Divulgação |
Corria o ano de 1982. Após 17 anos de supressão das eleições para governador, imposta pelo regime militar, o país vivia o clima da redemocratização e se preparava para escolher de forma livre e direta os gestores estaduais. Em Mato Grosso, Júlio Campos (PDS) e padre Raimundo Pombo (PMDB) disputavam rua a rua, voto a voto a preferência do eleitor.
Cáceres, cidade de fronteira com a Bolívia, na região Oeste, era mais que um dos principais colégios eleitorais da época, era uma espécie de município tronco, em torno do qual orbitavam várias outras localidades dela desmembradas. Portanto, era pólo irradiador de idéias. Vencer o pleito ali era fundamental.
O PDS, partido governista, dispunha do apoio das figuras mais notáveis do lugar. Em sua primeira visita como candidato oficial, Júlio Campos reuniu os principais líderes da região para organizar estratégias eleitorais em Cáceres. Lá estavam o prefeito Ivo Scaff, vereadores, empresários e funcionários públicos graduados.
Mas faltava alguém. O ex-prefeito Antonio Fontes foi solenemente esquecido. Era um crítico arguto da administração municipal. O encontro corria bem, como de costume, quando irrompeu sala adentro, Conceição Fontes, esposa do ex-prefeito (mãe do atual prefeito Túlio Fontes), fazendo um melancólico desagravo ao marido.
Levou o dedo em riste e proclamou com voz aguda e trêmula:
- Julinho, aqui não tem homem! Só um bando de covardes. Eles não têm coragem de enfrentar de cara limpa o Antonio. O que estão fazendo com o Antonio é uma traição. Vou te avisar, você vai perder a eleição aqui...
Com a mesma volúpia com que entrou, Conceição saiu. Todos se entreolharam apalermados, sem reação. Mas as palavras ficaram reverberando no ar, como uma sentença, por algum tempo.
Quando vieram as eleições, em novembro, Júlio Campos tomou uma surra histórica do padre Pombo na cidade. Venceu no Estado, mas apanhou feio em Cáceres. Foram cinco mil votos de diferença a favor do candidato do PMDB.
Naquela época, ainda sob a égide da política de segurança nacional engendrada pelo regime militar, os prefeitos de faixa de fronteira eram nomeados pelo governo. Como nas capitais, os municípios fronteiriços não elegiam seus gestores.
Caberia ao governador recém empossado indicar o novo administrador de Cáceres. Logo ressoaram na memória de Júlio Campos as proféticas palavras da esposa de Antonio Fontes. Ele não teve dúvidas, nomeou Nana Farias para o cargo.
Acreditou em Conceição, lá não tinha homem...
(*) PAULO LEITE é jornalista e publicitário e escreve para HiperNoticias.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.
Judite 18/05/2012
A esposa do ex-prefeito de Cáceres Antonio Fontes, morto no ano 2000, chama-se Marília Campos Fontes, mãe do atual prefeito Túlio Fontes.
José Aparecido 11/02/2012
Ah se existissem uma Dª Conceição em cada cidade de MT, talvez teríamos outra sorte.Talvez muitos desmandos teriam sido evitado, mas como dificilmente existem "homens" na política que acompanham os favoritos, A dinastia Campos fez o que bem quiz com o nosso estado durante um bom tempo. Não votei e não voto nessa cambada de Campos. Parabéns à Dª Conceição e Parabéns a você Paulo Leite pelo artigo!
2 comentários