RAY REIS |
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Felizmente, de uns tempos para cá, nossos compatriotas começaram uma peregrinação cívica pelo passado, revisitando nossa história e, assim, tentando compreender a gênese do primado político de nossa gente. Uma nova e radiante luz está clareando alguns aspectos da memória nacional. Há, neste momento, um foco todo especial sobre os dois reinados brasileiros, ocorridos no Século XIX. Acaba de ser lançado um novo livro sobre as aflições da família real no exílio, contado magistralmente num diário da Baronesa de Loreto. Outra obra que frequenta, neste fim de ano, a lista das mais vendidas é “1989”, do jornalista Laurentino Gomes.
De um sistema político anacrônico e ridículo, sob um olhar menos preconceituoso e mais adequado, o Império tem sido visto, agora, como um momento de grandes virtudes dos estadistas brasileiros, quando o bem coletivo e a noção correta de progresso superavam os privilégios e sinecuras da elite. Coisa que a República tratou de distorcer, com uma infame e continuada propaganda antimonarquista.
Mas, voltando ao personagem central, Pedro I, se eu fosse Dilma contrataria o diretor Steven Spielberg para rodar uma película sobre este vulto histórico. Como protagonista do filme, não exigiria nada menos que Tom Cruise ou Tom Hanks, e, no papel de Marquesa de Santos, ninguém menos que Angelina Jolie. Seria um sucesso retumbante. Candidato a uma fila de Oscar's. Pois, o roteiro desta trama é um dos mais fascinantes da humanidade.
Veja que argumento sensacional:
Pedro de Alcântara, aos nove anos, deixa as cortes portuguesas, atravessa o inóspito Oceano Atlântico, fugindo com a família da fúria sanguinária de Napoleão Bonaparte, que encurralara o pequeno reino lusitano. Chega ao Brasil, uma nação tropical nua e crua, epilético e com saúde frágil. Aos poucos adquire os viços e os vícios da nova terra. Na juventude torna-se o mais difamado boêmio, seresteiro e proxeneta do Rio de Janeiro. Sai desta condição aviltante para sagrar-se príncipe regente e, logo em seguida, decretar a independência do Brasil.
Torna-se o único monarca do Novo Mundo, unificando uma nação continental, tanto pela eloquência de seu magnetismo pessoal, quanto pela força da baioneta. Com a morte do pai, D. João VI, é ungido rei de Portugal e, quatro dias após sua indicação, abdica ao trono lusitano em favor da filha Maria da Glória. Foi, portanto, monarca em dois continentes, e ao mesmo tempo.
Com seu temperamento irascível e dominador, logo cria uma forte corrente de oposição entre os brasileiros, renunciando ao trono em favor do filho de apenas cinco anos. Regressa para a Europa, onde vê o governo de sua primogênita usurpado pelo seu irmão Miguel. Apoiado pelo rei da França, seu primo Luiz, abre sangrenta guerra contra o tirano português, que havia rasgado a Constituição e imposto, novamente, um regime absolutista.
À frente de um exército de liberais e idealistas de toda a Europa, com poucos armamentos e um contingente reduzido, sai da Ilha da Madeira e conquista a Cidade do Porto. Fica sitiado neste refúgio por dois anos, combatendo as tropas legalistas, muito mais numerosas e equipadas. Na base do puro heroísmo e da sorte, consegue vencer a revolução e restaura o trono da filha. Devolve Portugal ao regime constitucionalista, mas ao se negar a impor a pena capital (morte) contra o irmão, distancia-se dos aliados liberais. Mas, não havia tempo para mais nada, Pedro falece em Queluz, no mesmo quarto em que nasceu, aos 36 anos de idade, com a aparência física de um homem de 60 anos. Foi, sem dúvida, um herói. Mais corajoso que Robin Hood, mais ousado que o Zorro, mais patriota que o cavaleiro Ivanhoé e tão nobre quanto Sir Lancelote.
Dá ou não dá um filmaço?
*PAULO LEITE é jornalista e escritor
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