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Artigos Segunda-feira, 27 de Outubro de 2025, 10:19 - A | A

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Segunda-feira, 27 de Outubro de 2025, 10h:19 - A | A

OLIVEIROS MARQUES

Milei será o Macri de amanhã?

OLIVEIROS MARQUES

Milei, com sua atuação teatral de sempre, correu em direção ao público ao chegar à sede do seu partido na tarde/noite de ontem, como quem comemora uma grande vitória. Contudo, a história recente da Argentina nos dá alguns sinais de que a comemoração pode se desmanchar no ar.

A experiência de Mauricio Macri ajuda a entender por que um bom desempenho nas legislativas de meio de mandato não garante, necessariamente, reeleição na Argentina. Em 2017, o então presidente venceu com folga: Cambiemos triunfou em distritos-chave, ganhou tração na Câmara e consolidou um clima de “fim do ciclo peronista/kirchnerista”. Muitos leram aquele resultado como um cheque em branco para aprofundar a agenda econômica. A partir dali, porém, vieram a seca, a fuga de capitais, a disparada do dólar, o acordo emergencial com o FMI, a compressão do salário real e o aumento da pobreza. O capital político acumulado nas urnas dissipou-se mais rápido do que o governo conseguiu entregar crescimento e estabilidade. Em 2019, Macri perdeu no primeiro turno para o candidato da coalizão peronista Alberto Fernández.

O paralelo com Javier Milei é instrutivo. Se a La Libertad Avanza e seus aliados saem fortalecidos no Congresso, o governo ganha musculatura para aprovar leis, renegociar com governadores e dar sequência ao programa de desregulação e ajuste. Mas a lição macrista permanece: eleição de meio de mandato mede humor político; reeleição mede bolso. O eleitor argentino costuma recompensar quem estabiliza a moeda, melhora o poder de compra e devolve previsibilidade ao cotidiano - e castigar quem falha nesses três pontos, mesmo que tenha empilhado vitórias parlamentares.

Há, é verdade, diferenças relevantes. Macri tentou um gradualismo que acabou encurralado por choques externos e pela própria descoordenação interna; Milei apostou num ajuste de choque (corte fiscal agressivo, liberalizações, enxugamento do Estado). O risco é simétrico: no gradualismo, a credibilidade não vem; no choque, ela vem, mas o custo social pode corroer a base antes de os ganhos aparecerem.

A janela temporal é curta. Se a inflação cair, o dólar ficar sob controle, os salários reais começarem a se recompor e a atividade dar sinais de retomada até meados do próximo ano eleitoral, Milei converterá essa vitória legislativa em narrativa de governabilidade. Se, ao contrário, a recessão prolongar o desalento, o “voto-esperança” pode virar “voto-castigo”, como ocorreu com Macri em 2019.

Outro ponto é a engenharia política. Macri tinha uma coalizão orgânica (PRO + UCR + Coalición Cívica) e um acordo tácito com parte do establishment; ainda assim, esbarrou na resistência de governadores e sindicatos. Milei, por sua vez, é um presidente outsider com base parlamentar reduzida e heterogênea, dependente de negociações caso a caso com PRO, UCR e provinciais. Um bom resultado de meio de mandato melhora esse tabuleiro, mas não elimina vetos: a CGT, os movimentos sociais, o Judiciário e os governadores seguem sendo atores importantes no contraponto. Sem pactos estáveis, reformas estruturais tendem a diluir-se.

Também pesa a percepção de mandato. Em 2017, parte do governo Macri leu as legislativas como autorização para acelerar; quando vieram os solavancos, faltou amortecedor político. Milei corre o risco de repetir o erro: interpretar o voto legislativo como endosso incondicional a todo o cardápio. O eleitor de meio de mandato pode ter premiado a promessa de ordem macroeconômica, não necessariamente cada item do programa. Priorizar entregas tangíveis (desinflação sustentada, crédito, salários, obras com alto impacto local) é o que transformará os votos do último domingo em voto de reeleição.

Em síntese: a vitória legislativa dá a Milei tempo e instrumentos, mas a reeleição dependerá do tripé que derrubou Macri - inflação, salário real e crescimento. Se o governo transformar apoio congressual em estabilização sentida no bolso, o desfecho pode ser diferente do de 2019. Se a economia patinar ou o desgaste social superar a paciência do eleitor, como tudo indica dado o programa que sustente Milei, a Argentina pode repetir a lógica que já derrubou presidentes bem-sucedidos nas urnas de meio de mandato.

(*) OLIVEIROS MARQUES é sociólogo, publicitário e comunicador político.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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