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Artigos Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2020, 07:40 - A | A

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Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2020, 07h:40 - A | A

NEILA BARRETO

A indústria seringueira

NEILA BARRETO

Divulgação

Neila Barreto

Segundo, Virgílio Corrêa Filho, a indústria seringueira adveio da Amazônia que, desde 1827, pelo menos, começou a figurar nas estatísticas de exportação com a sua borracha, embora em quantidade ainda diminuta.

Estevão de Mendonça, conforme Corrêa Filho, em suas “Datas Mato-Grossenses”, informava que em ,15 de dezembro de 1872, partia de Cuiabá com destino a Paris o negociante Martins Guilherme, conduzindo a primeira amostra de borracha mato-grossense, extraída no Rio Preto, afluente do Arinos, por José Sabo Alves de Oliveira.

Da mesma procedência, foi enviada amostra para a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional que, em 03 de março de 1874 emitiu o seguinte parecer: “(...) na província de Mato Grosso abunda a seringueira (...) nas margens do Rio Preto, dando resultado satisfatório animando algumas pessoas a prosseguirem em tais explorações”, cita Corrêa Filho.

No processo da seringa, uma junta de doutos, constituída de Dr. Antônio Corrêa de Sousa Costa, dr. Agostinho José de Sousa Lima e Américo Rodrigues de Vasconcelos informava que “o emprego do alume, como meio de operar a coagulação da seiva da seringueira, é muito vantajoso, não só porque dá esse resultado um produto muito mais belo, como pela grande economia de trabalho, que torna esta indústria mais lucrativa”, utilizando para isso a pedra ume, em vez da defumação usual na Amazônia.

O artigo, que o “Álbum Gráfico de Mato Grosso, estampou a respeito desse processo com a borracha informava que, “ logo após a guerra do Paraguai, o major José Vieira da Silva Coqueiro, brasileiro, celibatário, (...) em seus primeiros ensaios no lugar denominado Água-Fria (Pulador), hoje região de Chapada dos Guimarães, “coagulava o látex pela fumigação, onde cascas de piúva ou cocos de acuri forneciam, pela combustão, a fumaça a que era exposta a pá especial de madeira, depois de mergulhada no depósito da colheita do dia. Ao final de dois anos, passou a trabalhar no Juruena, no lugar Ilha-Comprida logo abaixo a foz do Arinos.

José Sabo Alves de Oliveira, coronel da guarda Nacional, carioca, nascido em 1840, residente em Diamantino, começou a extração a borracha com a ajuda de quatro homens.

Em 1872, Martim Guilherme, francês, residente em Mato Grosso, introduziu na coagulação do látex o processo do alume, no mesmo sítio de Água-Fria, cujo sistema passou a ser adotado em toda região.

Com opiniões favoráveis de consultores idôneos sobre a indústria da borracha, Antônio Bruno Borges extrai das matas do Rio Novo maior partida do produto e, estimulando as transações mercantis com atraentes lucros financeiros.

Com a facilidade do sistema fluvial abriu-se em leque as vias eficientes de comunicação, pertencente ao Guaporé, onde o capitão Antônio Rodrigues de Araújo por meio do S. Simãozinho escolheu para a sangria das seringueiras, seguido de concorrentes, que preferiram o S. Miguel, os arredores de Pedras Negras, ou qualquer sítio, livre ainda de apossamento. Os dois empreendimentos assinalaram os núcleos de cristalização em torno do produto seringueiro ensaiando assim, a promissora indústria, em Mato Grosso.

Os produtos seringueiros advindos da produção guaporeana, obtidos com a técnica amazônica da defumação, rodavam pelo rio até o trecho encachoeirado, distendido de Guajará-Mirim a Santo Antônio, antes de ser flanqueado pela via férrea e, daí prosseguiam em navegação desimpedida, as cargas procedentes das regiões centralizadas por Diamantino, que transpunham o divisor de águas e exigiam meios diversos de condução.

Foram vários os obstáculos para o transporte da borracha. Do vale do Arinos a Cuiabá, do Juruena, do Paranatinga, das cabeceiras do Xingu, a distância a percorrer pelos cargueiros não estimada em 26 léguas, seria percorrida em um dia de viagem, nas lanchas movidas por motores de explosão, capazes de rebocar dois ou mais barcos atestados de borracha.

