tudo muito simples e, não por acaso, o amor romântico, esse de que falamos hoje, só surgiria a partir do século XVIII, quando as regras econômicas vigentes impunham uma série de medidas que valorizassem as relações amorosas.
Daí em diante, regras, chavões e inúmeras fantasias foram criados para que o amor acontecesse sempre visando os jovens, belos e sarados.
Tudo isso está no imaginário coletivo, arraigado.
O que dizer então quando essas mesmas emoções, já completamente descartadas por nós mesmos e, principalmente, pelo “Status Quo” vigente, voltam a acontecer em anos avançados da nossa existência?
Imediatamente, esse fato é rotulado como arteriosclerose cerebral, demência senil, Mal de Alzheimer e tantos outros males que indicam sinais de insanidade.
Puro preconceito. Mas, muito mais forte do que nós.
A que atribuir essa mesma avalanche, verdadeira tsunami de emoções, com a sua decorrente descarga hormonal de adrenalina, endorfinas, serotonina e tantas outras "inas” estimulantes ao nosso viver?
Em palavras do dia a dia: estímulo reprodutor dos adolescentes, irrefreável, apoteótica. Nada há pra entender nessa máquina incrivelmente surpreendente chamada corpo humano.
Apenas constatar e se deixar levar por esses caminhos misteriosos, de entrega total, de mergulho no escuro, sem rede de proteção.
Assim fazem os corajosos, esses privilegiados e, por isso mesmo, poucos.
Bendita seja a ousadia!
(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico, professor fundador da UFMT e colaborador de HiperNoticias. E-mail: [email protected]
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