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Normalmente um fenômeno astronômico é divulgado em UTC (“Universal Time Coordinate”), ou, resumidamente, UT - Tempo Universal - que indica o horário do meridiano de Greenwich, considerado como o meridiano inicial. A Terra completa uma rotação em torno de seu eixo em 24 horas e, por isso, o nosso planeta foi dividido em 24 faixas imaginárias idênticas, cada uma com 15° de longitude, associadas ao ângulo que a Terra gira em uma hora. Esse conceito é amplamente usado em Geografia, Astronomia e estudado desde o ensino fundamental.
Conhecendo o UT (ou UTC) do fenômeno, cada observador da Terra pode ficar sabendo se este será observável em sua região. O Brasil atualmente tem três fusos horários: UT -2 para algumas ilhas oceânicas, UT -3 para Brasília e demais regiões que seguem esse fuso, tais como o nordeste, o sudeste, algumas cidades do centro-oeste e outras mais; UT -4 para Cuiabá, Manaus e outras. Considerando o que é estudado em Astronomia e Geografia, o Acre e o noroeste do Amazonas teriam UT -5. Se for indicada a localização do Acre no globo terrestre, qualquer estudante internacional irá indicar UT -5 para designar o horário local.
Porém, no Brasil, legalmente “excluíram” esse fuso horário desde o dia 25 de junho. Ou seja, um observador do Acre agora está no fuso horário UT -4 ! Isso até pode ser bom para a economia, mas não é bom para a Astronomia e a Geografia. Como um professor do ensino fundamental irá explicar esse fato aos seus alunos? Desde quando os políticos podem interferir na rotação da Terra?
Voltemos ao eclipse penumbral do dia 18 de outubro. Já escrevi que esse tipo de eclipse costuma passar despercebido. Mas, existem os místicos e os que irão querer observar a Lua mesmo assim, desde que as condições climáticas sejam favoráveis. Qual a informação que eu devo fornecer ao público? O eclipse penumbral começará às 21h53min UTC; o máximo do eclipse ocorrerá às 23h50min UTC, e o fim do eclipse ocorrerá à 1h48min UTC do dia 19. Nesse eclipse os observadores brasileiros localizados mais a leste serão privilegiados.
Como Brasília, Goiânia, Barra do Garças estão a UT (ou UTC) -3, o eclipse penumbral começará às 18h53min, horário local, terá o máximo às 20h50min, com término às 22h48min. Nesses locais a Lua estará já estará bem acima do horizonte e será observada com mais facilidade.
Para os observadores localizados a UT -4 esse eclipse começará às 17h53min, o máximo acontecerá às 19h50min, e o seu término ocorrerá às 21h48min. Nessa faixa estão os habitantes de Cuiabá e da maioria das cidades de Mato Grosso. Quando o eclipse começar em Cuiabá, a Lua, que começará a despontar no horizonte em torno de 17h36min, estará muito baixa e com uma difícil visualização. Mas, considera-se que todo o eclipse penumbral poderá ser observado, apesar da dificuldade inicial.
E como ficam os nossos novos colegas com UT -4 localizados no Acre, por exemplo? Às 17h53min, novo horário local, a Lua ainda não terá surgido no horizonte em Rio Branco, e, portanto, o que está escrito no parágrafo acima não é completamente válido para os seus habitantes. No “novo” horário local, a Lua começará a despontar no horizonte às 18h20min, aproximadamente, ou seja, já levantará eclipsada. Levará mais algum tempo até que ela possa ser facilmente observada. Mas, o máximo do eclipse também acontecerá às 19h50min, e o seu término, às 21h48min.
De uma maneira geral, as informações sobre a Astronomia que são transmitidas na mídia são escritas na região sudeste e voltadas para os habitantes localizados na faixa UT -3. Imagino que seja difícil a um professor localizado na “antiga” faixa UT -5 no Brasil ter acesso à informação correta sobre os eventos astronômicos em sua localidade. Como já dizia Chico Anísio: “e o salário... ó.”
*TELMA CENIRA COUTO DA SILVA é doutora em Astronomia
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