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Cuiabanália Domingo, 24 de Novembro de 2013, 11:30 - A | A

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Domingo, 24 de Novembro de 2013, 11h:30 - A | A

CUIABANÁLIA

Maria Taquara, o mito dos mitos de Cuiabá

Mulher revolucionária, desafiadora dos padrões sociais da sua época

NELSON SEVERINO





Durante muitos anos, ao longo da sua quase tricentenária história, Cuiabá foi convivendo, às vezes numa mesma época, com os mais diferentes tipos humanos que passaram a fazer parte do seu cotidiano, acabaram virando verdadeiros mitos da cidade e cujas lembranças a ferrugem do tempo não apaga.

Ninguém sabe de onde eles vem. Ou sabe-se, sim! Em muitos casos são seres humanos que prefeitos desumanos não querem em suas cidades, pelos mais diversos motivos, e têm uma saída: mandá-los para outras localidades, de preferência bem distantes, para que não possam voltar pelas suas próprias pernas às suas origens.

Cuiabá teve vários desses mitos: Maria Taquara, Zé Bolo Flô, Antonio Prequeté, O Cabecinha, o General Saco. Cada um com suas características físicas e pessoais que os tornaram figuras notáveis incorporadas ao dia-a-dia da cidade.

Maria Taquara foi uma desafiadora dos padrões sociais da sua época; Prequeté, com uma bengala que batia incessantemente ao chão, vivia correndo atrás da meninada que o desafiava com a trova “Prequeté, tira bicho do pé pra comer com café”; Zé Bolo Flô era compositor e poeta; O Cabecinha, com sua pequenina cabeça e o General Saco, com seu coturno até o joelho e sua túnica branca repleta de medalhas que lhe cobria o peito, como se ele fosse mesmo um militar de alta patente...

Marcos Lopes/HiperNotícias

Mulher revolucionária do seu tempo, com quebra de padrões, Maria Taquara é nome de praça em Cuiabá

Nome de praça no centro de Cuiabá, com direito a escultura, tema de carro alegórico e samba-enredo de escola de samba nos bons tempos do carnaval de rua da Capital, cantada em prosa e verso, nome até de bordel – do que ela reclamou ao se manifestar em um centro espírita da cidade – Maria Taquara é considerada o mito dos mitos que os cuiabanos conheceram.

Maria Taquara de que? Ninguém nunca soube. De onde veio? Acredita-se, pelo seu sotaque quando falava, que era nordestina, embora seu tipo físico – ela tinha cerca de 1,8 metro de altura – contrarie essa suspeita, pois os nordestinos em geral são de baixa estatura.

SEM FILHOS

Quem conheceu Maria Taquara, que viveu em Cuiabá entre as décadas de 50 e 60, afirma que à época ela devia ter entre 30 e 40 anos. Apesar de sua intensa atividade sexual – diz a história do pouco que se conhece sobre sua vida –, Maria Taquara nunca teve filhos.

Autor de vários livros, principalmente sobre lendas, “causos” e contos de Mato Grosso, o escritor Aníbal Alencastro conheceu Maria Taquara quando servia o Exército no 16º Batalhão de Caçadores. Ela vivia de lavar e passar para algumas famílias de Cuiabá e por isso andava sempre com uma trouxa de roupas na cabeça.

Marcos Lopes/HiperNotícias

Muitos conhecem a praça com seu nome, mas poucos sabem sua história...

Recorda Alencastro que quando não estava trabalhando, Maria Taquara passava horas sentada nas imediações da antiga sede do Banco do Brasil na avenida Getúlio Vargas, onde funcionou depois uma agência do Banespa e hoje é uma loja de confecções.

Talvez pelo seu porte físico, ninguém, nem mesmo os moleques mais zombeteiros da época, tirava farinha com ela.

MULHER REVOLUÇÃO

Maria Taquara, cujo apelido tem a ver com o comprimento do bambu, desafiava diariamente os padrões da época: foi a primeira mulher a andar de calças compridas pelas ruas de Cuiabá, fumava charuto e cigarro de fumo de corda que ela mesma preparava e tomava pinga. Pinga mesmo! Inclusive nos botecos da moda de Cuiabá.

Esse comportamento de "fora dos padrões" levava muitas mulheres a olhar Maria Taquara de rabos de olho. E homens também.

Quando em 1989 foi inaugurada a estátua de bronze de Maria Taquara – esculpida pelo artista plástico Haroldo Tenuta, bancada pela família de João Celestino Corrêa da Costa, o João Balão – o prefeito Frederico Campos não foi convidado para a solenidade. E se tivesse sido, não iria.

"A Maria Taquara não tinha nada que pudesse servir de exemplo para a população cuiabana. Com tantas personalidades que merecem ser lembradas, homenagear esta mulher que quando era chamada de Maria Taquara reagia com palavrões...", afirma ao HiperNotícias o também ex-governador Frederico Campos.

MARIA TAQUARA CAUSOU A PRISÃO DE MUITOS SOLDADOS DO 16º BC

A pecha de cortesã (prostituta de luxo) que macula o nome de Maria Taquara parece que não procede. Até porque ela tinha preferência por soldados, que não tinham dinheiro para pagar seus “serviços”, diz quem a conheceu.

