O mais caro dos projetos – o do Veículo Leve sobre Trilhos – que está sendo implantado em Cuiabá ao custo de R$ 1,477 bilhão, para a Copa do Mundo, não deve entrar em operação no evento, pois todas as obras de intervenção viária na cidade foram sofrendo sucessivos atrasos e estão com os cronogramas físicos irremediavelmente comprometidos.
A opinião é do doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor Sérgio Magalhães, diretor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia – Faet, da Universidade Federal de Mato Grosso. A UFMT apresentou uma série de projetos e sugestões à extinta Agecopa e a sua sucessora Secopa, mesmo antes do início das obras de mobilidade urbana, mas nem foi ouvida.
Mais do que ter a certeza de que o VLT não começa a operar por ocasião da Copa do Mundo em Cuiabá, daqui pouco mais de 120 dias, Sérgio Magalhães não acredita no sucesso desse meio de transporte de massa na capital mato-grossense. Motivo: apenas 120 mil pessoas usam diariamente o transporte coletivo na capital, número que está muito distante dos dois milhões de usuários que seriam necessários para viabilizar economicamente o caríssimo sistema de transporte coletivo.
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Lembra o professor Magalhães que justamente por causa de seu custo operacional e de manutenção, o VLT é um sistema de transporte de exclusão social: mesmo que o valor da passagem seja subsidiado pelo governo, as classes D e E não terão acesso ao meio de transporte.
Só para dimensionar o custo para se andar de VLT, o professor Magalhães cita o caso do sistema que liga Salzburgo, na Áustria, a divisa com a França. O valor da passagem no trecho que tem 19 quilômetros é de nove euros, mais ou menos de R$ 27,00.
O professor acredita que mesmo subsidiada, a passagem do VLT em Cuiabá-Várzea Grande não vai custar menos do que R$ 15,00. Quer dizer: quem ganha salário mínimo vai ter dinheiro apenas para ir e voltar do trabalho durante o mês. Se não trabalhar os 30 dias do mês...
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HiperNotícias – No ritmo em que estão caminhando as obras do Veículo Leve sobre Trilhos em Cuiabá, o senhor, como doutor em Engenharia de Transportes, acha que o novo modal de transporte coletivo entra mesmo em operação por ocasião da Copa do Mundo na capital mato-grossense, conforme tem insistido, com muito otimismo, o governador Silval Barbosa?
Sérgio Magalhães – As obras de intervenção viária em Cuiabá já estão com os cronogramas físicos comprometidos. Todavia, o VLT não deve estar pronto a tempo de ser utilizado para este evento.
HiperNotícias – O VLT, o mais alto investimento da Copa do Mundo em Cuiabá, vai resolver os problemas do trânsito e do transporte coletivo da capital nos próximos 20 anos, como se apregoa nas esferas oficiais?
Sérgio Magalhães – Nós somos uma cidade com menos de 150 mil usuários viajando diariamente de transporte coletivo. Esses passageiros por si só dizem que para se pagar a diferença do atual modelo de transporte para o VLT precisaríamos de mais de dois milhões de usuários/dia.
HiperNotícias – A UFMT recebeu alguma explicação de diretores da Agecopa, que depois virou Secopa, sobre os motivos pelos quais sua administração ou o Governo do Estado não quiseram nem avaliar os inúmeros projetos e também sugestões que a instituição de ensino que congrega os mais competentes profissionais nas mais variadas áreas do conhecimento humano lhes apresentou muito antes de ser iniciadas as obras de mobilidade urbana em Cuiabá para a Copa do Mundo? Quais eram os principais projetos e sugestões da UFMT que poderiam trazer reais benefícios à população?
Sérgio Magalhães – Esta é uma questão que ficará sem resposta, porque só a Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia – Faet cedeu à Agecopa mais de 32 termos de referência.
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HiperNotícias – O senhor tem dito que o VLT é um meio de transporte de exclusão social, pois as camadas da população das classes D e E não vão usufruir do sistema, mesmo que o preço da passagem seja subsidiado. O sistema é tão caro assim?
Sérgio Magalhães – Eis uma questão critica: o VLT levará em torno de 4 bilhões de reais para se instalar. Quem lhe garante que o material rodante não precisará de troca, os motores de corrente continua não precisarão manutenção, que o subsidio do Estado será interminável? Acredito que quando tudo ficar pronto faltará seringas nos postos de saúde e giz nos quadros escolares...
HiperNotícias – Se o VLT é um modal de transporte tão eficiente por que até agora capitais do porte de São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, etc., ainda não investiram nesse sistema?
Sérgio Magalhães – Uma reflexão interessante. São capitais que têm acima de dois milhões de usuários que preferem buscar as custas do transporte de MASSA, como trens, metrôs, o que faz jus aos comentários da segunda pergunta: se vamos usar o transporte de massa banquemos as custas do mesmo.
HiperNotícias – O professor-doutor Luiz Miguel de Miranda, que era do Núcleo de Estudos de Logística e Transporte da UFMT e que se aposentou recentemente, afirmava que o VLT só atingirá seu objetivo se as empresas que atuam no transporte coletivo urbano de Cuiabá conseguirem montar um eficiente sistema alimentador do também chamado “metrô de superfície”. As empresas que já atuam no setor vão fazer a sua parte com eficiência?
