Vamos direto ao ponto: ninguém sustenta um mandato relevante na base do improviso. Você pode até começar “na raça”, mas isso também tem um preço e cansa. E em algum ponto, o cansaço vira erro, o erro vira ruído e o ruído corrói sua imagem. Para escalar entregas, proteger sua imagem e manter coerência política, precisa de gente certa no lugar certo. E não confunda tamanho com qualidade, já vi vereador com estrutura enxuta gerar mais impacto do que gabinete cheio, porque sabia o que priorizar e quem colocar ao lado.
Este texto é um convite para a virada de chave: menos apego à ideia de “equipe grande” como sinônimo de força e mais foco em papéis essenciais, metas simples e qualidade na contratação. Caminhos práticos, para realidades diferentes, para você montar (ou ajustar) seu time.
Três cenários reais, e o que fazer em cada um
1) Quando a “equipe” é você: a EuquipeEm muitos municípios, o vereador começa sozinho: atende demanda, rabisca projeto, posta no Instagram e ainda visita bairros. Se você está nesta situação, primeiro respire. Foque no essencial (ações que movem meta e chegam na comunidade), use tecnologia acessível (agenda, tarefas, redes) e construa parcerias com lideranças e voluntários. Escolha 1 ou 2 canais principais de comunicação e imponha rotina. Funciona, desde que haja foco e constância, não esqueça que você é responsável por todas as demandas.
2) Quando há verbas de gabineteSe sua Câmara disponibiliza recursos, monte um desenho mínimo inteligente. Priorize funções-chave, defina processos e meça entregas. A verba dita o tamanho, não necessariamente o nível de profissionalismo. Garanta planejamento, comunicação e controle de demandas, essa é a base de um gabinete que entrega.
3) Quando você banca com recursos própriosAcontece bastante: sem verba oficial, o vereador contrata serviços pontuais com o próprio salário. Aqui, disciplina é tudo: defina prioridades, contrate qualificados (freelancers/assessorias), formalize escopo e metas e monitore resultados. Use a flexibilidade a seu favor, acionando especialistas quando necessário.
Estrutura base de gabinete: funções que não podem falhar
Todo gabinete começa igual: muita demanda, pouco tempo e expectativa alta. A estrutura de um gabinete vencedor não nasce de cargos, mas de funções que sustentam a entrega: estratégia, técnica legislativa, reputação pública, conexão com o território, segurança jurídica e operação. Os nomes e o tamanho podem variar conforme a realidade, o que não pode faltar são esses papéis funcionando em sincronia e com metas claras. A lógica abaixo cobre o que um gabinete funcional precisa:
● Chefe de Gabinete – braço direito que coordena o time, organiza agenda, filtra demandas e conecta o vereador com órgãos, comunidade e outros mandatos. Funções: planejar o mandato, tocar projetos, articular politicamente e representar em eventos.
● Assessor Legislativo – cuida da espinha dorsal técnica: pesquisa, elabora e acompanha projetos; vigia sessões e comissões; analisa proposições e emite pareceres.
● Assessor de Comunicação – informa, posiciona e protege reputação: conteúdo, imprensa local, gestão de crises e comunicação institucional.
● Assessor Comunitário – radar na rua: atendimento à população, visitas de campo, mapeamento de demandas e interface com lideranças.
● Assessor Jurídico – garante conformidade: análise de projetos, consultoria legislativa/administrativa e revisão de contratos/pareceres.
● Assistente Administrativo – organiza o fluxo: orçamento e compras, documentos e logística de reuniões/eventos.
Dica para quem tem pouca verba: priorize Chefe de Gabinete + Assessor Legislativo (núcleo de estratégia e técnica). Em seguida, acrescente Comunicação (reputação/visibilidade) e Comunitário (capilaridade). O Jurídico pode ser acionado sob demanda, e o Administrativo pode nascer dividido entre assessores até ganhar titular dedicado.
