O período de campanha para a Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) começou na última quarta-feira (08). No entanto, entidades representativas da comunidade acadêmica questionam a legitimidade do processo eleitoral na Universidade, que estaria indo na contramão dos movimentos democráticos durante a pandemia de Covid-19. A última reitora eleita da UFMT, Myrian Serra, renunciou ao cargo no dia 2 de março, depois de uma crise financeira que levou ao corte da energia do Campus de Cuiabá.
A decisão de manter o pleito na UFMT, mesmo diante da situação de emergência de saúde pública, foi tomada pelo Colégio Eleitoral Especial na manhã do dia 17 de junho em uma reunião online. Segundo as entidades sindicais, a decisão serve à ânsia de atender ao Governo Federal – que demonstrou, ao longo de um ano e meio de gestão, a intenção de nomear reitores que se alinhem aos interesses políticos governistas nas Universidades e Institutos Federais.
Outro problema destacado pelas entidades é que pela primeira vez a UFMT realizará a consulta respeitando obrigatoriamente uma representatividade de 70% dos votos para docentes. Historicamente, as consultas são realizadas com paridade de peso nos votos para as três categorias, docentes, técnico-administrativos e alunos.
“Nós temos a compreensão de que esse processo está sendo forjado por vias autoritárias no intuito de se constituir um processo eleitoral viciado que possa legitimar, com uma pseudo-aparência democrática, a presença do interventor. Primeiro pela forma autoritária, desrespeitando a histórica conquista da UFMT, que em pleno regime militar realizou a consulta com a votação paritária. Segundo, no meio de uma pandemia na qual a preocupação é salvar vidas, e para isso estamos prorrogando data de eleição para vereadores, shows, olimpíadas, diversos eventos e processos eleitorais, a UFMT decide, de forma autocrática, instituir o colégio eleitoral por meio de uma reunião que não respeitou a tradição democrática de inscrições e debates, totalmente alheia às entidades representativas. Período de pandemia não é período de eleição”, afirmou a diretora da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind), Lélica Lacerda.
A diretora também ressalta que autonomia universitária é muito mais do que o simples ato de votar. A votação, sem debate e sem exposição do contraditório, serve apenas para dar legalidade a algo, defende.
Em contrapartida, o estudante de Direito da UFMT Campus Araguaia e membro da comissão responsável por definir o procedimento eleitoral, Gustavo Sanches, explica que manter a consulta é uma forma de viabilizar a autonomia da Universidade.
“O prazo para envio da Lista Tríplice ao Ministério da Educação é até 12 de agosto, não ocorrendo isso, a legislação permite que seja indicado um reitor pro tempore para gerir a a Universidade, algo que coloca totalmente em risco a autonomia universitária e os próprios ideais de democracia, afinal, vemos diariamente os desmandos autoritários do Governo Federal. A porcentagem de peso de votos como está posta, 70% docentes e 15% discentes e técnicos não é aquilo que nós desejávamos, bem como a realização de procedimento virtual, entretanto, não fazer isso é colocar nossa Universidade em risco, logo, eu, como membro do Diretório Central dos Estudantes do Campus Araguaia da Universidade Federal de Mato Grosso, e em consulta aos Centros Acadêmicos do nosso Campus, os quais referendaram minha permanência na Comissão de Consulta, optamos por acompanhar e zelar pelo processo de consulta da forma mais transparente e legal possível, e agir ao máximo em defesa da categoria discente da UFMT”, disse.
Pandemia de Covid-19
Por outro lado, a Adufmat destaca que, no momento de pandemia de Covid-19, diante de um número de casos e óbitos que tem crescido significativamente no Brasil e em Mato Grosso, os recursos e atenção da Universidade deveriam estar focados integralmente no combate à doença. “O que as entidades defendem é que a administração da UFMT interrompa oficialmente qualquer outra atividade para empenhar todos os seus esforços nessa luta para salvar vidas”, enfatiza.
Em nota, o sindicato docente insistiu na dissolução imediata do colégio eleitoral estabelecido, propondo a prorrogação do mandato do atual reitor até a retomada das aulas presenciais. “A conjuntura não pode ser utilizada para que o comandante do conselho reproduza pensamentos de instituições pretensamente antidemocráticas que se estabelecem em nosso país”, afirmou a entidade.
(Com Assessoria)
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