Steffano Scarabottolo |
A feijoada tem origem européia - quem diz é Câmara Cascudo, em uma citação de Narloch. Ele conta que nem índios nem negros tinham o hábito de misturar feijão com carne.
A técnica do preparo da feijoada vem do Império Romano. Os europeus latinos faziam cozidos de mistura de legumes e carnes.
Cada região de influência romana adotou sua variação: o cozido português, a paella espanhola. O cassoulet da França, criado no século XIV, é parecidíssimo com a feijoada: feito com feijão branco, linguiça, salsicha e carne de porco.
Com o feijão preto, espécie nativa da América, que os europeus adoraram, o prato virou atração entre os brasileiros endinheirados, conclui Narloch.
Muita gente repete a história que a feijoada nasceu nas senzalas, criada pelos escravos com feijão e carnes desprezadas na casa-grande.
Eis um daqueles mitos que, de tão repetidos, se tornam difíceis de derrubar. A feijoada era uma refeição que ficou bem longe das senzalas.
Esta história que aprendemos na escola, que a feijoada veio para o Brasil através dos africanos, é pura fantasia.
O brasileiro abrasileirou a feijoada européia, a ponto de colocar nos cardápios grã finos da época: “feijoada à brasileira”, que era feita com feijão preto.
Hoje é um dos pratos mais populares do Brasil, sendo um dos favoritos, tanto entre as classes sociais menos privilegiadas, até aos ricaços.
O que me fascina na feijoada brasileira é o seu ritual. Sábado é o dia dedicado à feijoada. O aperitivo é aquela bebida feita da cana-de-açúcar para abrir o apetite.
Feijoada brasileira tem tantos ingredientes que virou comida oficial das Escolas de Samba, com os seus milhares de componentes. Até a laranja entra no pacote da feijoada completa.
Com boa pimenta malagueta, uns copinhos da estupidamente loura gelada e ao som do cavaquinho e do cantar das pastoras, é a genuína feijoada brasileira, genérica da européia.
De comida de endinheirados do Brasil colônia e europeus sofisticados, a feijoada virou marca nacional, com o samba e rebolados das mulatas.
A feijoada é a comida mais democrática do Brasil. Dos restaurantes de luxo às favelas. O seu dia, repito, tem que ser sábado para alguns emendarem com o domingo. Outros, como eu, pegam uma soneca que, às vezes, nos leva a acordar no dia seguinte.
E quem diria que a feijoada é européia, heim?
(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico, professor fundador da UFMT e colaborador de HiperNoticias. E-mail: [email protected]
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