Algumas pessoas ficam conhecidas pela imensa coragem. Ana Maria de Jesus Ribeiro, ou Anita Garibaldi, se instalou na história dessa forma. Nascida em Laguna/SC em 30 de agosto de 1821, fez a passagem em 1849, em Ravena, na Itália.
Ela nasceu um ano antes da independência do Brasil. Veio de um lar bastante modesto, e de uma prole de seis meninas e quatro meninos. O pai trabalhava fazendo o transporte de gado, e a mãe ficava em casa. Moravam em casa simples de pau-a-pique. Na adolescência de Anita, o pai dela faleceu, quando a mãe passou a trabalhar na casa de outras pessoas, para a subsistência da família.
Anita ocupou locais pouco ocupados por mulheres durante a sua estadia terrena, transcendendo as fronteiras reservadas para o feminino em seu tempo. Conseguiu se imortalizar nas lutas armadas com o seu ideal extremamente libertário. Teve a existência marcada pela bravura, se tornando símbolo de resistência e liberdade. É dela a frase: “Não tenha medo de viver, de correr atrás dos sonhos. Tenha medo de ficar parado”.
Além da participação na Revolução Farroupilha, a heroína Anita participou de outras: Batalha dos Curitibanos, Batalha Naval da Laguna e Batalha da unificação italiana. Naquela ocasião, ela precisou romper com os padrões de gênero e desafiar a sociedade patriarcal, se fazendo aparecer no espaço público. Importante afirmar que Anita não foi apenas a coadjuvante de um herói, mas, sim, uma combatente ativa, empunhando armas, conduzindo a tropa e tomando decisões.
A importância de Anita para a história é tamanha, que alguns pesquisadores e pesquisadoras dizem que ela teria nascido na cidade de Lages. Todavia, entidades representativas de Laguna moveram ação judicial para a obtenção do respectivo registro de nascimento. Na fase probatória judicial, foram anexados documentos que comprovariam o nascimento naquele município. Ao final, a ação foi julgada procedente, reconhecendo o local de nascimento dela em Laguna.
Outra curiosidade da vida da heroína é o fato dos seus restos mortais terem sido enterrados por diversas vezes. Com a morte dela na Itália, em 1849, foi primeiramente enterrada na Igreja de San Alberto, em Madriole. Após, com o temor de que a sepultura fosse descoberta e profanada, seus restos mortais seguiram para um local secreto. O padre Francesco Burzatti pede que o corpo dela volte para a igreja, o que foi atendido. Em 1859, com a anistia de Garibaldi (marido), ele decide dar um enterro digno à amada, a transferindo para Nice, na França, onde a mãe dela se encontrava enterrada. Em 1932, durante o regime fascista de Mussolini, foi ordenado o repatriamento dos restos mortais de Anita para a Itália. O monumento que vinha sendo construído para abrigar os seus restos não estava pronto, e, assim, foram temporariamente enterrados no Cemitério de Staglieno, na Itália. Finalmente, em 1932, com o mausoléu dela pronto, teve os restos mortais transferidos para o local definitivo, em Roma.
É deveras ressaltar que, por muito tempo, como tantas mulheres, Anita teve a sua história escondida atrás do marido, reduzindo-a. Todavia, é premente a memória dela como uma mulher movida por ideais de justiça e independência. Disse: “Não diga que me conhece, pois nem eu mesma sei quem sou.”
Vivemos a fase de resgate histórico para e pelas mulheres. A igualdade de gênero e a justiça social permanecem urgentes, como a resistência que moveu Anita Garibaldi. Não há romantismo capaz de apagar uma figura como a dela. A voz e as memórias das mulheres necessitam ser vistas sem o filtro masculino, com os limites e as virtudes inerentes.
Eternizou: “Mergulho no mar da minha vida, defloro o desconhecido e faço florir meu ser. Na magia do mistério, sou imigrante de mundos diferentes que me identificam e me acolhem. Diante do revelado, calo-me. E, neste silêncio, a paz se propaga”.
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29.
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