A ciência faz o espetáculo no novo Teatro da UFMT

Espaço é detem a 10ª melhor acústica do país, suplantando o Teatro Nacional de Brasília

DANIEL MORITA / FAPEMAT CIÊNCIA

Inaugurado em 1982, o Teatro da UFMT [Universidade Federal de Mato Grosso] foi desenhado pelo mundialmente reconhecido arquiteto Igor Sresnewsky, especialista em acústica. O espaço alcançou a posição de 10ª melhor acústica do país, superando, por exemplo, o Teatro Nacional de Brasília.

Em 2012, com 30 anos de idade, o Teatro entrou em reforma. A maior de sua história. Foram dois anos e R$ 8 milhões para reparar, modernizar e melhorar o espaço, sem alterar o projeto inicial. A responsabilidade de refazer um dos melhores espaços acústicos brasileiros ficou a cargo de Denilson e Anibal Marques.

João Conceição/ASCOM-UFMT

Teatro da UFMT reabre as portas incorporando a tecnologia no projeto original de Igor Srenewski

Para quem pensa que criar um espaço acústico é colocar umas caixas de ovos nas paredes e pronto, aqui vai um pouco de realidade. “Esse é um trabalho quase artesanal, e a gente também precisa conhecer muita coisa, são muitos cálculos”. Medições, análises, simulações computacionais, inúmeras contas. Tudo isso faz parte do trabalho do ‘acoustic designer’.

Eles contam que o longo tempo de trabalho não foi à toa. “É diferente trabalhar em cima de um projeto que já existe. Foi quase um mês só para rever o projeto, corrigir as medidas, ver fotos e vídeos antigos do início do teatro”. Junto com os cuidados detalhistas, vem o material. A madeira especialmente tratada não muda com o clima, não quebra tão fácil, não causa alergias. As portas acústicas refletem o avanço da tecnologia. Portas finas com o mesmo efeito das antigas placas de 60, 70 cm. Até a tinta usada interfere nas ondas sonoras.

Nós não vemos as ondas, então pode ser difícil perceber a diferença. Pelo menos até entrar no local. A entrevista com Denilson e Aníbal aconteceu no meio do teatro, em pleno ensaio da orquestra. Era possível apreciar a música e a conversa ao mesmo tempo.

Daniel Morita / Fapemat Ciência

A orquestra toca dentro de um fosso, que projeta um som a 20 metros de altura para ser espalhado aos ouvintes

Tudo isso sem esquecer a beleza visual, o conforto e acessibilidade tanto dos artistas quanto da plateia. E, em tempos de sustentabilidade, por que não se preocupar com isso também? Materiais reflorestados e reciclados formam hoje grande parte do que se vê no teatro. A iluminação também mudou, usando lâmpadas de LED, mais econômicas. O sistema de iluminação do palco também ganhou novos personagens, e vai permitir produções mais elaboradas.

Isso significa que o planejamento acústico deve ser feito em conjunto com todo o projeto, exigindo do designer conhecimento em diversas áreas. Apesar disso, a formação desse profissional, até então, tem sido apenas técnica. Em 2009 foi criado, na Universidade Federal de Santa Maria [UFSM], a primeira graduação nesta área. Para quem trabalha no ramo, isso significa basicamente que o aprendizado acontece na prática, e quase não há novas pesquisas no assunto.

Para os técnicos em acústica, a UFMT possui o único espaço que pode ser chamado de teatro no Estado, já que outros lugares foram adaptados a partir de outras salas, e não planejados e construídos como teatros. Isso reforça a importância do Teatro da UFMT no cenário cultural mato-grossense. O espaço, que já recebeu grandes espetáculos no passado, reabriu as portas no aniversário da UFMT, com apresentações de orquestra e balé.

Daniel Morita