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Artigos Domingo, 24 de Agosto de 2025, 10:52 - A | A

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Domingo, 24 de Agosto de 2025, 10h:52 - A | A

CAROL BISPO

Quando a beleza cura

CAROL BISPO

Durante muito tempo, fomos ensinadas a evitar o conflito em nome da paz. “Engolimos” palavras, silenciamos dores, aceitamos o que nos fere para não parecer “difíceis”.

No entanto, a paz mantida por fora costuma custar caro por dentro. E é o corpo quem paga a conta.

Não raro, o cabelo revela o que ninguém vê. Porque, quando uma mulher se olha no espelho e não se reconhece, não se trata apenas de estética: trata-se de identidade, pertencimento e dignidade.

Recentemente, atendi uma cliente que chegou exausta, acreditando que o problema era apenas o cabelo. A queixa parecia prática: dificuldade nos cuidados, finalizações que não davam certo. Mas, na escuta atenta, percebi que havia algo mais profundo. Ela contou que, em um evento, foi excluída de uma foto oficial — colocaram-na afastada das mulheres com padrão europeu de beleza e ao lado de idosas. Naquele instante, culpou a si mesma. Eu precisei dizer: aquilo não era apenas sobre estética. Era racismo. Era etarismo. Era a violência simbólica de padrões coloniais ainda tão vivos.

É nesse ponto que estética e psicologia se encontram. Porque, quando você silencia a própria dor para não incomodar, ela se transforma em ruído interno. Quando aceita o que não a representa por medo de romper, vai se afastando de si mesma — um pouco a cada dia. Foi nesse lugar que ela chegou: cansada de sorrir por fora enquanto se escondia por dentro. O que ela procurava não era só um corte. Era escuta. Era verdade. Era acolhimento real: sem julgamento, com presença e sentido.

Essa lente, que venho aprofundando na minha formação em Psicologia, amplia também a forma como acolho minhas clientes no espaço da estética. Ali, em segurança, ela compreendeu que não queria mais moldar a própria imagem para agradar aos outros. Queria se ver. Se reconhecer. Sentir-se inteira.

A percepção foi dolorosa. Minha cliente chorou ao ouvir a palavra “colonialismo”. Até então, acreditava que mudar o cabelo, alisá-lo, escondê-lo, torná-lo mais “aceitável” era a solução. Mas a verdadeira ferida não estava no fio: estava na estrutura que insiste em negar a diversidade.

No final do atendimento, depois da conversa, do corte e da finalização, perguntei se ela gostaria de escovar. Deixei livre a escolha. Ela me olhou firme e disse: — Não. Não vou escovar.

Naquele instante, algo mudou. Ao levantar-se da cadeira, parecia levantar outra pessoa. O corte e a imagem refletida no espelho fizeram mais sentido do que nunca. Não era apenas sobre cabelo: era sobre vida. Era sobre cura. Orientei-a também quanto aos produtos adequados para facilitar sua rotina de cuidados — não para aprisionar, mas para libertar.

Um mês depois, ela retornou apenas para agradecer. Disse que aquele dia havia transformado sua vida. Não por vaidade, mas porque, pela primeira vez, conseguiu se olhar sem pedir desculpas por existir.

O cabelo natural não foi moda: foi reencontro. O corte não foi tendência: foi resposta. O estilo não foi moldura: foi pertencimento.

Porque, quando a escuta é profunda, a beleza ganha voz. E, quando a beleza tem voz, ela transforma. Ela acolhe. Ela cura.

E você, já parou para pensar no que o seu cabelo diz sobre as suas histórias, sobre as dores que silenciou ou sobre os padrões que buscou seguir para ser aceita? Que tal começar hoje a se questionar: sua beleza tem sido prisão ou expressão? A resposta pode ser mais revolucionária do que você imagina.

*CAROL BISPO é visagista, especialista em cabelos crespos e cacheados, formanda em Psicologia e idealizadora do método Cabelo do Dia Seguinte. Instagram: @carolbispovisagismo.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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