Sérgio Magalhães – Eis o modelo que pode ser empregado quando este aglomerado urbano ultrapassar dois milhões de usuários. Não é este o momento.
HiperNotícias – Já tem muita gente reclamando da distância de 400 metros que o usuário do transporte coletivo vai ter que andar sob forte sol ou chuva em dois períodos distintos do tempo em Cuiabá para embarcar ou depois de desembarcar do VLT entre uma estação e outra. A reclamação procede?
Sérgio Magalhães – Os pontos de transbordo, assim como nos pontos de ônibus, tem de permanecer nessas distancias para que velocidade média do VLT possa corresponder a concorrência do transporte individual.
HiperNotícias – Sabe-se que o único VLT que entrou em operação na América Latina até hoje foi o de Medellin, na Colômbia, que acabou virando um monte de ferro velho no centro da cidade. A que se atribui o fracasso do empreendimento colombiano?
Sérgio Magalhães – Ao subsidiar as tarifas desse tipo de transporte o Estado fica com uma despesa incalculável devido à falta de prazo para a resolução do problema. A sociedade local não poderá a curto e nem em médio prazo sustentar a manutenção do VLT e outros agregados da tarifa.
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HiperNotícias – Em recente entrevista ao site HiperNotícias, o ex-prefeito de Cuiabá duas vezes e ex-governador de Mato Grosso, engenheiro civil Frederico Campos, disse com todas as letras que os viadutos construídos em Cuiabá são meras adaptações de outros projetos sem nenhuma inovação. No caso do viaduto da UFMT, ele disse que tem muita coisa errada e que se fosse fiscal da obra não a liberaria. Quais os problemas que a Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia da UFMT detectou nessa obra? É possível repará-los depois ou vão ficar assim mesmo?
Sérgio Magalhães – Sim, é possível a recuperação das falhas, porém com custos extraordinários ao erário. Não nos foram apresentados os projetos finais de engenharia, se eles existissem.
HiperNotícias – O Governo do Estado teria economizado muito dinheiro e garantido segurança para a população se tivesse dado ouvidos ao batalhão de mestres, professores e doutores da UFMT que participaram dos projetos de mobilização urbana encaminhados à Agecopa/Secopa?
Sérgio Magalhães – Acho que o poder instituído deixou de marcar o gol, quando deixou de usar a massa critica da tecnologia da UFMT que daria muita credibilidade à opinião publica.
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Zé da Silva 19/02/2014
Cadê os comentaristas que nos chamavam de "derrotistas", "do contra", "que não gostam de Cuiabá", quando referíamos que quase nada das obras aconteceriam? É por que quando manifestávamos, estávamos cônscios da incompetência, da irresponsabilidade e dos desmandos do poder públicos com o erário público do nosso Estado.
eduardo 17/02/2014
o interessante é que não vi um artigo ou posicionamento publico da instituição ufmt contra a escolha do vlt, só agora na reta final para os jogos da copa do mundo é que acordaram de falhas na escolha ou no cronograma da obra do vlt???tenha paciencia senhorss professores da academia!!!! sou formado em engenharia pela ufmt também, todavia, a contribuição dessa instituição de ensino continua sendo meramente acadêmica, ainda que sua qualidade vem caindo muito nos ultimos anos...
Marcelo Mattos 17/02/2014
Com todo o respeito ao eminente professor, sendo um completo leigo e ignorante em matéria de engenharia, saltava aos olhos desde que mudaram o BRT para o VLT de que a obra escolhida com modal da copa, cujo parecer foi fraudado no Ministério das Cidades em 2011 de que a obra era totalmente inexequível dentro do cronograma estipulado para até o inicio da copa. As suspeitas de propinas, fraude na licitação pelo RDC e outros procedimentos duvidosos nunca ficaram devidamente esclarecidos e iniciou-se uma aventura irresponsável e inconsequente. A maioria dos críticos não acreditava que o VLT seria concluído para a copa, enquanto os gestores e o governador afirmavam que pelo menos o trecho VLT do aeroporto ao Bairro do Porto estaria pronto para a copa. O governador já descartou essa possibilidade e está prometendo para dezembro (de que ano e de qual trecho?). Com que recursos? Usou-se o RDC e os recursos em principio, só estarão disponíveis até a copa. Daí para frente o Governo precisa bancar. Com que fonte de financiamento para os absurdos quase R$ 1,5 bilhões e como o ilustre professor expos o VLT vai ser apenas para os ricos e sem possibilidade de retorno do investimento através da tarifa que será impraticável para o povão. É uma vergonha e como já sugeri, a Assembleia precisa criar imediatamente uma CPI para levantar todas as questões nebulosas envolvidas para não ficar declaradamente conivente com tudo o que está se passando. O povo merece uma explicação e não apenas as promessas irresponsáveis.
Marcus 16/02/2014
Que loucura tudo isso, não...?
4 comentários