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Artigos Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2025, 10:15 - A | A

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Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2025, 10h:15 - A | A

JOÃO EDISOM

Bancadas vendidas, povo traído

“Os representantes do povo não são os seus donos.” — Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social

JOÃO EDISOM

Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais evidente que parte significativa das bancadas no Congresso Nacional se encontra profundamente desconectada da realidade cotidiana da sociedade brasileira. Em vez de refletirem a pluralidade dos interesses populares, muitos parlamentares têm atuado como representantes de nichos específicos do poder econômico, de grupos minoritários, não em número, mas em força financeira. Essa ruptura entre representantes e representados não é um fenômeno isolado, mas o sintoma de uma crise mais profunda de legitimidade política.

Do ponto de vista da Ciência Política, Robert Dahl definiu a democracia moderna como um sistema no qual as decisões resultam de pressões plurais e equilibradas entre grupos sociais. No entanto, o equilíbrio tem sido rompido. O Congresso, em vez de responder às demandas majoritárias tais como saúde, educação, trabalho digno, segurança, mobilidade, saneamento, age muitas vezes para atender segmentos altamente concentrados, com interesses essencialmente econômicos.

O sociólogo C. Wright Mills, ainda na década de 1950, advertia que “uma elite do poder mantém o comando das principais decisões, enquanto a democracia se torna uma formalidade”. Esse alerta parece ter ganhado materialidade no Brasil: parlamentares se convertem, com frequência, em agentes políticos do capital, e não da cidadania.

Um fenômeno especialmente grave é o fato de que muitos políticos eleitos pertencem exatamente às classes médias e populares que vêm sofrendo erosão econômica. Ainda assim, atuam politicamente em favor de interesses que aceleram essa destruição.

Pierre Bourdieu explica esse comportamento ao tratar do conceito de violência simbólica: indivíduos adotam valores da classe dominante acreditando que assim ascenderão socialmente, quando, na prática, reforçam estruturas que os mantêm subordinados. Para esses parlamentares, “sentar-se à mesa dos poderosos” funciona como uma espécie de certificado ilusório de pertencimento. É a busca por reconhecimento elitista, nos moldes descritos por Hegel: a necessidade humana de ser reconhecido pelo outro ainda que esse outro seja justamente o agente de sua própria subjugação.

Entretanto, como lembra Hannah Arendt, “o poder nasce do estar junto, da pluralidade” não da submissão. Quando representantes se curvam aos detentores do capital, deixam de exercer poder político e passam a exercer mera função administrativa em benefício de poucos. Transformam-se, nas palavras fortes de Marx, em “procuradores dos interesses alheios”, operadores de um mecanismo que retira do pobre, do trabalhador, do pequeno e médio empresário para redistribuir ao topo da pirâmide social.

O fenômeno não se limita a indivíduos, mas se cristaliza na forma de “bancadas”. O termo, que deveria significar articulação programática, hoje frequentemente designa alianças que defendem setores altamente lucrativos, muitas vezes descolados das necessidades nacionais. Seja na defesa de isenções, subsídios, benefícios fiscais, flexibilizações regulatórias ou manobras orçamentárias, o foco real tem sido reforçar privilégios de grupos econômicos já concentrados.

Como observou o filósofo político contemporâneo Wendy Brown, democracias capturadas pelo neoliberalismo deixam de lado o interesse público e passam a operar segundo uma lógica empresarial dominante: o cidadão se torna cliente, o Estado se torna gestor e o parlamentar se torna mediador privado. Isso desfigura a própria essência da representação política.

As consequências são conhecidas: aumento da desigualdade, precarização do trabalho, enfraquecimento de políticas sociais, destruição dos mecanismos de mobilidade social, destruição dos sonhos empreendedores e um sentimento crescente de abandono entre a população.

Max Weber lembrava que a ética da responsabilidade deve orientar qualquer agente público. Porém, essa ética tem sido substituída, muitas vezes, por uma lógica de mercado político na qual influência, emendas, favores e alinhamentos estratégicos valem mais do que o contrato democrático firmado com o eleitor.

Reaproximar o Parlamento da população não é um exercício de retórica; é uma necessidade estrutural. Democracias colapsam quando representantes deixam de ouvir seu povo. Como dizia Rousseau, “o soberano é a vontade geral”, e qualquer afastamento prolongado leva ao descrédito das instituições, fenômeno que já percebemos na crescente apatia cívica e na desconfiança generalizada.

Não se trata de demonizar o Legislativo, mas de expor uma dinâmica que se tornou corrosiva. A crítica filosófica, nesse contexto, é um gesto de preservação, não de destruição. O combate à captura econômica das bancadas não é um ataque à política é uma defesa da democracia.

O Congresso precisa voltar a ser o que a Constituição determina: a casa do povo. Não de alguns poucos.

(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Artigo de análise política e filosófica.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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