As bolsas de valores em todo o mundo ainda amargam uma perda de US$ 10,6 trilhões em relação a 2008, quando a crise global se agravou, culminando com a quebra do Lehman Brothers, que completa quatro anos no próximo dia 15 de setembro. Apesar do longo tempo passado desde o marco do início da turbulência financeira, o clima de incertezas permanece. Especialistas estimam que a crise continuará por alguns anos e, no melhor dos cenários, estamos fadados a um período prolongado de baixo crescimento. O desdobramento da crise da dívida na Europa e o abismo fiscal nos Estados Unidos são as principais preocupações de economistas para o cenário atual.
— Chegamos aos quatro anos de crise muito longe de uma solução. Tudo indica que a crise terá fôlego longo. Estamos falando em anos, não em meses. Não há indicação de que vamos sair rápido da atual situação — afirma o professor do Instituto de Economia da UFRJ Luiz Carlos Prado.
— O horizonte da crise não é curto. Se tudo der certo, serão alguns anos de crescimento baixo, não necessariamente novos terremotos. Se não der, socorro! — complementa a professora do Instituto de Economia da Unicamp Maryse Farhi.
Para o economista Alvaro Bandeira, sócio da Órama Investimentos, a economia mundial ainda poderá levar até mais cinco anos para voltar a um nível promissor.
O valor de US$ 10,6 trilhões corresponde à diferença entre a soma de todas as ações dos mercados de 84 países em 16 de maio de 2008 — de US$ 57,2 trilhões, maior valor atingido naquele ano — e o fechamento do mercado na última quarta-feira, de US$ 46,6 trilhões, segundo dados da Bloomberg. Os mercados chegaram a reagir neste período — e o valor de mercado no mundo chegou a US$ 56 trilhões em 1º de maio de 2011 —, mas voltaram a recuar com o efeito Grécia. No Brasil, a perda é de US$ 447 bilhões, considerando a mesma base de comparação.
— O nível do mercado reflete as expectativas das pessoas. Se considera que o crescimento será fraco, o mercado vai mostrar isso. Eu acredito que provavelmente nosso crescimento vai desapontar. E veremos desapontamento dos investidores — diz o professor de Economia da Universidade da Califórnia Barry Eichengreen.
Na avaliação de Dan Alamariu, diretor da empresa de consultoria e pesquisa de risco Eurasia Group, o mercado financeiro passa por “um período muito doloroso de ajuste”, em que permanece a incerteza. A questão, segundo ele, é que as pessoas ainda não sabem o valor correto dos ativos e há muitas instituições e pessoas com altos níveis de alavancagem, ou seja, com endividamento ainda elevado.
FIM DO EURO E EUA PREOCUPAM
As perdas do mercado financeiro são apenas um dos sinais de uma economia enfraquecida, que passa pela segunda fase de uma crise que agora tem seu foco principal na zona do euro. A União Europeia deve encerrar o ano com recessão, enquanto os Estados Unidos ensaiam apenas uma leve recuperação e os emergentes veem uma desaceleração de seu crescimento.
O maior temor na Europa é com a sobrevivência do euro e as possíveis consequências caso economias mais frágeis, como a Grécia, deixem a moeda comum. Como diz Prado, o cenário europeu é o mais sombrio e o mais difícil de prever. Após muita expectativa no mês de agosto, o Banco Central Europeu (BCE) garantiu um leve alento na última quinta-feira, quando anunciou sua proposta de compra ilimitada de bônus de países em dificuldade. Para isso, no entanto, precisam pedir resgate completo ou parcial a seus parceiros, o que os obriga a cumprir uma série de condições.
— (A proposta) não é a redenção dos problemas, mas retira parte da aversão ao risco e coloca em rota mais positiva para solução muito futura dos problemas. A volatilidade vai continuar, já que as economias ainda vão coletar dados ruins por algum tempo — afirma o economista Alvaro Bandeira.
SOLUÇÕES AINDA COSMÉTICAS
Um caminho vislumbrado por especialistas para a solução da crise na Europa é um plano de refinanciamento da dívida, que alongue seu prazo e permita seu pagamento, um processo semelhante ao visto na década de 80 com a renegociação das dívidas da América Latina. Para isso, é preciso enfrentar a oposição da Alemanha. Esta, no entanto, seria uma solução mais radical.
— Minha avaliação é que ainda estão procurando soluções cosméticas para a crise, não uma cirurgia plástica. Não houve ainda o necessário sofrimento para que os países acertem uma solução cirúrgica — diz Fábio Sá Earp, também professor da UFRJ.
Ainda que a principal preocupação no momento seja a Europa, os Estados Unidos também não seguem em águas tranquilas. Em meio a uma recuperação fraca da atividade econômica e a disputa eleitoral, o debate agora se debruça sobre o chamado “abismo fiscal”. Se o Congresso não fizer nada em sentido contrário, entram em vigor em janeiro cortes automáticos de gastos públicos e o fim de isenções de impostos de grande porte.
— Os Estados Unidos vão retirar dinheiro de uma economia já mal das pernas — destaca Maryse Farhi.
Barry Eichengreen diz que ele, como muitos economistas americanos, está preocupado com o ritmo de expansão da economia americana, ainda aquém do necessário para reduzir o que ele chama de “taxa inaceitável de desemprego”, atualmente em 8,3%.
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