Hoje, um boato plausível nasce de poucas linhas e segundos de voz; a inteligência artificial o transforma em vídeo crível, amplia por enxames de bots e o entrega milimetricamente a públicos vulneráveis. Quando o desmentido chega, a percepção já se cristalizou. Blindagem, portanto, não é censura nem improviso: é método. É desenhar processos, treinar pessoas e aplicar tecnologia para reduzir a superfície de ataque, encurtar janelas de exposição e proteger o que há de mais valioso em política — reputação, autoridade e agenda.
Na minha palestra “A Complexa Arte da Blindagem”, no IMERSÃO 360, defendi três movimentos que diferenciam quem atravessa tempestades de desinformação: detecção precoce, validação rápida e resposta proporcional com lastro. As primeiras 6 a 12 horas após um ataque definem se um rumor vira narrativa. Responder bem exige banco de fatos e evidências auditáveis, porta-vozes preparados, canais próprios mobilizados e, quando necessário, acionamento jurídico cirúrgico. Nada de “lacrar”; é corrigir, contextualizar e provar.
A ameaça escalou. Deepfakes com sincronização labial perfeita, clones de voz gerados com 30 segundos de amostra, textos hiperpessoais produzidos em massa e campanhas de astroturfing que fingem organicidade derrubaram o custo do ataque — enquanto explodiu o custo de não se proteger. Por isso, a blindagem começa antes da crise: cartografia de vulnerabilidades do candidato e da equipe, higiene digital inclusive de familiares, governança de dados, protocolos de segurança da informação, simulações periódicas de crise e um war room mínimo viável com monitoramento 24/7. Métricas importam: tempo de detecção, tempo de resposta, participação negativa de voz e taxa de neutralização.
No exercício do mandato, a blindagem é prestação de contas proativa e comunicação de resultados com consistência, reduzindo espaço para distorções. Em campanha, é ter playbooks por tipo de ataque — moral, jurídico, programático —, parcerias transparentes com imprensa e plataformas, e capacidade de reendereçar a pauta sem amplificar o ataque (cuidado com o efeito Streisand). Exemplos recorrentes incluem vídeos adulterados em contextos sensíveis, falsos prints de mensagens, áudios clonados e “pesquisas” apócrifas empacotadas para viralizar em grupos locais.
Em “A Delicada (ou não) Arte da Desconstrução Política”, aprofundo um método integrando inteligência, comunicação e jurídico, com mapas decisórios que evitam respostas impulsivas e padronizam o que fazer minuto a minuto. Trago estudos de caso, checklists de prontidão, matrizes de risco e exercícios de mesa que preparam equipes para lidar com conteúdo sintético e ataques coordenados — do pré-lançamento à reta final.
O próximo pleito será o primeiro em que conteúdos artificiais praticamente indistinguíveis do real estarão massificados. Sem blindagem, a conta chega em três linhas: pauta sequestrada, base desmobilizada e indecisos assustados. Com blindagem, o disparo adversário vira ruído controlável, preservando autoridade e foco em propostas e entregas. O relógio já corre: é hora de auditar processos, treinar porta-vozes, montar a capacidade mínima de proteção e colocar o método em prática. Democracia decide melhor quando a verdade chega primeiro.
(*) MARCELO SENISE é Marqueteiro Político, especialista em IA aplicada a comunicação politica, Presidente do IRIA (Instituto Brasileiro para Regulamentação da IA)
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