Mas dizem também que gente endinheirada e até oficias de alto coturno aproveitavam a escuridão da noite para fazer visitas furtivas a Maria Taquara...

Lembra Aníbal Alencastro que a primeira moradia dela em Cuiabá era na estrada do Ribeirão, que dava acesso à Nossa Senhora da Guia, onde ele nasceu e se mudou ainda criança para a Capital. Era um casebre de adobe, coberto com folhas de palmeiras..

Tempos depois, Maria Taquara mudou-se para os fundos do então 16º Batalhão de Caçadores, transformado com a criação da Brigada de Infantaria Motorizada (BIM), no início da década de 80, no 44º BIM.

O barraco de Maria Taquara ficava nas proximidades da cavalariça do BC. E ela foi a causa da prisão de muitos soldados, conforme lembra Alencastro, que prestava serviço na unidade.

Murjaci de Souza Nunes

Escritor Aníbal Alencastro conta um pouco da história de Maria Taquara que muitos cuiabanos atuais desconhecem

Acontecia o seguinte: os soldados que estavam de plantão à noite em pontos estratégicos, aproveitavam a escuridão para pular o muro e ir transar com Maria Taquara.

O “tenenteante”, o oficial que fazia as rondas noturnas, só ia recolhendo os mosquetões dos soldados que haviam deixado seus fuzis encostado no muro, que pulavam com facilidade, para ir, um por vez, para o barraco de Maria Taquara.

Todos os dias, às 16 horas, soldados e oficiais eram reunidos numa área específica do 16º BC, para leitura do boletim oficial do dia. O boletim era constituído de 4 partes e o último item se referia à “disciplina e justiça”.

Quando o oficial que fazia a leitura do boletim anunciava o nome de quem havia deixado o fuzil encostado no muro, o soldado já sabia: “cadeia...”, por abandono do posto. As prisões por causa de Maria Taquara tornaram-se tão rotineiras que ninguém estranhava mais....

O refrão do samba-enredo que enalteceu Maria Taquara no carnaval da década de 80 e explodiu na boca do povo na avenida Mato Grosso “De dia Maria Taquara, de noite Maria meu bem...” pode ter sido copiado da bela poesia que Moisés Mendes Martins Júnior fez em homenagem a esse mito dos mitos de Cuiabá:


"Maria Taquara, Maria meu bem.

Mulher de todos, que não é de ninguém.

Taquara de dia, de noite meu bem,

Maria Taquara, não é de ninguém.

Muié de sordado, de meganha também.

De dia Maria, de noite meu bem.

Maria é Cuiabá, Cuiabá é Maria

Não importa se é noite, não importa se é dia.

Maria é Taquara,

Taquara é Maria,

Avançada no tempo,

Mulher fantasia”.


(Moisés Martins)

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Marilza Arruda 27/11/2013

Achei a reportagem um pouco celebrativa demais. Acredito que seja importante para o povo cuiabano conhecer essas histórias, pois são personagens que estão no folclore popular, mas não devem ser tratados com exaltação, pois pelos fatos apresentados não merecem ser cultuados.

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Marcello Garcia 27/11/2013

General Saco não andava de túnica branca, como dito na reportagem. Era uma túnica caqui, suja e mulambenta, que raramente, ou nunca, era lavada. O saco às costas continha um monte de coisa inútil, e que ele carregava prá cima e prá baixo. Quanto aos demais, concordo com o Sr. Hans Mayer. Zé Bolo Flor ,realmente, nada tem prá ser cultuado, a não ser por algumas composições musicais. Há outras personagens dessa época que merecem citação, mas é necessário que o repórter se informe um pouco mais sobre os mesmos. Valeu a intenção. Em tempo: era ANTONIO PETETÉ.

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Hans Mayer 27/11/2013

Nem Maria Taquara, nem Zé Bolo Flor são exemplos a serem seguidos, muito menos cultuados como personagens "miticos" de Cuiabá. Zé Bolo Flor era um tarado que vivia cercando as moças nas ruas e praças para passar a mão. Quanto aos demais, Antonio PETETÉ, e não Prequeté, como publicado, não "corria" atrás de ninguém, até porque era manco e andava com dificuldade, abanando um inseparável leque, e sempre dizendo que "adorava menininho do tolégio (isso mesmo, tolégio) dos padres. Mas, neste Brasil varonil,onde tudo que é ofensivo é copiado, nada há para estranhar.

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renato 26/11/2013

Parabéns ao jornalista Nelson Severino. Simplicidade e propriedade com as palavras. Muito bom conhecer os bastidores e as histórias dessa cultura popular. Ao ler um pouco sobre sua trajetória vi que já morou pertinho da minha terra no Paraná. Sou de Uraí, vizinha de Cornélio Procópio e Sertaneja.

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Marcos 24/11/2013

faltou falar como ela morreu? Se ela viveu nos idos de 50 e 60, por que não há fotografia dela?

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5 comentários

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