Preto de amarelinho!

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Tem coisas que são características de políticas mesquinhas e confusas, onde o bem comum e a democracia não passam de utopias e de falácias academicistas. Nossos gestores, outrora fervorosos defensores destes valores populares ou populistas, quando na situação mais confortável de detentores do báculo administrativo, esquecem o real sentido de seu status quo. Ignorância ou má fé? Na nossa querida Cuiabá, como em algumas outras capitais, juntamente com o caos instalado na mobilidade urbana, multiplicaram-se agentes de trânsito, popularmente conhecidos e, à distância, reconhecidos com o codinome de amarelinhos. Anunciados como panaceia, mostra resultados, no mínimo, duvidosos. Nunca vi a cidade tão canarinha! Desde 2002, quando foram criados, estes servidores públicos parecem alienados sobre a sua função nas nossas ruas e calçadas, provocando inflamados protestos por parte dos motoristas, alvos de suas atuações, ou melhor, autuações. Ao que percebemos, a orientação e educação estão longe de ter espaço em suas cadernetas e canetas, sempre a postos nos lugares estratégicos, com pouca visibilidade, onde o condutor-pagador tem quase nenhuma chance de avistá-los. Qual a razão deste comportamento? Ensinar como se deve dirigir? Conscientizar os imprudentes no volante? Não sou tão ingênuo para acreditar nessas hipóteses. Alguém o é? Aliás, o próprio Código de Trânsito Brasileiro prevê a advertência e a atitude preventiva destes vigilantes como primeira medida antes das sanções que vem enchendo os cofres da arrecadação da Prefeitura.

Não sei se ganham por produção de multas ou apenas seus salários, o que sei e todos sabem, é que alguma coisa tem que ser feita para realinhar seu ofício e retribuir os investimentos fiscais que o contribuinte cuiabano generosamente desembolsa até com o sacrifício do próprio pão de cada dia. Vejo que a educação seja a melhor medida. Não vislumbro as ações coatoras mais eficazes que os obsoletos quebra-molas, soluções de criatividade reprimida, sobreviventes apenas em lugares subdesenvolvidos.

Outro dia, comentou-se bastante a surra que um deles levou de um senhor ao ser multado por uma de nossas avenidas. Inconformado com a injusta sanção, desceu do seu veículo e agrediu fisicamente a autoridade, que registrou Boletim de Ocorrência imediatamente. Disso podemos tirar algumas lições. Jamais fazer justiça com as próprias mãos, sem dúvida, é uma delas. Outra, talvez, em caso de erro do agente, também correr e denunciar o abuso na Delegacia. Daí, a coisa pode ficar mais séria. Ô, amarelinho! Tudo podia ser diferente... Podíamos viver em harmonia... Podíamos até admirá-los... Ou, pelo menos, suportá-los, mas como? Vira e mexe, aparece uma notificação daquelas impertinentes em casa. Assim, não dá! Está sendo mais conveniente e menos oneroso andar de “busu” ou a pé. Passeamos sem pressa de chegar, pelos engarrafamentos agravados depois destas valiosas contribuições amarelo-desbotadas...

Quando surgiram, eram uns vinte. Depois, com os resultados financeiros, dobraram. Ultimamente, entraram quase duzentos! Alguém deve estar satisfeito com esse desempenho. Existe até um plano de armarem estes operários das coimas! Treiná-los para o tato com o público, jamais! Não sei vocês, mas para mim, a Polícia Militar cuidava bem melhor desta função. E aqueles palhaços maquiados que, com irreverência e simpatia atuavam nos semáforos? Aquilo sim era um trabalho respeitável. Desconheço onde nossos alcaides buscam essas ideias mirabolantes. Em Londres, tenho certeza que não é. Aliás, por que respeitar o cidadão se o que parece importar é apenas a arrecadação! Penso que estes senhores têm muito a colaborar com a nossa sociedade, prezando pela cidadania no trânsito, mas do jeito que agem, não, definitivamente, não!

Já que aqui está "preto de amarelinho", a reciclagem faz-se necessária e urgente. Providências, senhores responsáveis!

(*) ÉZIO OJEDA é Médico e Advogado e colaborador de HiperNoticias.

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