Nossa Floresta Amazônica, segundo estudos, possui milhões de anos de existência. Nela, já foram encontrados vestígios civilizatórios de grupos que viveram em harmonia com o bioma, de forma sustentável, mesmo que esse termo seja contemporâneo. Talvez nossos antepassados tivessem uma consciência profunda da importância desse ecossistema, pensando que seus sucessores precisariam, de alguma forma, dos benefícios da Floresta. Para destacá-los, talvez não houvesse linhas suficientes, mas posso citar alguns: a influência crucial no ciclo das águas e a vasta biodiversidade, abrigando aproximadamente 10% das espécies do mundo, incluindo plantas, animais, insetos e microrganismos.
A despeito da importância fundamental das plantas, que contribuem significativamente para pesquisas agrícolas, farmacêuticas e científicas, neste texto, desejo focar em outros residentes da floresta que têm poucos defensores. Talvez porque não tenham voz para pedir, podendo, às vezes, apenas gritar à sua maneira em busca de sobreviver aos momentos de ataque. Alguém os criou, colocou-os ali e lhes deu a condição de procriar e ampliar a população. Acredito que isso se deu com um objetivo inteligente, ciente da necessidade de um ambiente que ofereça todos os benefícios citados anteriormente, uma vez que o beneficiário final é o ser humano.
Em uma ocasião, durante uma visita a uma floresta em Mato Grosso a convite de um amigo, estávamos chegando ao local quando uma grande formação de fumaça já podia ser percebida vinda do nosso destino. Ficamos surpresos, pois nosso objetivo era fazer uma pesquisa de plantas medicinais, autorizados pelo proprietário da fazenda. Ele, por sua vez, tinha a intenção de realizar um "manejo" na área para introduzir apenas um habitante: o gado.
É crucial considerar a possibilidade de voltarmos a este mundo e nos depararmos com um ambiente degradado, um clima insuportável, e uma dieta restrita a soja no café da manhã, almoço e jantar
De imediato, encontramos um antigo habitante que, ironicamente, pelo seu nome, "preguiça", não teve tempo de fugir do fogo e sucumbiu logo nos primeiros passos da fuga. Pensei imediatamente se aquele animal teria filhotes à sua espera em alguma árvore. Pensei nos pássaros e seus ninhos, nas araras que constroem seus ninhos no topo das árvores, local onde o fogo se torna mais intenso durante uma queimada. Muitos outros animais padeceram naquele dia, embora alguns pudessem ter se salvado por conseguirem voar e perceber o perigo se aproximando. O mesmo, contudo, não deve ter acontecido com seus filhotes e ovos.
Após aquele acontecimento, hoje, quando vejo ou fico sabendo de alguma área queimada, penso imediatamente nas "famílias" que, assim como as nossas, foram criadas por um Ser Inteligente. Ele as criou, acredito, com um propósito que certamente não era o de assá-las em uma queimada sem aviso prévio, sem um estudo adequado para avaliar o "conteúdo" e o impacto no espaço a ser queimado.
Sabemos hoje que a Floresta em pé vale muito mais do que derrubada. Talvez não para aqueles que desejam "retirar o problema" do ambiente, queimando-o juntamente com seus inquilinos que cantam, voam, nadam, procriam e botam ovos. O verdadeiro valor da Floresta reside nos produtos não madeireiros: sementes, frutos, castanhas, borracha, plantas medicinais, turismo, regulação do clima e tantos outros aspectos que poderiam preencher um artigo inteiro.
O grande problema da humanidade é a crença de que passamos por aqui somente uma vez e, por isso, precisamos aproveitar o máximo possível com conforto, cujo financiamento venha de onde vier – seja do abuso do poder público, da exploração dos recursos ambientais, do próximo, ou de qualquer outra fonte. Todavia, é crucial considerar a possibilidade de voltarmos a este mundo e nos depararmos com um ambiente degradado, um clima insuportável, e uma dieta restrita a soja no café da manhã, almoço e jantar. Isso, caso o clima permita que continuemos a plantar o que plantamos hoje, ou mesmo que sobrevivamos.
(*) WALTER ARIANO JUNIOR - Administrador e Diretor da Budget Consultoria e Gestão.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.
