Mayke Toscano |
Perdi dois amigos em uma semana. Primeiro foi o Seu Júlio Bezerra, velho camarada do PCdoB, de origem operária, sábio em sua simplicidade, carinhoso na sua reprimenda, firme em seus propósitos de manter-se leal ao que aprendera como certo e errado em matéria de política, de valores de vida, de comportamentos. Depois veio o Franco Querendo, parceirinho novo, mas igualmente irrepreensível no modo de lidar com os amigos e companheiros, consigo próprio e com suas convicções.
Seu Júlio eu conheci antes me mudar para Cuiabá, nos primeiros contatos com o PCdoB da capital. Em meio a todas as polêmicas intermináveis que vivíamos no partido, Seu Júlio era sempre o meio termo, a ponderação, tentando conciliar a todos, como se não encontrasse motivos para tantas divergências, já que todos – tão poucos! – deveriam ter mais convergências ali. O sábio Seu Júlio - embora provavelmente fosse a pessoa menos escolarizada ali naquele ambiente.
Já com o Franco, que conheci nos anos 90, a relação era inversa. Era ele o mais jovem, mais cheio de curiosidade, iniciante, mas atrevido no modo de se colocar, como quem demonstrava mais ousadia que conhecimento naqueles lindos anos de militância no movimento estudantil. Sempre ele e sua Joana. Sempre.
Depois de convivências intensas com um e outro por um período, com o tempo Seu Júlio e Franco foram se tornando pessoas vistas com menos frequência por mim. Um encontro aqui, outro ali, esbarrões casuais nas esquinas do tempo. Mas, em cada um desses momentos dava para sentir o afeto e a fraternidade com que me devotavam. Espero desesperadamente que eles também tenham tido a mesma sensação a meu respeito. Mesmo que não tenham sentido todo o meu afeto, fraternidade e respeito por eles, era isso que lhes devotava também.
Seu Júlio partiu de modo natural, aos 77 anos, depois de uma parada cardíaca no último sábado (2). Nunca nos conformamos com a perda de um ente querido, em nenhuma circunstância. Mas, algumas nos revoltam mais. É o caso do Franco: morto precocemente nesta quinta (7), aos 38 anos, quando tentava retirar um estepe de uma caminhonete, e um caminhão colidiu-se a ela numa estrada no meio do nada. Isso não parece crível, simplesmente.
Sua cunhada, Bete, me disse que, segundo os amigos que o acompanhavam no momento do acidente, quando o pneu do carro furou o dono da caminhonete tentou retirar o estepe. Ao ver a dificuldade do amigo, Franco teria se oferecido para a tarefa, dizendo-lhe “deixa eu tentar, isso é serviço de homem!”. Assim era o Franco, com um fino humor, mesmo em situações inusitadas.
Nisso Franco era contemporâneo do Seu Júlio, embora um tivesse a metade da idade do outro: ambos viviam de um modo tão especial e alegre que, quando partiram, deixaram um buraco na nossa existência, que tentaremos preencher doravante com as boas lembranças que guardamos da nossa convivência. Agradeço por tê-los conhecido, saúdo suas existências e choro as suas perdas! Até sempre, amigos!
(*) KLEBER LIMA é jornalista e Diretor Geral de HiperNoticias.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
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