Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue”
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Com essa ação antidemocrática as forças da reação interromperam uma experiência democrática e popular que se iniciava em nossa pátria, sob o comando de João Goulart, e que dava os primeiros passos rumo à implantação de “reformas de base” importantes para o desenvolvimento do nosso país e para a melhoria do bem estar de povo.
Entre elas destacavam as reformas bancária, fiscal, urbana, eleitoral, agrária e educacional. Defendia-se também o direito de voto para os analfabetos e para os militares de patentes subalternas, bem como a ampliação da democracia, com a legalização dos partidos clandestinos. Além disso, eram propostas medidas de corte nacionalista, com maior intervenção do Estado na vida econômica e maior controle dos investimentos estrangeiros no país, mediante a regulamentação das remessas de lucros para o exterior.
Sob o argumento falicioso da “luta contra o comunismo e contra a corrupção”, com farto financiamento dos EUA aos golpista, inclusive o financiamento da CIA para a tal “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade” organizada pelo setor conservador e reacionário da Igreja Católica, recentemente denunciada por Frei Beto em entrevista ao portal UOL, além do apoio incondicional da imprensa hegemônica da época (ancestrais do PIG – Partido da Imprensa Golpista atual), os golpista praticamente não enfrentaram reação das forças democráticas e populares, sobretudo porque muitos, inclusive o partido comunista, não acreditavam na possibilidade de um golpe e, portanto, foram pegos de surpresa e imediatamente dominados e sufocados.
Nos 21 anos do Regime Militar o que prevaleceu foi a censura, tortura, assassinatos e desaparecimento de opositores, repressão sistemática aos movimentos sociais e à população, supressão das liberdades democráticas, supressão das eleições diretas, fechamento do Congresso Nacional, intervenções em sindicatos e outras organizações populares, entre outras arbitrariedades.
Mesmo que a reação ao Golpe tenha sido frágil, ressalto a coragem e a bravura de algumas dezenas de jovens e intelectuais “da esquerda” que, aqui em Mato Grosso, decidiram não se dobrar ante a fúria golpista. No dia do próprio Golpe, há registro de uma histórica reunião desses militantes rebeldes, ocorrida no antigo “Campo de Ourique” (atualmente Praça Moreira Cabral, onde está localizada a Câmara Municipal de Cuiabá), onde repudiaram o Golpe e cerca de duas dezenas desses participantes decidiram “resistir com armas”, dirigindo-se para do Vale do São Lourenço, região da Jaciara e Dom Aquino.
Entre eles destaco os irmãos Reiners (Carlos Reiners e Juscelino Reiners), Antonio Antero de Almeida (advogado), Silva Freire (professor, poeta, jornalista), Wilson Lemos (advogado e poeta); Ronaldo de Castro (jornalista e poeta), Edgar Nogueira Borges (advogado) José Anibal de Souza Bouret (advogado e professor universitário), Agrícola Paes de Barros (médico e ex-deputado federal), Amorésio de Oliveira (ex-deputado estadual e jornalista), Enedindo Machado (sindicalista rural), Valdemar Baloque Alvaro Benedito (capitão do exército), Erculano Barbosa Lima, todos já falecidos; além de Jota Alves (jornalista), Zoroastro Teixeira (advogado), Carlos Gomes Bezerra (deputado federal e ex-governador, na época presidente da ACES – Associação Cuiabana dos Estudantes Secundaristas); Nilo Ponce de Arruda Filho (ex-tesoureiro dos Correios), entre outros, ainda vivos e atuantes,
Em que pese que essa “resistência” efetivamente não tenha confrontado diretamente com as forças golpistas, em virtude do assassinato de um oficial do exército (no dia do próprio Golpe) que seria o encarregado de trazer as armas de Campo Grande para a resistência, há de se ressaltar a bravura e determinação daqueles jovens rebeldes, o que os transformam, mesmo com uma atitude aparentemente inconseqüente, em “símbolo da resistência” ao Golpe Militar e à Ditadura implantada.
Posteriormente, após sucessivas ações de resistência e de inconformismo, algumas de menor dimensão (a exemplo da “Resistência do Vale do São Lurenço”) e outras de maior envergadura (a exemplo da Guerrilha do Araguaia), foram-se construindo as condições políticas que determinaram a superação do regime ditatorial, cujo sepultamento se deu no Colégio Eleitoral, instrumento do próprio regime ditatorial, com a derrota do candidato Paulo Maluf, apoiado pelos militares defensores do Golpe, para o candidato Tancredo Neves, numa ampla coalizão de forças políticas defensoras da volta da democracia.
Portanto, mesmo com todas as fragilidades, os jovens rebeldes de Mato Grosso de 64, que ousaram resistir, merecem total respeito e admiração de todos os democratas e patriotas!
*MIRANDA MUNIZ é agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça-avaliador federal e secretário sindical do PCdoB-MT
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