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Justiça Sábado, 07 de Setembro de 2019, 14:45 - A | A

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Sábado, 07 de Setembro de 2019, 14h:45 - A | A

RECOMEÇO

Detentos apostam em trabalho e educação para recomeçar a vida fora da prisão

DA REDAÇÃO

Ele tem 41 anos, é casado e pai de quatro filhos. Condenado por um crime considerado imperdoável para muitos, ele utiliza praticamente todas as horas do dia para exercer um ofício que, além de ajudar o tempo passar mais rápido, contribui com a sociedade de Pontes e Lacerda (448km a oeste de Cuiabá), cidade onde nasceu, cresceu e hoje cumpre pena no Centro de Detenção Provisória. O nome dele é Edio Hermenegildo de Souza, um dos 262 recuperandos que estão presos no local. Ali, o autônomo que fazia frete de caminhão fez de uma antiga ocupação uma atividade que lhe dá motivação diária para um novo recomeço.

 
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Edio está recolhido no centro de detenção desde dezembro de 2017. Depois de dois meses na unidade, ele já começou a trabalhar na marcenaria. “Surgiu a oportunidade e eu já encarei. É uma forma de ocupar a mente. A gente se envolve mais no serviço e o tempo passa mais rápido. Ocupo meu tempo aproveitando essa oportunidade. O trabalho ajuda. Acabamos tendo como profissão e pegamos gosto pela atividade. Essa iniciativa é muito boa, a turma fica com a mente muito desocupada quando não trabalha. Trabalhando, eles vão ocupar a mente e não vão conversar fiado”, destacou o chefe da marcenaria.
 
No local, são reformadas carteiras utilizadas pela rede escolar, produzidos bancos, mesas e produtos diversos, que são aproveitados por diversas instituições, como creches e prefeitura. “Outras coisas que eles pedem a mais a gente faz também. Assim vamos contribuindo para a sociedade. Para mim, é um hobby, que além de eu estar trabalhando para reduzir a minha pena, estou trabalhando para desenvolver o meu potencial físico, a minha mente. Se ficar parando, a gente vai enferrujando, que nem um parafuso velho. Se estiver todo dia mexendo, está sempre em bom estado de conservação. Trabalhando e ocupando a mente”, discorreu o marceneiro.
 
Nessa quinta-feira (6 de setembro), quem também estava caprichando na finalização de uma nova peça na marcenaria do centro de detenção era o recuperando Danúbio Viana Machado, de 30 anos. Preso desde junho de 2017, ele conta que começou a trabalhar apenas um ano e oito meses depois, e que a rotina mudou depois disso. “Ficou bem melhor. Aqui a gente tem oportunidade de aprender. Antes não fazia nada, era bem mais difícil. Ficava ocioso, parado, muita gente num lugar fechado. Vai rolando um estresse. Aqui é muito melhor”, contou ele, cuja primeira profissão na vida havia sido de marceneiro. “Aqui estou aprendendo coisas novas e aproveito para remir a pena. Também vou ensinando o que sei, porque quando eu sair, outros vão ficar”, observou.
 
Sobre a visita do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (GMF/TJMT) à unidade, que visa ampliação da oferta de trabalho aos recuperandos, Danúbio diz ver a iniciativa com bons olhos. “Se o Estado não der oportunidade para a pessoa sair daqui diferente, corre o risco muito grande dela sair e voltar ao mundo do crime. É o que acontece muito. O trabalho ajuda a gente a pensar no que fez e a não reincidir. Tenho mulher e filho, e penso no meu futuro com eles”, complementou o rapaz, ao passar mais uma mão de verniz na peça que finalizava.
 
Sentado numa máquina de costuras, seu Noé Estevão da Silva, de 64 anos, maneja com facilidade o equipamento instalado na pequena oficina da unidade prisional. Nas suas mãos, tecidos se transformam em novos uniformes e também em outras peças, como aventais coloridos. O sapateiro conta que, para ele, o trabalho, principalmente nesse lugar e em qualquer unidade do sistema penitenciário, é a melhor forma de o preso voltar à sociedade.
 
"Não tem outra forma, porque, no momento em que estamos aqui, com a mente ocupada, estamos desenvolvendo um trabalho e passando uma imagem melhor de nós mesmos, até para as pessoas que vem para cá depois da gente. Então, isso é muito gratificante. E nós estamos retribuindo tudo isso para mostrar para a sociedade que nem tudo está perdido. Quando sairmos daqui, já estaremos qualificados, né? Estamos passando por esse momento, que tem um começo, um meio e um fim. Então, sair daqui vai ser um recomeço. Se possível, quero sair daqui com um emprego, para mostrar que tudo tem jeito. Se cada um tiver o interesse de ajudar, de apoiar, de uma forma ou de outra, para tudo tem jeito”, ressaltou.
 
Cáceres
 
Nesta sexta-feira (6 de setembro), a equipe do GMF visitou o Centro de Ressocialização (onde ficam recolhidos os homens) e a cadeia pública feminina de Cáceres, município a 222km a oeste da Capital. Ali, algumas frentes são desenvolvidas – intra e extramuros – com o intuito de ressocializar aqueles que cometeram crimes e que, no futuro, voltarão ao convívio em sociedade.
 
Um dos recuperandos que está aproveitando a oportunidade para desenvolver uma atividade fora das celas é o pedreiro Evandro Santos Souza, de 30 anos. Na unidade, ele utiliza seus dias para desenvolver atividades de artesanato. Os produtos, como tapetes, são vendidos por familiares. "Isso é muito bom, porque fazer artesanato distrai a mente da gente e a gente se ocupa mais. A gente faz os materiais e manda para as nossas famílias, o que elas vendem ajuda a gente aqui dentro”, explicou. Na prisão, ele também aproveita a oportunidade para estudar. “É ótimo, porque o que perdemos no passado na escola, podemos recuperar aqui dentro”, complementou.
 
Na cadeia feminina, 20 mulheres também aproveitam a chance de estudar, entre elas a jovem Narrara Santos, de 27 anos. “Para mim, é importante porque é um modo de passar o tempo. Lá fora, no dia a dia, é corrido, e aqui dentro temos momentos em que podemos refletir sobre o que a gente quer para o nosso futuro e a escola é importante por isso, pra gente ver até onde a gente quer chegar, o que a gente quer daqui para frente na nossa vida. Quando sair daqui pretendo dar continuidade a um projeto, um aplicativo de mobilidade urbana que eu criei”, planeja.

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