Antônio Bruno Borges, no Quilombo, Serra Acima fazia o seu comércio por meio da exploração dos seringais dos rios Verde e Novo, onde as pranchas regulares, enformadas, eram colocadas nas cangalhas, que iam, ao chouto dos cargueiros, por léguas e léguas, até a residência principal. Daí em carro de bois, desciam para o planalto do Porto de Cuiabá e embarcados para Corumbá, davam as cargas o seu destino final. O preço pago por Martim Guilherme de 22$000, mal dava para cobrir os gastos do industrial, que desistiu de continuar.

Em 31 de outubro de 1884, Floriano Peixoto cria lei que deixa livre os direitos municipais e provinciais por cinco anos a borracha extraída na Província, ao que hoje, conhecemos como incentivos fiscais dados, pelo governo, aos produtores rurais e industrias diversas. Cáceres correspondia a Cuiabá, na função centralizadora da colheita. Pelo rio Cuiabá, ao som das correntes, ou pelo Paraguai, às remessas dos exportadores, rodavam até os transatlânticos, no extremo da linha fluvial. Em quatro dias de viajem alcançavam Corumbá. Com mais dez passavam a Montevidéu. Os vinte derradeiros decorriam na travessia atlântica até Londres ou Hamburgo, onde eram negociadas.

Mediante situação difícil dos industriais, o presidente da Província José Miranda da Silva Reis sancionou a 30 de maio de 1874, lei que fomentasse a extração da borracha premiando os principais produtores, por arroba de borracha para as primeiras duas mil arrobas e, exportada da Província.

Porém, em 3 de dezembro de 1888, o presidente Francisco Rafael de Melo Rego edita nova lei sobre a produção da borracha, retirando dos industriais os incentivos fiscais, produzindo instabilidade na nascente indústria mato-grossense.

A diversidade dos meios de transportes não era a única diferença entre os aspectos da indústria seringueira na Amazônia e em Mato Grosso. Em relação à extração do líquido e seu beneficiamento ulterior, também apresentavam modalidades peculiares. Já avultava no Norte a grita contra os processos exaustivos de sangria, em amplexo mortal, e não aplicavam ainda os seringueiros do Sul processo menos devastador, dificultando a restauração dos tecidos dilacerados, minguando a produção dos distritos de Cametá, de Marajó, do baixo Madeira, onde alvorecera a indústria seringueira.

Em Mato Grosso, era o mesmo primitivo processo indígena que logrou maior aceitação, ainda às vésperas da derrocada estonteante em que soçobraram as empresas industriais. Sabedores precavidos denunciavam o perigo, que se aproximava.

Wenceslau Belo, em 1907, ao balancear as atividades econômicas do Brasil, “que lhe pudesse proporcionar o reino vegetal, explanou longamente o que sabia a respeito da seringueira e de sua utilização industrial. No estrangeiro, escreveu: “essa cultura já é uma realidade, porquanto as Índias Orientais já cantam vitória com seus milhões de héveas, produzindo borracha de superior qualidade”. Informava, também, que já existiam nas colônias europeias cerca de 28 milhões de héveas cultivadas, porém acrescentou que o Brasil era hegemônico na produção da seringa.

Corrêa Filho informava que tais apontamentos levaram as autoridades brasileiras e os próprios industriais a uma ilusão de prosperidade infindável, até porque os mercados europeus já eram sacudidos pela produção da borracha Oriental.

Em 1906, os plantadores orientais enviavam aos empórios somente 510 toneladas de borracha e, a produção brasileira orçava 36.000, acima da contribuição dos demais concorrentes, que, em conjunto, não dariam mais de 29.700. Nesse cômputo Mato Grosso entrava com cerca de 1.000 toneladas.

Nos anos seguintes avultava o contingente oriental, estacionava ou reduzia-se a remessa brasileira, senão em quantidade, seguramente em valor. Enquanto se avolumava a colheita nas plantações asiáticas, ampliando de igual passo o consumo, o Brasil angustiava-se na desorganização da sua indústria extrativista, enfraquecendo progressivamente a sua exportação.

