O envenamento de uma criança com achocolatado em Cuiabá ganhou repercussão nacional em 2016. A morte do menino de dois anos em agosto, no bairro Parque Cuiabá, na Capital, deixou consumidores em alerta. No entanto, o caso foi mais um registro da violência urbana.
A empresa Itambé, responsável pelo achocolatado Itambezinho, enfrentou problemas, porém, o envenenamento não teve ligação com a linha de produção.
A investigação descobriu, após que não se tratava de um lote vencido ou com defeito de manuseio que causou a morte de uma criança, mas sim uma armadilha feita para pegar um ladrão e acabou atingindo outra vítima.
A criança ingeriu a bebida no dia 25 de agosto, quando seu pai comprou o achocolatado de um rapaz que vendia o produto na rua. O pacote com seis custou R$ 10. Porém, o produto era roubado.
"A vítima do roubo era um comerciante, que cansado de ter produtos alimentícios roubados da sua geladeira, pegou uma seringa e injetou veneno para matar rato na caixa do achocolatado. Ele queria envenenar o ladrão, porém o acusado roubou o produto e não consumiu. Vendeu por R$ 10 para um pai de família que ofereceu para o filho, que morreu algumas horas depois de ingerir a bebiba envenenada", comentou o delegado responsável pela investigação Eduardo Botelho.
Dois suspeitos de participação no caso foram presos. A apuração da polícia revelou que Deuel de Rezende Soares, 27 anos, usuário de drogas e que constantemente subtraía produtos alimentícios de casas e estabelecimentos comerciais da região do bairro Parque Cuiabá, onde morava a família do menino, furtou as caixas de bebidas achocolatadas na residência de Adônis José Negri, 61 anos.
Segundo as investigações conduzidas pela Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica), esta não seria a primeira vez que Deuel furtava o local, tanto que o proprietário da casa teria ameaçado o suspeito na semana anterior ao crime.
"Revoltado com os constantes arrombamentos à sua residência, Adônis arquitetou a vingança. Essa vingança resultou num crime bárbaro. Uma criança perdeu a vida”, ressalta o delegado.
O laudo toxicológico da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), realizado pela Diretoria Metropolitana de Laboratório Forense de Cuiabá, deu positivo para envenenamento nas amostras de achocolatado e no material biológico da criança que morreu após ingerir a bebida.
O exame pericial detectou a presença da substância carbofurano nas cinco caixas. A substância é o princípio ativo encontrado em pesticidas utilizados para controle de pragas em lavouras, e comumente aplicado como veneno de rato. A técnica utilizada pelos peritos foi a Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massas.
"Unindo o histórico da morte da criança que veio a óbito muito rápido, e os sintomas apresentados, juntamente com o laudo da necropsia, tracei uma linha de pesquisa sobre a classe de venenos que poderiam trazer esses efeitos, antes de detectá-los no exame", explicou o perito criminal Diego Viana de Andrade na época do crime.
Adônis foi autuado por homicídio qualificado com emprego de veneno, já que um amigo da família do menino também foi hospitalizado internado após ingerir a bebida.
Já Deuel vai responder por furto qualificado. Adônis conseguiu na Justiça o direito de cumprir em liberdade o período processual. Ele ficou preso por alguns dias no Centro de Custódia de Cuiabá e foi liberado durante uma madrugada, pois ainda sente medo da sociedade “fazer Justiça com as próprias mãos”.
A criança morreu no dia 25 de agosto na Policlínica do Coxipó, para onde foi levada com parada cardiorrespiratória.
Posicionamento do fabricante
Em nota, na época dos fatos, a Itambé, fabricante do produto, informou que com a prisão dos dois suspeitos de envenenamento ficou esclarecido que o produto Itambezinho não estava contaminado.
"A Itambé reforça que desde o dia 25/05, data de fabricação do lote em questão, já foram comercializadas mais de 5 milhões de unidades e não foram registradas reclamações de nenhuma natureza. A empresa lamenta o ocorrido, se solidariza com a dor da família e reforça seu compromisso com os consumidores brasileiros ao entregar produtos da mais alta qualidade", diz trecho da nota.
Silêncio
A reportagem procurou os pais do menino que morreu envenenado, porém eles preferiram não comentar sobre o assunto. “Vamos aguardar a Justiça. Por enquanto não queremos falar sobre o caso”, disse um representante da família.
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