Há algumas semanas, com a descoberta de uma concentração enorme de petróleo na foz do Rio Amazonas, revivemos episódios de discussões entre ambientalistas e empresários/extrativistas. Agora, há poucos dias atrás, surgiu na mídia uma grande celeuma a respeito de certas alterações na legislação ambiental. Foi o suficiente para mais uma vez ressuscitar a imensa rixa entre os mesmos personagens.
Isso me fez refletir um pouco sobre a falta de sentido destas rusgas. Sei que o ambientalista não quer voltar a viver em uma caverna, sacrificando seu bem-estar para conservar toda a natureza ao seu redor. O empresário também não anseia destruir o meio ambiente em troca exclusiva de lucros, sabendo que também sofrerá as consequências da sua depredação. No fim da linha todos querem o mesmo objetivo: um progresso sustentável (social e ambiental).
Percebo, contudo, que poucos se esforçam para que exista uma conversa saudável, sem resgatar a energia negativa desta rixa historicamente alimentada. Quando a ministra Marina atendeu à um convite comparecendo no Senado Federal, ela não foi poupada de severas e ácidas críticas, muito pela sua histórica postura de ambientalista. Por outro lado, também não lembro de uma autocrítica sua assumindo que deveria existir uma interação cada vez maior entre todos aqueles que estejam envolvidos em projetos relativos à mãe natureza.
Teremos em breve o evento da COP30 na cidade de Belém/PA. E talvez seja unânime que, após inúmeros estudos atestando sólidas evidências da crítica degradação ambiental atual, este momento é um marco mundial para as reflexões envolvendo o futuro da humanidade, principalmente sobre o que o homem está fazendo (e pode vir a fazer) com o planeta Terra, e as consequências de tudo isto.
Embora eventos desta magnitude sejam importantes, sinto muita falta, confesso, de reflexões pequenas, mas cotidianas, sobre o impacto das nossas atitudes para o meio ambiente. E são minúsculas atitudes. Vejam um exemplo simples e rotineiro: no mercado, para embalar suas compras, você, leitor, leva sua sacola reciclável/reutilizável, ou utiliza as sacolinhas plásticas que o estabelecimento fornece? Desnecessário dizer o quanto que isso, em larga escala, vem impactando o meio ambiente.
Notem que esta reflexão está atrelada à outra falha, a falta de políticas públicas que incentivem a conscientização da população. Não sei se vocês já notaram, mas quando chegamos nos caixas dos mercados em São Paulo (cidade e estado) recebemos duas perguntas: quer o CPF na nota(?); e, vai precisar de sacola plástica(?). Aqui no estado de Mato Grosso (chamado de o celeiro do mundo), a primeira pergunta eu sempre recebo, mas a segunda nunca ouvi. Isso ocorre lá em São Paulo porque legalmente é proibido fornecer sacolas plásticas comuns, mas apenas aquelas feitas de fontes renováveis e com tecnologia sustentável, e os estabe-lecimentos podem cobrar por estas sacolas.
Claro que isso foi implantado de forma paulatina, mas hoje as pessoas já criaram o costume da necessidade de providenciar uma sacola, ou já sabem que vão precisar pagar para embalar suas compras. Este é um exemplo clássico de política pública que deu certo, e poderia muito bem ser adotada por outros órgãos públicos, ou mesmo ser uma iniciativa de estabelecimentos privados preocupados com a agenda da sustentabilidade.
Quando conseguimos nos desarmar e conversar com sinceridade sobre determinadas discordâncias não raro percebermos que existem muitos pontos em comum, mostrando que o real problema se resumia na falta de comunicação adequada. E este processo de comunicação eficiente tende à evitar muitos problemas, entre eles um imenso, que já faz parte do chamado risco Brasil; sim, ela, a insegurança jurídica.
São inúmeras as demandas judiciais que discutem questões ambientais e paralisam projetos que seriam essenciais para a vida de milhares de seres vivos (pessoas, animais, plantas, etc). Dou apenas um exemplo, que é a ADI 6553, ação judicial em tramite no STF, que suspendeu o projeto da Ferrogrão, a ferrovia que ligaria (ou ligará) a cidade de Sinop/MT até o porto de Miritituba/PA. Imaginem o quantas toneladas de CO2 seriam (ou serão) evitadas sem os milhares de caminhões que atualmente fazem o transporte de grãos e todo o tipo de produtos nas rodovias? Imaginem quantas pessoas deixariam (ou deixarão) de sofrer acidentes nas estradas? Imaginem o quanto se evitaria (ou se evitará) de desperdício de pro-dutos que se perdem nas rodovias? Isso tudo sem contar na eficiência logística, característica marcante deste modal.
Isso é apenas um mísero exemplo de quanto que a sociedade e a mãe natureza, todos perdem quando a comunicação é falha. Penso que se quisermos realmente alcançar harmonia e progresso socioambiental o começo de tudo é a clareza e eficiência na comunicação.
*LUCIANO PINTO é advogado e cidadão ([email protected])
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