Os índices de aprovação dos prefeitos de Mato Grosso, ao final do primeiro ano de mandato, oferecem mais do que números frios: revelam uma lição elementar da política municipal. Para o cidadão, interessa pouco o debate ideológico abstrato ou o discurso inflamado de campanha. Ao município, importa antes de tudo o terreiro de sua casa e as ruas por onde transita todos os dias.
Levantamento da Trackking Pesquisas, mostra que narrativas ideológicas, muitas vezes caricatas, podem até funcionar como estratégia eleitoral. No entanto, passado o pleito, essas mesmas narrativas mostram-se frágeis quando confrontadas com a realidade da gestão pública. Governa-se menos com palavras de ordem e mais com soluções concretas para problemas básicos.
A filosofia política ajuda a compreender esse descompasso. Hannah Arendt já advertia que o poder legítimo não reside apenas na figura do governante, mas na coletividade que ele representa. Em termos práticos, isso significa que a autoridade do prefeito se sustenta na capacidade de responder às necessidades quotidianas da população: água a correr nas torneiras, lixo recolhido, ruas transitáveis, postos de saúde a funcionar, escolas minimamente estruturadas.
É neste ponto que muitos discursos se desfazem. Os elevados índices de desaprovação registados em capitais como Cuiabá e municípios como Várzea Grande (Flavia Moretti com aprovação de apenas 38,2%) expõem a fragilidade de gestões ancoradas mais no populismo do que na execução. A promessa grandiosa perde valor quando a realidade quotidiana permanece intocada. Como lembrava Zygmunt Bauman, na sua análise da “modernidade líquida”, as promessas tornam-se rapidamente descartáveis quando não encontram correspondência na vida real.
Em contraste, outros prefeitos inclusive do mesmo partido exibem taxas de aprovação superiores ao número de votos obtidos nas urnas (Claudio Ferreira Rondonópolis com aprovação de 72.8%). O motivo é simples: entregam resultados. A população reconhece quando há gestão, ainda que sem pirotecnia ideológica. Karl Popper ajuda a sintetizar essa lógica ao afirmar que teorias que não se submetem ao teste da realidade pertencem mais ao campo da política do que ao da verdade. Na administração pública, prometer é fácil; executar é o verdadeiro critério.
É claro que os prefeitos enfrentam limites estruturais: burocracia, escassez de recursos, dependência de outras esferas de poder. Pierre Bourdieu lembrava que toda prática social dialoga com as estruturas que a condicionam. Ainda assim, a habilidade política de construir consensos, articular parcerias e dialogar com a sociedade faz toda a diferença entre a paralisia e o avanço possível.
Isso mostra que o governo que ignora o quotidiano do cidadão perde o sentido da própria política, pois é na rua, e não no discurso, que se mede a legitimidade do poder.
No fim das contas, os números de aprovação em Mato Grosso reforçam uma máxima antiga, mas frequentemente esquecida: ideologia não tapa buraco, não ilumina rua e não recolhe lixo. A avaliação de um prefeito passa, inevitavelmente, pela forma como ele cuida do espaço mais imediato da vida do cidadão o quintal da sua casa e as ruas por onde ele caminha. É aí, e não nos palanques, que se decide o sucesso ou o fracasso de uma gestão.
(*) JOÃO EDISOM DE SOUZA é Analista político e professor universitário.
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