Em artigos anteriores, afirmei que, para avaliar o cenário político e suas implicações eleitorais, o mais importante é entender como o eleitor percebe a inflação, seu próprio poder de compra, seu bem-estar individual e familiar, além dos problemas que afetam seu cotidiano. Também destaquei que a percepção sobre o aumento dos preços e a queda no poder de compra eram as principais variáveis para explicar a queda de aprovação do governo Lula.
Alguns estudos confirmaram a centralidade da inflação (a percepção sobre os preços) e do desemprego como as variáveis macroeconômicas que mais impactam os eleitores. Os votantes premiam ou punem os governantes com base nesses dois quesitos. Em outro artigo, escrevi que a família Bolsonaro (especialmente o filho Eduardo), ao se associar a Donald Trump e às sobretaxas de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, deu de bandeja à esquerda um discurso e um inimigo externo, devolvendo ao presidente Lula um protagonismo inesperado. Entregaram um presente a Lula — uma plataforma nacionalista.
Cometeram um dos maiores erros políticos da história do Brasil.
Além disso, recolocam na mesa uma lógica fundamental para a sobrevivência política do PT: a polarização contra o bolsonarismo. Porque, nesse cenário, as rejeições altíssimas de ambos os lados se anulam. Pois bem, o que a nova pesquisa Quaest traz de novidades nesse cenário?
• Comparando os dados sobre a percepção dos preços dos alimentos, é possível perceber que, em março de 2005, 88% avaliavam que os preços tinham subido, enquanto, atualmente, 60% têm a mesma avaliação, ou seja, uma queda de 28 pontos percentuais;
• 48% dos brasileiros avaliam que a postura de Lula frente ao tarifaço de Trump está mais acertada do que a de Bolsonaro e seus aliados;
• 69% da população acredita que Eduardo Bolsonaro defende apenas seus próprios interesses e os da família Bolsonaro (o que se confirmou nas declarações vazadas com diálogos da família);
• 71% consideram que Trump está errado ao impor taxas ao Brasil, e 77% acreditam que tais medidas serão prejudiciais aos brasileiros.
Confirma-se, portanto, o que escrevi logo após as medidas americanas terem sido divulgadas — o tiro dos Bolsonaro saiu pela culatra. Pode-se até aprofundar essa metáfora: foi um tiro de doze na cabeça. Agora, com os vazamentos de áudios com diálogos extremamente negativos para a família Bolsonaro e seus aliados, além da prisão eminente do ex-presidente, será muito improvável uma reação política que recomponha a força da família.
O efeito direto dessas mudanças na percepção popular é uma melhora na avaliação do governo. É importante notar que a curva de aprovação melhorou principalmente nos estratos sociais onde o governo mais havia perdido: os mais pobres e moradores do Nordeste. Ou seja, o governo está recuperando suas bases históricas e tradicionais. Não há dúvidas de que a melhora na percepção sobre os preços nos supermercados tem um impacto muito mais relevante nessa mudança na avaliação do governo do que qualquer outra variável.
Além das mudanças na percepção sobre a economia, destaca-se a competente reação do governo frente ao tarifaço de Trump, inclusive na comunicação, que devolveu protagonismo ao presidente Lula e ao governo, com destaque especial para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Esses são, basicamente, os fatores que explicam a retomada gradativa na avaliação do governo.
Claro que essas mudanças terão impactos no campo eleitoral, como as próprias pesquisas já indicam. Se antes o candidato da direita, independentemente de quem fosse, parecia ter um certo favoritismo, agora o pêndulo está se inclinando novamente para um equilíbrio, com alguma tendência a favor do incumbente.
A grande distância do pleito recomenda prudência, e qualquer análise conclusiva é temerária. Contudo, se a família Bolsonaro continuar a seguir o roteiro da sua peça burlesca, continuará fortalecendo a posição oposta. É acompanhar os próximos capítulos...
(*) RODRIGO MENDES é Publicitário, sociólogo e cientista político, especialista em marketing, e mestre em Ciência Política pela UFMG. Foi professor da pós-graduação em Marketing Político – UFMG. Foi assessor de marketing da Prefeitura de Belo Horizonte e Secretário de Comunicação do Mato Grosso do Sul. Consultor dos Governos de Alagoas e Sergipe e das Assembleias Legislativas de MG e PB. Foi consultor do Tribunal Superior Eleitoral/TSE, de 2004 a 2010, sendo responsável pela Campanha Vota Brasil. Atuou em mais de 62 campanhas eleitorais em todo Brasil. Autor dos livros MARKETING POLÍTICO - O PODER DA ESTRATÉGIA NAS CAMPANHAS ELEITORAIS e coautor de MARKETING ELEITORAL: APRENDENDO COM CAMPANHAS MUNICIPAIS VITORIOSAS e do e-books NOVAS ESTRATÉGIAS ELEITORAIS PARA UM NOVO AMBIENTE POLÍTICO.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.