O Brasil enfrenta um desafio crítico na saúde da mulher: a cobertura de mamografias atinge apenas 24% da população-alvo, um número alarmantemente distante dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Esse déficit não é apenas uma estatística; representa um obstáculo direto à detecção precoce do câncer de mama, que é vital para o sucesso do tratamento e a sobrevivência de milhares de brasileiras. Surpreendentemente, o problema não reside na falta de equipamentos. Com cerca de 6.800 mamógrafos no país, os aparelhos existem. A verdadeira barreira é o acesso.
Uma profunda desigualdade regional faz com que mulheres nas regiões Norte e Centro-Oeste tenham muito menos oportunidades de realizar o exame em comparação com as do Sudeste. Além disso, a disparidade socioeconômica é gritante: mulheres que dependem exclusivamente do SUS têm até três vezes menos acesso ao exame do que aquelas com planos de saúde privados. O gargalo logístico, as longas distâncias e a falta de especialistas em áreas remotas criam uma barreira muitas vezes intransponível.
O Ministério da Saúde ampliou recentemente a recomendação do exame para mulheres entre 40 e 49 anos, faixa etária que concentra 23% dos casos, em um esforço para aumentar o diagnóstico precoce. Embora o SUS tenha realizado aproximadamente 4,4 milhões de mamografias em 2024, o esforço ainda se mostra insuficiente para garantir um rastreamento universal e verdadeiramente eficaz. O déficit, portanto, não é de máquinas, mas de equidade e eficiência no uso dos recursos.
Nesse contexto, a tecnologia surge como uma poderosa aliada: a telemamografia. Essa modalidade de telemedicina permite que as imagens do exame, capturadas em clínicas ou hospitais locais, sejam enviadas digitalmente para análise por radiologistas especialistas em qualquer parte do país. Para a paciente de uma cidade pequena ou de uma região isolada, isso significa ter seu exame laudado por um profissional altamente qualificado sem precisar se deslocar por centenas de quilômetros.
A telemamografia democratiza o acesso à excelência diagnóstica. Os laudos médicos são emitidos de forma rápida e segura, de acordo com a legislação, garantindo a validade e a segurança do processo. A prática não só agiliza o diagnóstico, como também viabiliza discussões multidisciplinares via teleinterconsulta, otimizando a definição do tratamento para cada paciente.
Portanto, a telemamografia se apresenta como uma ferramenta estratégica e indispensável para superar o abismo do acesso à saúde. Investir nela não é apenas modernizar o sistema, mas construir uma ponte que conecta mulheres de todas as regiões e classes sociais a um direito fundamenta. A solução para o déficit de mamografias não está em mais máquinas, mas em usá-las de forma mais inteligente, conectada e equitativa.
(*) Dr. VICTOR SANO é radio oncologista com atuação na Oncomed-MT, professor universitário da UNIVAG e mestre em educação em saúde.
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