Você consegue contar até 61?
Tente.
Agora imagine cada número como um soco. Foi exatamente isso que uma mulher viveu, dentro de um elevador, sem chance de fuga, sem direito à defesa. 61 golpes covardes desferidos por um homem contra sua companheira. O rosto desfigurado, o corpo marcado, e a alma ferida. O vídeo da agressão chocou o país, mas, mais do que choque, deveria causar indignação permanente. Porque esse não é um caso isolado. É parte de uma estatística crescente e assustadora.
Ser mulher no Brasil é viver em constante estado de alerta. É atravessar a rua com medo, desconfiar do próprio parceiro, e, muitas vezes, não encontrar amparo nas instituições que deveriam protegê-la. A cada dia, novas notícias de agressões, estupros, ameaças e feminicídios ocupam os noticiários como se fossem apenas números. Mas por trás de cada número, há uma vida interrompida, uma história silenciada.
O último Anuário de Segurança Pública reforça o que já sabemos, ou fingimos não saber: o Brasil é um país extremamente violento para as mulheres. O estado do Mato Grosso, por exemplo, lidera o ranking de feminicídios e casos de violência doméstica. Isso não é acaso.
É consequência de uma cultura doentia de posse, de controle, de machismo enraizado. Uma cultura que ainda normaliza agressões e tenta justificar o injustificável.
Até quando as mulheres terão negado o direito de viver livres, seguras e respeitadas? Até quando vamos tolerar o silêncio conivente diante da violência? É urgente que políticas públicas eficazes sejam implementadas e fiscalizadas. É urgente que o Estado, a Justiça e a sociedade se unam para combater essa epidemia de ódio.
Precisamos romper com essa lógica perversa. Precisamos de leis mais duras, sim. Mas, sobretudo, precisamos de educação. Uma transformação cultural que ensine desde cedo que mulher não é propriedade, que amor não machuca, que violência não se justifica. Que ninguém, em hipótese alguma, tem o direito de tirar de uma mulher o direito de viver plena, livre e segura.
Sessenta e um socos. Essa mulher sobreviveu. Mas quantas não sobrevivem para contar?
61 socos. Não é só um número. É um grito por socorro
Que a dor dela não seja apenas manchete passageira. Que seja o impulso para uma mudança urgente. Porque a pergunta que fica é: quantas mais precisarão cair até que o Brasil diga basta?
(*) KEROLAYNE CHAVES é Jornalista.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
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