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Artigos Segunda-feira, 25 de Agosto de 2025, 08:58 - A | A

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Segunda-feira, 25 de Agosto de 2025, 08h:58 - A | A

JOÃO EDISOM

A palavra e o pregador

A dignidade da palavra: um chamado teológico e filosófico contra a vulgaridade

JOÃO EDISOM DE SOUZA

A palavra é dom e responsabilidade. Na tradição bíblica, falar não é apenas emitir sons: é participar do “logos” que cria, orienta e edifica. Por isso, quando religiosos e pregadores recorrem a palavras chulas ou de baixo calão para dialogar, traem a natureza sagrada da linguagem e ferem a comunhão que deveriam servir. A Escritura é inequívoca: “Nenhuma palavra torpe saia da vossa boca, mas só a que for boa para promover a edificação” (Ef 4:29); “Agora, porém, despojai-vos… da linguagem obscena” (Cl 3:8); “Entre vós não haja obscenidade, conversas tolas ou gracejos imorais” (Ef 5:4).

O primeiro critério é a santidade de Deus refletida em seu povo: “Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1:16). A santidade encarna-se no cotidiano, inclusive no modo de falar. Jesus associa a boca ao coração: “A boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12:34–37). O vocabulário não é neutro; revela disposições interiores. A língua, diz Tiago, pode incendiar uma comunidade (Tg 3:5–10). Assim, o uso de grosserias por quem ministra a Palavra não é “autenticidade” pastoral, mas sinal de desordem interior e de imprudência espiritual.

Além disso, a fala ou o discurso vulgar cria escândalo, tropeço para os pequenos (cf. Mt 18:6) e enfraquece o testemunho público do Evangelho, que nos manda ser “sal e luz” (Mt 5:13–16). Paulo lembra a Tito que o ministro deve mostrar “linguagem sã e irrepreensível” (Tt 2:7–8), e exorta Timóteo a ser “exemplo… na palavra” (1Tm 4:12), evitando “conversas profanas” (2Tm 2:16). O padrão não é perfeccionismo moralista, mas coerência pastoral: falar de Deus com palavras que não desdigam de Deus.

A filosofia clássica via a fala como prática moral. Aristóteles ensina que o caráter (êthos) convence mais que o argumento isolado: o orador se torna seu discurso. A linguagem baixa, ainda que gere impacto retórico, corrompe o ethos e degrada o ouvinte. Cícero chama de decorum a consonância entre finalidade, meio e ocasião; chulo e sagrado não combinam.

Tomás de Aquino distingue a urbanitas leveza honesta, que favorece a convivência da scurrilitas, o escracho indecente que ofende a modéstia e a caridade (Suma Teológica, II-II, q.168). Palavras torpes ferem a virtude da moderação e instrumentalizam o outro como objeto de choque ou diversão. Kant, por sua vez, lembra que a dignidade humana exige tratar pessoas como fins; a linguagem degradante rebaixa interlocutores e a própria mensagem. Em termos contemporâneos, um discurso orientado ao entendimento (Habermas) pressupõe respeito: sem isso, não há comunicação, só ruído.

A pergunta prática é simples: minhas palavras edificam? A Escritura oferece critérios prudenciais: evitar corrupção discursiva (Ef 4:29), refrear a língua (Pv 10:19), buscar brandura (Pv 15:1), manter pureza de intenção (Sl 19:14), e amar a vida guardando a língua do mal (1Pe 3:10). No púlpito ou nas conversas aleatórias, cada termo precisa passar pelo crivo do amor (1Co 13) e da edificação da Igreja e das péssoas. A “autenticidade” que apela ao palavrão é, no fundo, fragilidade retórica: falta-lhe o poder da mansidão e da verdade.

“Mas Jesus foi duro com hipócritas.” Sim, firmeza profética não é vulgaridade. A franqueza do Senhor jamais recorreu à torpeza; sua autoridade repousava na verdade e na pureza de coração. Há diferença entre linguagem forte e linguagem baixa: a primeira confronta o pecado; a segunda conspurca o sagrado.

A boca que anuncia o Evangelho deve hospedar em seus lábios o próprio Evangelho. A boca que proclama a graça não pode ser esgoto de grosserias. Por amor a Deus, respeito aos ouvintes e integridade da missão, que nossa palavra seja clara, forte e limpa “temperada com sal” (Cl 4:6) para que tudo em nós, inclusive o modo de falar, glorifique Aquele que é o Verbo.

(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista político e professor universitário.

 

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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