Em Mato Grosso, em 1907, a situação de sua produção conforme dados estatísticos  disponíveis à época e utilizados por Virgílio Correa Filho indicavam o seguinte desempenho da atividade econômica de exploração da borracha no que diz respeito às exportações do produto pelos portos de Corumbá e do Rio Madeira: a exportação do produto teve um volume de 1.114 toneladas no ano de 1907, alcançou o seu melhor desempenho em 1919, com 4.606 toneladas, no valor de 12.486:094$000, quando começa então, a sua retratação, chegando à apenas 2.824 toneladas no ano de 1921, no valor de 4.346:146$000, explicitado em sua página 140, em amplo quadro estatístico.

Após essa derrocada, o governo Federal, ainda tentou ajudar com o seu plano de Proteção da Borracha, que não tardou a ser abandonado. Por outro lado, Pedro Celestino tentou acudir à indústria, promovendo à vedação total da taxação da borracha exportada pelo porto de Corumbá. Não bastou. As derradeiras partidas de borracha dessa procedência vendidas em Londres não cobriram sequer as despesas de transporte e armazenagem.

Da trágica derrocada somente se salvaram os comerciantes que investiram, parte do seu capital, em lotes de terras. A conquista, pela invasão nipônica, dos territórios, cerrou para o mundo ocidental vasto mercado fornecedor da matéria prima e, proporcionou ao Brasil o ensejo de retomar as suas atividades doutora nos esquecidos seringais, solicitados a contribuir com os seus produtos para a vitória das Nações aliadas.

Aquelas promissoras terras de seringais com as suas paragens fabulosas que tiveram o seu esplendor, onde os produtores brasileiros não souberam defender-se a tempo, em função do declínio angustiante, foi devido a carência de organização no mercado da borracha, o que contribuiu sensivelmente para o seu declínio.

A criação do território do Guaporé, em 1943, acaba com a exportação da borracha de Mato Grosso, uma vez que as maiores áreas de seringueiras estavam localizadas naquela região, atualmente o estado de Rondônia. 

Em 1953, foi fundada a Superintendência para Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) com o objetivo ao incentivo e financiamento da produção regional. Surgiu então, o Banco de Crédito da Amazônia, que adotou uma política objetiva para o fomento da produção gomífera e planos para comercialização.

Mato Grosso em 1961 produzia 1.220 toneladas de borracha para uma produção nacional de 23.000 toneladas e, a produção tendia a aumentar devido ao cultivo que estava se expandindo. Em 1967 é criada a SUDHEVEA (Lei 5.227) -SUPERINTENDÊNCIA DA BORRACHA - SUDHEVEA, a qual   com o intuito de ser o órgão executor de uma política da borracha no Brasil, cujo órgão normatizador do setor foi o Conselho Nacional da Borracha.

Essas instituições representaram uma reorientação da política governamental para esta matéria-prima. Entendendo a borracha como produto estratégico, o governo militar decidiu intervir na produção e no mercado do elastômero, com fins de conquistar a autossuficiência em borracha natural. 

Em 1972, a heveicultura volta ao Estado de Mato Grosso que possuía então, após catorze anos de trabalho (1958 a 1972), 6.972 ha de seringueiras plantadas, (Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural - PROBOR), contudo o grau de abandono das áreas de seringa era tal que, para se iniciar o atual período de trabalho com seringal, fez-se necessário buscar material clonal em outros Estados.

Em 1989, após 17 anos de trabalho dos produtores, Emater-MT - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado de Mato Grosso e SUDHEVEA, o Estado possuía 41.756 ha de seringais de cultivo.   Grandes empresas como a Pirelli, Bom Brasil, Bonson Amazônia, Michelin instalavam suas usinas nos municípios produtores do estado, de modo a comprar a matéria prima dos pequenos produtores, contudo a baixa produção pelo corte nos incentivos governamentais acabou afugentando a maior parte das empresas. Nas usinas, fazia-se o beneficiamento primário do látex, que consistia no tradicional processo de lavagem, formação de crepe e secagem.

Na última década, novas tecnologias surgiram, as usinas passaram a adotar a granulação, que homogeneíza a matéria-prima. Os clones foram sofrendo melhorias genéticas e a produção foi se tornando mais estável e melhorando a qualidade. A produção de borracha ficou estagnada durante todo esse período, mas nunca parou totalmente.

 

(*) NEILA SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]  

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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