Enquanto secretário de Estado de Educação de Mato Grosso, desde 2020, é comum vermos dois tipos de pessoas, sobretudo, as que estão alheias à educação: as que reconhecem os problemas, apontam críticas duras, mas aparecem para construir soluções, e as que vivem em um lugar confortável, porém, improdutivo e com reclamação permanente na imprensa, grupos de WhatsApp e nas redes sociais.
Para esse segundo grupo, nada presta. A escola não presta, o professor não presta, o governo não presta, os resultados não prestam. Dizem que tudo é manipulado, tudo é combinado, tudo é suspeito. Suspeitaram até do MEC quando anunciou que saltamos da 22ª para a 8ª posição no ranking nacional do Ensino Médio.
Ferem e desrespeitam com suas reclamações em réplicas e tréplicas intermináveis não a figura do secretário de Estado, mas a de mais de 300 mil estudantes, pais e mais de 40 mil servidores que fazem a educação pública de Mato Grosso ser exemplo nacional. Zombam da mesma rede que reduziu a taxa de evasão de forma espetacular. Em 2025, a taxa de aprovação do Ensino Fundamental é de 99% e do Ensino Médio de 97%.
Não falo aqui de quem levanta a voz por uma causa justa, de quem denuncia uma falha real, de quem exige transparência e resultados. Essa crítica é não só legítima, como necessária. A educação pública precisa, sim, ser cobrada. O que coloco em debate é outra postura: a de quem enxergou na crítica vazia um estilo de vida, um papel social, uma marca pessoal, um palanque de forma inconsequente e irresponsável que só confunde a sociedade.
É a pessoa que reclama da alfabetização, mas não lê uma linha sobre o que está sendo feito. Ignora, por exemplo, que o nosso Ensino Fundamental foi reconhecido pelo MEC, em 2024, como tendo o 9º melhor resultado entre os 27 entes federados.
Reclama das escolas, mas nunca entrou em um conselho escolar. Não se fez presente quando a Seduc entregou 41 escolas novas, quando lançou obras de outras 57 unidades, quando anunciou a construção de 32 Colégios Estaduais Integrados, os CEIs. Ou quando entregamos 100 escolas reformadas ou ampliadas. Tampouco, sabe que temos outras 94 escolas em reforma. Além de 47 quadras poliesportivas entregues, 23 em obras e 58 planejadas para início das obras entre 2025 e 2026.
Reclama da juventude estudantil, mas não troca uma palavra com os estudantes. Sequer foi a um dos dois encontros estaduais dos Grêmios Estudantis que realizamos, do Festival Educarte, Festivais de Robótica locais, nacionais e internacionais; Pré-Enem Digit@l MT, Tô No Jogo SAEB, nas atividades do Escola da Família, só para citar alguns exemplos.
Reclama da política educacional, mas nunca se deu ao trabalho de participar de uma conferência, de um encontro com a comunidade, da Semana Pedagógica ou Prêmio Alfabetiza MT. Ignora que nosso Ensino Fundamental superou a meta de alfabetização de 59% em 2024, que 60,59% das crianças são alfabetizadas ao fim do 2º ano do Ensino Fundamental, resultados também referendados pelo MEC.
Essa mesma pessoa ignora que a taxa de analfabetismo em Mato Grosso caiu em 2025 para 3,8% e atinge o menor nível desde 2010 (que era de 7,1%), segundo o IBGE. A Seduc superou a meta que era chegar a 4%. Esse comportamento não nasce do nada. Talvez, tenha virado senha de pertencimento. Falar mal da escola pública rende curtidas, risadas, sensação de superioridade. Mas não passa disso e só recebe em troca o descrédito da comunidade escolar.
Nas rodas presenciais ou nas redes sociais, quem desqualifica tudo parece mais “esperto” do que quem tenta explicar, contextualizar, reconhecer avanços e apontar limites. A crítica virou espetáculo, e a construção, quase sempre, vira silêncio diante de quase R$ 1,5 bi em investimentos da Seduc somente em infraestrutura escolar.
O problema é que essa cultura da queixa permanente tem efeitos concretos sobre a vida de quem está na ponta. Quando um estudante ouve todos os dias que “escola pública não vale nada”, que “professor é acomodado”, que “nota de avaliação dada pelo professor é tudo armação”, qual mensagem ele recebe? Que estudar não serve para nada. Que esforço não compensa. Que o futuro já está decidido, e não a favor dele.
Quando um professor, um gestor, um funcionário de escola escuta, dia após dia, que seu trabalho é inútil, manipulado ou irrelevante, qual é o impacto sobre sua motivação? Sobre sua saúde emocional? Sobre sua disposição de fazer mais do que o mínimo? Não é a crítica responsável que adoece a educação, é a desqualificação permanente, sem proposta, sem participação e sem compromisso.
Não espero, nem peço, que a sociedade aplauda cegamente a gestão da educação. Pelo contrário: precisamos ser avaliados, comparados, confrontados com dados e com a realidade das escolas.
Mas precisamos, também, de algo que vai além da reclamação, que é a participação ativa. Educação se faz com cobrança, mas também com corresponsabilidade. E isso temos feito durante todo o ano no Giro pelas Escolas MT, com o Regime de Colaboração com os Municípios, e parcerias com o MPE, TJMT, ALMT e Defensoria Pública. Dialogamos, compartilhamos, ouvimos e acatamos de forma democrática pais e as escolas.
Isso não é favor, é obrigação. Mas nenhum desses espaços funciona se for esvaziado por aqueles que preferem a segurança da crítica.
A educação pública vive um momento desafiador com a recuperação das aprendizagens, enfrentamento das desigualdades históricas, diálogo com uma sociedade hiperconectada e com o fim das escolas de lata.
Não podemos perder tempo nem energia com uma atitude que apenas desgasta, sem acrescentar. Precisamos transformar indignação em ação, frustração em proposta, crítica em compromisso. Sobretudo, diante de um estado com economia forte como o nosso e que precisa de uma educação cada vez mais eficiente para acompanhar essa sustentabilidade e esse desafio.
Continuarei defendendo quem está dentro da escola, trabalhando todos os dias, que são professores, gestores, funcionários e estudantes que seguem acreditando que vale a pena.
Ao mesmo tempo, continuarei com as portas abertas para ouvir críticas, inclusive as mais duras, desde que venham acompanhadas de alguma dose de honestidade intelectual e disposição para construir.
Vou continuar repetindo que reclamar é fácil, rápido e, muitas vezes, rende aplausos. No entanto, melhorar a educação pública como temos feito é trabalhoso e complexo, mas é isso que vem transformando as vidas de mais de 300 mil estudantes mato-grossenses.
É isso que, enquanto secretário de Estado de Educação, propus a fazer e irei continuar fazendo. Por isso, continuo convidando todos que realmente se preocupam com nossas crianças e jovens a saírem "da plateia da queixa e virem para o palco da transformação”. Uma metáfora moderna e aberta muito apropriada para o título deste artigo.
(*) ALAN PORTO é secretário de Estado de Educação de Mato Grosso.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
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