Agora em novembro de 2025, o Brasil esta sediando a COP30, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, na cidade de Belém do Pará. A escolha do local é simbólica: é na Amazónia que se trava uma das mais complexas batalhas contemporâneas, a de conciliar crescimento económico, produção de alimentos e preservação ambiental.
A floresta amazônica é um ativo global. Sozinha, armazena mais de 150 mil milhões de toneladas de carbono e concentra 10% da biodiversidade do planeta. Contudo, a região continua a enfrentar pressões intensas pela expansão agrícola e exploração de recursos naturais.
O Brasil chega à COP30 prometendo liderar uma transição verde baseada na bioeconomia e em modelos produtivos sustentáveis. No papel, trata-se de um projeto ambicioso e coerente com os compromissos do Acordo de Paris. Na prática, entretanto, o país ainda depende fortemente de modelos agrícolas convencionais, que são responsáveis pela maior parte das emissões e do desmatamento na Amazónia.
Enquanto o discurso oficial defende a “floresta em pé”, políticas públicas e subsídios continuam a beneficiar grandes cadeias produtivas de soja e pecuária. O resultado é uma contradição estrutural entre as metas climáticas globais e os incentivos econômicos internos.
A floresta em pé tem valor para o mundo, mas o produtor local precisa viver do que produz, . Sem um mercado que remunere a conservação, o desmatamento segue sendo economicamente mais vantajoso.
As contradições da Amazônia não são apenas ecológicas, são, sobretudo, políticas. O agronegócio representa quase 25% do PIB brasileiro e possui grande influência no Congresso Nacional e nas decisões de governo. Por outro lado, comunidades indígenas e ribeirinhas lutam para garantir o direito à terra e à autodeterminação sobre seus territórios.
O desafio do governo federal é conciliar interesses tão distintos sem comprometer a credibilidade internacional do país. Para especialistas em ciência política, a COP30 será um teste de governança multinível, exigindo que políticas locais, estaduais e nacionais dialoguem com as metas climáticas globais.
Nos últimos anos, projetos de agricultura de baixo carbono, agroflorestas comunitárias e bioeconomia têm surgido como alternativas viáveis. Em Belém, por exemplo, serão apresentados programas que destinam recursos para cadeias produtivas sustentáveis envolvendo populações tradicionais.
Apesar desses avanços, o grande desafio é transformar experiências pontuais em políticas estruturais, capazes de competir economicamente com o modelo extrativo e predatório que domina a região.
No fundo, o dilema amazônico é uma questão de justiça econômica: quem ganha e quem paga pela transição ecológica? Se o custo da preservação recair apenas sobre as populações locais, dificilmente haverá equidade ou sustentabilidade.
A COP30 é, portanto, mais do que uma conferência: é uma encruzilhada histórica. Se o Brasil conseguir transformar o discurso de sustentabilidade em política efetiva, poderá posicionar-se como líder global do clima. Caso contrário, a Amazônia continuará a simbolizar o paradoxo de um mundo que fala em salvar o planeta, mas insiste em explorar a sua maior floresta.
(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista político e professor universitário.
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