Recrutamento: como escolher gente boa (e fugir de armadilha)
Seja criterioso, é difícil, parente, amigo ou “promessa de campanha” raramente entregam a maturidade técnica, outro ponto importante é a ética que o gabinete exige, fique sempre atento. Procure capacidade técnica (em especial para Legislativo e Jurídico), experiência política útil (gabinetes, comissões, comunicação pública) e alinhamento de valores com a visão do mandato. Isso sustenta coesão, postura ética e foco nos mesmos objetivos.
Três filtros práticos para entrevistas
1. Desempenho passado: peça exemplos concretos de entregas semelhantes às do cargo.
2. Mapa de valores: confronte dilemas éticos reais do cotidiano do gabinete. Mas cuidado, não entre em temas protegidos por lei. Cenários do dia a dia do gabinete: peça que a pessoa descreva como agiria diante de situações típicas (pedido indevido de favorecimento; presente de fornecedor; pressão para furar fila de atendimento; vazamento de informação; uso pessoal da estrutura pública).
3. Teste de comunicação: interpretação, entendimento, clareza escrita e oral, política é comunicação o tempo todo.
Liderança na prática: delegar, mobilizar, acompanharVereador que tenta centralizar tudo se afoga na operação e perde a parte mais importante: articulação, posicionamento e trabalho legislativo de impacto. Delegar é maturidade, mas exige confiança, objetivos claros e acompanhamento. E tem mais: o clima de equipe importa, gente que entende seu papel entrega com propósito, empenho e lealdade. Crie ambiente de respeito, cooperação e celebração de pequenas vitórias. Sua equipe carrega sua imagem na rua e nas redes.
Rituais que funcionam
● Reunião de pauta semanal (30–45 min): prioridades, responsáveis, prazos.
● Check-ins rápidos: travas e próximos passos.
● 30–60–90 dias para novos assessores: metas claras por fase.
● Canais de comunicação abertos e gestão rápida de conflitos, equipe coesa é mais eficiente.
Treinamento contínuo
Atualize o time em legislação, comunicação digital e gestão pública, isso é investimento que volta em desempenho e prevenção de erros. Treinar, aqui, significa construir uma linguagem comum (critérios, princípios, limites), reduzir ruído, alinhar expectativas e aumentar a capacidade adaptativa do time diante de crises e mudanças de cenário. Mais do que acumular certificados, é prática de curadoria de conhecimento e de reputação: o que sabemos, por que fazemos assim, como melhoramos na próxima. Um gabinete que aprende é menos frágil, mais previsível e mais coerente com sua narrativa pública — e isso se traduz em confiança política.
Para fechar
Equipe é estratégia em gente, não importa se você começa só, com verba da Câmara ou bancando do próprio bolso, o que define o seu alcance é clareza de prioridade, qualidade de contratação e disciplina de gestão. Estrutura bem desenhada, ou parcerias inteligentes, ampliam o impacto e mantêm você conectado ao que interessa: a vida real das pessoas. No fim, não é o tamanho do gabinete, é sua capacidade de transformar os desafios em resultados concretos. Não “vence” quem tem mais gente, vence quem tem o time certo fazendo a coisa certa, do jeito certo.
(*) MICHEL LENZ é Apaixonado por estratégia, inovação, ideias e projetos, pelos tatames e a filosofia do jiu-jitsu, sua vida é a família (Papai de Alice). Estrategista de Marketing e Comunicação, Secretário de Gestão Estratégica e Inovação em Três de Maio-RS, Fundador e Ex-CEO da IntMark - Inteligência de Marketing, Cofundador da Alcateia Política, Sócio/CMO da #Ninjas! Contabilidade, Professor de Jiu-Jitsu na Union Team. Possui MBA em Marketing Político e Comunicação Governamental, MBA em Gestão de Marketing e Comunicação, Bacharel em Sistemas de Informação. Atua com marketing político desde 2016 com campanhas eleitorais e mandato, como estrategista de campanha, estrategista de marketing e comunicação e coordenador de equipe, além de realizar diagnósticos de presença digital.
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