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Artigos Quinta-feira, 08 de Dezembro de 2011, 21:12 - A | A

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Quinta-feira, 08 de Dezembro de 2011, 21h:12 - A | A

Saudades do deadline

Quando comecei no jornalismo na década de 1990 pensava que a maior opressão do repórter era o deadline, o prazo limite para se concluir as matérias. Hoje, não tem mais deadline: toda hora é hora de escrever novas histórias para um leitor permanente

KLEBER LIMA
[email protected]

 

Mayke Toscano

 

Quando comecei no jornalismo na década de 1990 pensava que a maior opressão do repórter era o deadline, o prazo limite para se concluir as matérias.

O processo jornalístico é penoso. O leitor que consome uma notícia muitas vezes não faz ideia do passo-a-passo todo. Da pauta ao título há uma enormidade de situações. Conhecer o assunto, levantar fontes, contatá-las, ouvir o outro lado, revisar documentos, fatos históricos, pensar na fotografia ou imagem, no caso da TV, e finalmente sentar e escrever, esforçando-se para contar a história levantada com o máximo de apuro e, se possível, com alguma beleza estilística ou estética.

Há entre os jornalistas os que consideram a etapa da apuração mais importante que a da redação. Eu mesmo sou inclinado a pender para esse grupo. Se a história está bem levantada (conteúdo), não seria o jeito de escrever (forma) que determinaria sua relevância. Mas isso é tão terrivelmente controverso na medida que uma história mal-contada provavelmente não será lida -ou o será por menos gente que poderia ser.

Logo, ser capaz de contar a história de forma atrativa e inteligente acaba tendo um peso quase igual ao da apuração. Mas, sempre tomando o cuidado para não errar na mão, e confundir criatividade com excentricidade ou extravagância. Construir um título levando tudo isso em conta é algo destroçador.

Nesse sentido o deadline era ainda mais terrível. Porque o repórter às vezes leva o dia todo apurando uma história e ainda tem que escrevê-la em meia hora ou 20 minutos. Como ser criativo na produção em série?!

Especialmente nos dias de hoje, quando prevalece a economia das palavras, onde cada vez mais gentes se comunicam com os 140 toques do twitter ou por torpedos de celular, recriando o alfabeto à imagem e semelhança de meros caracteres, talvez a tarefa de escrever com estilo, de contar histórias de modo criativo seja ainda mais inatingível na atividade jornalística!

Pessoalmente, adoro o ato de escrever. Às vezes escrevo mesmo sem ter ideias - ou uma história - na cabeça. As palavras meio que vão brotando a partir das já grafadas, como que num passe de mágica. Mas, isso não é jornalismo. É crônica, poesia, passa-tempo ou qualquer outra coisa.

Jornalismo deve conter uma história, de preferência verídica! Ah, como assim?! Há alguns gêneros de jornalismo literário que permitem certas licenças poéticas, ficção, mas o objetivo será sempre contar uma história.

Durante anos escrevi apenas artigos, onde há menos rigidez e regras, uma vez que se trata não de contar histórias, mas de emitir opinião, fazer análises, divagar, lucubrar, deduzir, induzir, refletir coletivamente. Relendo-os, consigo ver como mudei de opinião em certos assuntos, e como certos assuntos ainda me parecem eternos – e sobre os quais não é possível mudar de opinião, jamais.

Voltar às redações, oportunidade que o HiperNoticias me dá há quase nove meses, contudo, me forçou a recuperar a mão para escrever notícias. A rigidez aos fatos, a busca pelas fontes, a confirmação de algo óbvio, mas que necessita de provas, muitas vezes é muito estressante. Ouvir o outro lado, quando o outro lado não quer falar, então, chega a ser brochante, frustrante, revoltante.

E, qual não tem sido minha surpresa ao ver que, na imprensa digital, nos sites, o deadline simplesmente não existe: toda hora é hora de se contar uma história, porque do outro lado da tela do computador há sempre alguém querendo consumir uma notícia nova.

Se o deadline era a própria opressão, mal sabia eu que sua extinção criaria a auto-escravidão! Se não nos policiarmos, trabalhamos 24 horas por dia, num ritmo frenético que desafia a capacidade produtiva humana. E, pior, tira o prazer do ato de escrever, de contar histórias.

Um site de notícias, por essa minha experiência, é uma página de jornal permanentemente em construção, aberta, com as letrinhas em movimento – e acelerado! Não há mais o ciclo diário: acordar, ler a concorrência, verificar as pautas, pausar para almoço, retomar o levantamento e, finalmente, redigir: missão cumprida! Qual nada. Tudo termina e começa quase ao mesmo tempo. Se no jornal a notícia perece em um dia, nos sites elas podem envelhecer antes de nascer, se não se tomar certos cuidados para evitar o fenômeno do “paradoxo dos gêmeos”.

Escrevo este artigo no dia em que completo 42 anos. Talvez seja só reflexo tardio da crise dos 40. Mas, que saudade do deadline!

(*) KLEBER LIMA é jornalista e Diretor do HiperNoticias

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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Mayke Toscano

Mayke Toscano

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Irmgard Toillier 09/12/2011

Compartilho com o jornalista do mesmo pesadelo: mal termino de dar manutencao no jardim dos meus clientes, um por um, la vem toda funcao de novo! Ervas daninhas nao tem fim, a grama nao para de crescer, os arbustos tem o poder de se desorganizar sozinhos. Entao, temos que estar sempre de prontidao, vigilantes e com saude de ferro para encarar o trabalho pesado, cansativo e neste sol que nao acaricia, queima nossa pele impiedosamente. E assim, cada um escreve sua historia.

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