Aos 12 anos, Sidney ganhou uma nova família. Ele fazia parte do grupo de crianças cujas possibilidades de adoção eram consideradas remotas, mas o futuro dele mudou quando seu destino cruzou os destinos do servidor público Lusanil Cruz e de sua esposa, Elisia Cruz. Quando conheceu Sidney, o casal decidiu fazer parte do Programa Padrinhos, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), e acabou adotando o adolescente.
O final feliz da família é só um dos vários proporcionados pelo Programa, coordenado pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção de Mato Grosso (CEJA-MT). Essas histórias, no entanto, tiveram que se adaptar à realidade imposta pela pandemia do coronavírus.
“O Programa Padrinhos e principalmente as crianças que têm o perfil para apadrinhamento, que não são todas, foram prejudicados com a pandemia, porque tivemos que suspender todos os apadrinhamentos afetivos. Então, até agora não tinha retornado a modalidade afetiva”, afirmou Elaine Zorgetti Pereira, secretária-geral da CEJA.
A psicóloga Aretuza Vanesa de Deus e a assistente social Nadir Nadaf, que atuam no Programa, destacaram que o momento foi de cuidado especial com as crianças e adolescentes, sobretudo aqueles beneficiados com o apadrinhamento afetivo.
“Como nossas crianças e adolescentes já são limitados por diversos motivos a algumas atividades fora da instituição, aqueles que estavam sendo apadrinhados no programa na modalidade afetiva precisaram ser acompanhados pela equipe técnica mais de perto, uma vez que o vinculo foi temporariamente, não cortado, mas modificado. A virtualidade não consegue substituir o calor humano que somente os encontros presenciais podem proporcionar, mas seguramente a tecnologia foi um aliado para este momento tão difícil para todos”, explicaram.
Se por um lado o momento foi de preocupação para a equipe, a sociedade também demonstrou estar preocupada. A psicóloga e a assistente social contaram que, mesmo com os apadrinhamentos suspensos, a procura de novos pretendentes foi maior.
“Nossas crianças e adolescentes acolhidos, que já são privados de um convívio familiar por motivos distintos, com a pandemia, por segurança, tiveram os apadrinhamentos suspensos. Porém, fomos surpreendidos com uma procura maior de novos pretendentes e com os antigos pretendentes buscando alternativas possíveis de dar continuidade ao programa”, ponderaram.
A secretária-geral Elaine Zorgetti Pereira pontuou que durante o período crítico da pandemia foram suspensas as modalidades de apadrinhamento afetivo e de prestação de serviços. A primeira prevê o contato direto entre padrinhos e apadrinhados com convivência aos finais de semana, feriados e férias escolares, que foi o caso de Sidney. Na segunda modalidade, os padrinhos oferecem os serviços que prestam às crianças e adolescentes ou à casa de acolhimento a qual pertencem.
Os padrinhos provedores, que mantêm as despesas do apadrinhado, no entanto, não foram afetados, já que não têm o contato direto com os apadrinhados. Nesse sentido, Aretuza e Nadir relembraram que muitos padrinhos migraram para essa modalidade para não interromperem sua participação no Programa.
“Com a impossibilidade de entrar nas instituições ou de retirar as crianças/adolescentes delas, alguns padrinhos afetivos passaram a atuar como padrinhos provedores, buscando suprir outras necessidades dos acolhidos”, disseram.
Final feliz
O primeiro encontro de Sidney e sua família foi em 2016, em um evento no shopping de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá. Ao desfilar com Elisia Cruz, o menino sequer poderia imaginar que, anos depois, aquela seria sua mãe adotiva.
“Eu trabalhei na corregedoria [do TJMT] e, na época, foi implantado o Projeto Padrinhos e eu gostei muito do objetivo, porque o projeto ia incentivar as famílias a estenderem a mão para uma criança que está no abrigo, que foi abandonada. Em 2016, houve um trabalho da Ampara que fez um desfile no shopping de Várzea Grande. Nós fomos patrocinadores e minha esposa desfilou com uma criança, essa criança é o Sidney, que passou a ser nosso afilhado”, relembrou Lusanil Cruz, servidor público e pai adotivo de Sidney.
Depois de dois filhos biológicos homens, o desejo do casal era adotar uma menina, mas os afazeres do dia a dia fizeram com que a intenção ficasse em segundo plano. Entretanto, em 2016, o olhar triste de Sidney marcou o coração de Elisia. Um ano depois, Lusanil, vendo a preocupação da companheira, resolveu tomar uma atitude.
“Depois do desfile, minha esposa sempre falava do Sidney para mim, que ele tinha um olhar triste e que nós tínhamos que ajudar ele e eu disse que nós poderíamos ser padrinhos dele. Um dia, depois de uma festa de aniversário, fomos lá conhecer o Sidney, mas ele não estava lá. Voltamos no outro dia e falamos que queríamos conhecer ele melhor, apadrinhá-lo. De imediato, ele me olhou e falou: “Eu quero”. Nós entramos com o processo de apadrinhamento e começamos a ter contato com o Sidney todos os fins de semana e feriados. A gente o pegava na sexta-feira à noite e levava no domingo, depois do Fantástico”, explicou.
Bastaram quatro encontros para que o casal decidisse trazer Sidney para casa definitivamente. Ver o menino colocando as roupas do abrigo em um domingo à noite foi determinante para que o casal tivesse certeza da adoção.
“O trouxemos para morar aqui com a autorização do juiz, passou o processo e começamos a trabalhar com o Sidney, ele veio para cá com muitas crenças limitantes, complexo de inferioridade, de aceitação e começamos a trabalhar com ele, colocamos em uma escola particular, em uma psicopedagoga, os meninos gostaram dele, a família teve uma boa aceitação e hoje o Sidney está trabalhando no Kumon”, declarou Lusanil.
“Hoje o Sidney teve oportunidade, estuda em uma boa escola, está trabalhando, tem o quarto dele com os meninos... Então, para mim o Projeto Padrinhos é muito importante para quem quer dar o primeiro passo e ajudar uma criança”, completou o servidor.
Agora, com o avanço da vacinação e a desaceleração da transmissão de coronavírus, a equipe da CEJA aguarda autorização dos magistrados do TJMT para o retorno completo do Programa e da possibilidade de testemunhar mais finais felizes.
Programa Padrinhos
O Programa Padrinhos, anteriormente denominado de Projeto Padrinhos, foi lançado pela Corregedoria-Geral da Justiça, por meio da Comissão Estadual da Adoção – CEJA, no dia 21 de maio de 2008. Posteriormente, sobreveio a edição do Provimento n. 37/2012-CGJ e o projeto foi normatizado e expandido para as comarcas do interior, recebendo nova denominação de Programa Padrinhos pelo Provimento n. 19/2018-CGJ.
O Programa busca promover a participação da sociedade civil no apadrinhamento de crianças acima de 8 anos e adolescentes acolhidos, com possibilidades remotas ou inexistentes de adoção.
Modalidades: Afetivo, Prestador de Serviços e Provedor.
Aqueles que se interessarem em se inscrever no programa e residirem nas comarcas de Cuiabá e Várzea Grande podem acessar o site http://padrinhos.tjmt.jus.br/ficha/padrinho.aspx. Nas demais comarcas, os interessados devem procurar a Vara da Infância e da Juventude.
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