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Artigos Segunda-feira, 06 de Outubro de 2025, 11:02 - A | A

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Segunda-feira, 06 de Outubro de 2025, 11h:02 - A | A

JOÃO EDISOM

Mato Grosso e a crise da representação

“Sem Lideres e sem Autonomia Partidária a Política de Mato Grosso vive entre a Paixão e o Ódio”.

JOÃO EDISOM

A filosofia política e a ciência política oferecem ferramentas sólidas para compreender os fenômenos que corroem a autonomia de um Estado. Em Mato Grosso, observa-se um cenário em que os fundamentos clássicos da representação democrática parecem fragilizados, substituídos por paixões políticas importadas do debate nacional e pela ausência de partidos fortes e enraizados no território.

Aristóteles, em sua Política, descrevia o homem como um “animal político” que encontra na polis o espaço natural para o exercício da cidadania. Contudo, a prática política em Mato Grosso distancia-se desse ideal. O Estado não tem consolidado partidos capazes de representar os interesses regionais; ao contrário, vive sob constante interferência externa, seja pela influência direta do bolsonarismo, seja pela polarização em torno de Lula e do PT.

O resultado é que as eleições não têm se pautado pela defesa de projetos de desenvolvimento para Mato Grosso, mas sim por afetos, ora de amor, ora de ódio. Hannah Arendt alertava que a política perde sua essência quando se torna refém das paixões, pois deixa de ser espaço de ação coletiva e se converte em mero palco de disputa de poder.

A ausência de partidos fortes desarticula a construção de uma identidade política estadual. Os exemplos são reveladores: dos senadores eleitos, apenas Jayme Campos conserva alguma identidade própria, ainda que sem um partido estruturado que lhe dê suporte. Wellington Fagundes perdeu parte significativa de sua identidade política, diluído em alianças circunstanciais e bajulação oportunista.

No caso da senadora Margareth Buzetti, a situação é distinta: por ser suplente, ainda não carrega a mesma obrigação de construir uma identidade de partidária vinculada ao Estado. Sua presença no Senado decorre mais de circunstâncias políticas do que de um processo direto de legitimação pelo voto popular.

No campo da Câmara dos Deputados, a situação é ainda mais estapafúrdia. Muitos parlamentares não chegaram ao cargo pela defesa de causas ligadas ao Estado, mas por vínculos externos. Amália Barros, por exemplo, recém-chegada a Mato Grosso, fez de sua principal bandeira a amizade com Michele Bolsonaro. Essa lógica não é exceção, mas regra: a legitimidade dos representantes nasce não do vínculo com as necessidades locais, mas da projeção de figuras nacionais, na maioria apenas de conveniência.

Rousseau defendia que a soberania popular só se realiza plenamente quando a vontade geral se orienta para o bem comum. No entanto, o eleitorado mato-grossense parece aprisionado por uma lógica de paixões políticas que pouco dialoga com a realidade regional. O voto deixa de ser racional e programático para se converter em instrumento de amor ou ódio, seja contra Lula e o PT, seja contra Bolsonaro.

Essa dinâmica gera um vácuo de identidade política. O Estado, ao perder partidos fortes e lideranças comprometidas com a realidade local, perde também sua autonomia. Passa a depender da pauta nacional, ditada por líderes como Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto e Lula, que definem, em última instância, quais nomes estarão à disposição para o eleitorado daqui.

A consequência é clara: Mato Grosso corre o risco de continuar andando à deriva no cenário nacional. Sem representantes legitimados pela defesa de interesses regionais, o Estado se torna um coadjuvante no jogo político, reduzido a território de reprodução da polarização ideológica brasileira.

Como advertia Montesquieu, a liberdade política exige equilíbrio e autonomia entre as partes constitutivas do poder. Quando esse equilíbrio se rompe, a representação degrada-se e o povo perde sua verdadeira capacidade de decisão.

Mato Grosso precisa reencontrar sua identidade política. Isso exige partidos sólidos, lideranças enraizadas na bisca de soluções práticas e um eleitorado disposto a olhar além das paixões nacionais. Caso contrário, continuará a ser governado de fora para dentro, sem protagonismo, sem autonomia e sem voz própria no concerto da federação.

(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista político e professor universitário.

 

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