Um dos atos fisiológicos mais controvertidos é o ato de peidar, principalmente se ele for um ato involuntário, ou voluntariamente discreto realizado em público. Mas porque falar de um assunto tão desagradável, tão próximo de outro ato humano tão necessário a saúde que é a necessidade de defecar. Para amenizar a celeuma que o assunto provoca inventaram até nomes mais sofisticados para o peido, assim denominado, chiquimente, de flatulências ou flatos.
Mas por mais que não se admita que peidar é gostoso, que dá uma sensação agradável de alívio, quando se faz em público e há um cachorro ou uma criança por perto, ninguém assumi a autoria da má cheirosa façanha. Dizem que para os japoneses peidar em público é considerado uma ofensa grave. No Brasil conheço pessoas que se dizem capazes de terminar um namoro, um noivado ou até um casamento se o parceiro ou parceira ousar peidar na sua frente. E se for na cama, depois ou durante o ato sexual, aí é que a coisa se complica.
Já conheci dois amigos inseparáveis que romperam a amizade por causa de um peido, mas confesso que dei razão ao amigo que se sentiu ofendido e desrespeitado pelo camarada. O ilustre senhor, autor do ato infame, estava realmente podre depois daquela tarde de churrasco e cervejada. Uma vez ouvi duas pessoas falando que os carnívoros peidam mais fedido que os vegetarianos, e fiquei a imaginar com meus botões, será que é verdadeira a afirmação? Acho que na disputa entre carnívoros e vegetarianos dá empate, pois um almoço natural regado a repolho, batata, lentilha, cebola e carne de soja não deixar nada a desejar em relação à produção de gases provocada por um cardápio carnívoro, a exemplo de uma suculenta feijoada.
Mas, apesar das controvérsias que envolvem o assunto, a realidade é que todo mundo peida fedido, é um ato que nos iguala socialmente mais do que qualquer revolução marxista. Mas quem poderia imaginar o ex-casal Brad Pit e sua belíssima Angeline Joli trocando flatulências no camarim de gravação de um glamoroso filme Hollywoodiano. Não daria nem para pensar a seríssima ex-presidente Dilma soltando um sonoro e insustentável pum. Sem dúvida alguma um assessor puxa-saco interpretaria o episódio, tão simples e corriqueiro, como um ato público imbuído de toda importância e autoridade, mas que deveria ficar encerrado nos corredores do Palácio Jaburú, longe dos ouvidos e narizes dos abutres da imprensa sensacionalista, sempre à procura de escândalos e gafes.
Não podemos esquecer, também, que Kate Middleton, casada com toda pompa real britânica com o príncipe Guilherme e condecorada com o título de Duquesa de Cambridge, com certeza continua a fabricar gases como qualquer plebeia ou nobre do Palácio de Buckingham. Quem sabe os libere sonoramente quando está sozinha nos aposentos imperiais, como forma de protesto contra os excessos de etiqueta que envolvem e escravizam os personagens ilustres da realeza.
Mas a verdade é que não devemos obrigar os outros a conviverem com o cheiro desagradável dos nossos puns, a não ser que haja um pacto amigável de convivência e reciprocidade, um consentimento mútuo de compartilhar gases hilariantes, pois o riso acompanha muitas vezes os festivais que se formam em torno desta prática tão humana. Acredito que a celeuma que envolve a questão se deve ao fato do peido nos aproximar fisiologicamente dos outros animais, não digo que nos aproxima do jumento, cuja sequência de puns é um show escandaloso, de uma potência sonora inimitável para os padrões humanos de escapamento. Mas que o peido biologicamente nos irmana e aproxima é incontestável.
Antes de encerrar o assunto vale lembrar que, para os patrulheiros das normas de etiqueta, é inaceitável deixar que o peido suba de elevador e se materialize na forma de arroto, sem que seja devidamente acompanhado de um pedido de desculpas. Não podemos esquecer também que nossa emissão de flatos, na sua forma clássica, deve favores infinitos a discrição das poltronas, ainda bem que elas não falam. Oh! Coitadas!
(*) PAULO WAGNER é Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos de Linguagens e Literatura.
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